quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Comentários sobre a obra A Falácia Socioconstrutivista, de Kátia Benedetti

 

Comentários sobre a obra "A falácia socioconstrutivista: por que os alunos brasileiros deixaram de aprender a ler e escrever", de Katia Simone Benedetti, 2020.


Na obra A falácia socioconstrutivista: por que os alunos brasileiros deixaram de aprender a ler e escrever, lançada em 2020 pela Editora Kirion, a professora Kátia Benedetti apresenta uma crítica rigorosa ao domínio do socioconstrutivismo na educação brasileira, sobretudo no ensino da leitura e da escrita. Desde o prefácio, o neuropsicólogo Vitor Haase denuncia a adoção de práticas pedagógicas fundamentadas mais em ideologias do que em evidências científicas, apontando a necessidade de resgatar o ensino com base na ciência cognitiva.

Benedetti sustenta que, sob a hegemonia do socioconstrutivismo e do relativismo pedagógico, a alfabetização foi substituída por abordagens centradas no que se denominou letramento e multiletramento, que priorizam o contexto social e os gêneros textuais em detrimento da aprendizagem técnica do código alfabético. Esse deslocamento, argumenta a autora, comprometeu o acesso pleno à linguagem escrita, especialmente para os alunos socialmente desfavorecidos, que dependem da escola como principal fonte de instrução.

Ao revisar criticamente a apropriação das teorias de Piaget e Vygotsky, Benedetti mostra como esses autores foram reinterpretados para justificar a rejeição da instrução direta, promovendo uma pedagogia que exalta a autonomia precoce do aluno e marginaliza o papel estruturante do professor. Essa visão, amplamente difundida nas licenciaturas, dificultou a formação docente voltada ao ensino sistemático da leitura e da escrita.

O cerne da argumentação da autora se apoia em pesquisas da neurociência cognitiva, especialmente nos trabalhos de Stanislas Dehaene[1], que demonstram que a leitura não é uma habilidade espontânea, mas uma construção que requer o desenvolvimento da consciência fonêmica e a correspondência entre sons e letras. Ignorar essa base biológica, segundo Benedetti, resultou na generalização de métodos ineficazes e na perpetuação de desigualdades educacionais.

A autora também critica o conteúdo e a organização dos currículos escolares, como os estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por anteciparem competências interpretativas antes do domínio do código. As práticas pedagógicas decorrentes, como a escrita espontânea, a exposição precoce a textos complexos e o desprezo pelo ensino fonêmico, falham em proporcionar a automatização da leitura e sobrecarregam a memória de trabalho dos alunos, prejudicando a compreensão textual.

        Benedetti alerta para as consequências desse cenário: estudantes que avançam no sistema de ensino sem dominar habilidades básicas de leitura e escrita, o que compromete sua trajetória escolar e social. Na conclusão, propõe a reconstrução do ensino da alfabetização com base em métodos estruturados, progressivos e cientificamente validados, capazes de garantir equidade no acesso ao saber.

Ao articular uma crítica ideológica com fundamentação empírica e proposições concretas, A falácia socioconstrutivista se destaca como uma obra relevante a todos os educadores e formuladores de políticas públicas, convidando-os a reverem premissas consolidadas e, ainda, recolocando no centro da escola a aprendizagem efetiva e não modismos pedagógicos.



[1] DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica nossa capacidade de ler. Porto Alegre: Penso, 2012.