terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Marta finge que não tem nada a ver com o PT



Com vistas à prefeitura de São Paulo, a senadora petista tenta se fazer passar por oposição.
Lavando a roupa suja que todo o Brasil já conhece, Marta Suplicy expõe a incompetência e corrupção presentes no PT, como se ela não tivesse nada a ver com isso.

Segue mais um episódio em que ela ataca Dilma e seu próprio partido, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, 27/01/15, p. A3


O diretor sumiu

Marta Suplicy*
  
Se houvesse transparência na condução da economia no governo Dilma, ela não teria aprofundado os erros que nos trouxeram a esta situação
Tenho pensado muito sobre a delicadeza e a importância da transparência nos dias de hoje. Temos vivido crises de todos os tipos: crise econômica, política, moral, ética, hídrica, energética e institucional. Todas elas foram gestadas pela ausência de transparência, de confiança e de credibilidade.
Se tivesse havido transparência na condução da economia no governo Dilma, dificilmente a presidente teria aprofundado os erros que nos trouxeram a esta situação de descalabro. Não estaríamos agora tendo de viver o aumento desmedido das tarifas, a volta do desemprego, a diminuição de direitos trabalhistas, a inflação, o aumento consecutivo dos juros, a falta de investimentos e o aumento de impostos, fazendo a vaca engasgar de tanto tossir.
Assim que a presidenta foi eleita, seu discurso de posse acompanhou o otimismo e reiterou os compromissos da campanha eleitoral: "Nem que a vaca tussa!".
Havia uma grande expectativa a respeito do perfil da equipe econômica que a presidenta Dilma Rousseff escolheria. Sem nenhuma explicação, nomeia-se um ministro da Fazenda que agradaria ao mercado e à oposição. O simpatizante do PT não entende o porquê. Se tudo ia bem, era necessário alguém para implementar ajustes e medidas tão duras e negadas na campanha? Nenhuma explicação.
Imagina-se que a presidenta apoie o ministro da Fazenda e os demais integrantes da equipe econômica. É óbvio que ela sabe o tamanho das maldades que estão sendo implementadas para consertar a situação que, na realidade, não é nada rósea como foi apresentada na eleição. Mas não se tem certeza. Ela logo desautoriza a primeira fala de um membro da equipe. Depois silencia. A situação persiste sem clareza sobre o que pensa a presidenta.
Iniciam-se medidas de um processo doloroso de recuperação de um Brasil em crise. Até onde ela se propõe a ir? Até onde vai o apoio à equipe econômica?
Para desestabilizar mais um pouco a situação, a Fundação Perseu Abramo, do PT, critica as medidas anunciadas, o partido não apoia as decisões do governo e alguns deputados petistas vociferam contra elas. Parte da oposição, por receio de se identificar com a dureza das medidas, perde o rumo criticando o que antes preconizou.
O PT vive situação complexa, pois embarcou no circo de malabarismos econômicos, prometeu, durante a campanha, um futuro sem agruras, omitiu-se na apresentação de um projeto de nação para o país, mas agora está atarantado sob sérias denúncias de corrupção.
Nada foi explicado ao povo brasileiro, que já sente e sofre as consequências e acompanha atônito um estado de total ausência de transparência, absoluta incoerência entre a fala e o fazer, o que leva à falta de credibilidade e confiança.
É o que o mercado tem vivido e, por isso, não investe. O empresariado percebe a situação e começa a desempregar. O povo, que não é bobo, desconfia e gasta menos para ver se entende para onde vai o Brasil e seu futuro.
Acrescentem-se a esse quadro a falta de energia e de água, o trânsito congestionado, os ônibus e metrôs entupidos, as ameaças de desemprego na família, a queda do poder aquisitivo, a violência crescente, o acesso à saúde longe de vista e as obrigações financeiras de começo de ano e o palco está pronto.
A peça se desenrola com enredo atrapalhado e incompreensível. O diretor sumiu.

*Marta Suplicy é senadora pelo PT-SP. Foi prefeita de São Paulo (2001-2004), ministra do Turismo (2007-2008) e ministra da Cultura (2012-2014)

Fonte: Jornal Folha de S.Paulo


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

MST: Movimento dos Sem-Teta


MST: Movimento dos Sem-Teta

Reinaldo Azevedo

Os adoradores do 'petismo responsável' fazem mais mal ao Brasil do que a esquerda xexelenta

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), emitiu uma nota em que apontou o estelionato eleitoral de Dilma Rousseff. Anunciou que seu partido vai resistir ao pacotaço da governanta -que de Joaquim Levy não é, a menos que a reeleita tenha terceirizado o governo. Aqui e ali, ouvem-se muxoxos contra essa postura da oposição. Partem de setores do colunismo que, como é mesmo?, apreciavam o "PT responsável": aquele de Antonio Palocci, não o dito "nacional-desenvolvimentista", de Guido Mantega. Mantega um nacional-desenvolvimentista? Pelo Profeta Que Não Pode ser Desenhado! A suruba conceitual no Brasil só é inferior à partidária.
Os adoradores do "petismo responsável" fazem mais mal ao Brasil do que a esquerda xexelenta. Esta já perdeu o bonde faz tempo e só quer uma boquinha. O mito da "competência" do PT na gestão da economia foi criado por aqueles outros, que transformaram o meio num fim em si mesmo. Se o sujeito corta gastos, eleva juros e diminui subsídios, a forma vira conteúdo, e tudo parece estar no seu lugar, ainda que a elevação de 1,25 da Selic custe, no ano, o quanto se vai ganhar com o pacote fiscal. Tara ideológica não reconhece a matemática como um saber.
Foi essa adesão burra ao "PT responsável" que silenciou o debate nos primeiros quatro anos do governo Lula, quando começou a se formar a fuça do Alien no ventre da impostura. "Que importa a cor do gato, desde que cace ratos?", perguntavam. A adesão à miúda ortodoxia da necessidade, convertida em novo umbral do saber econômico, impediu que se fizesse a descrição de um modelo.
Um modelo que iria quebrar as pernas da indústria, devolver o país à condição de economia primário-exportadora (e a China nos trai com crescimento de só 7,5%), transformar em consumo burro as janelas de oportunidades que o mundo nos abriu e eleger alguns ganhadores -e financiadores do petismo- com o leite de pata do BNDES.
Criou-se a versão falsa de que Mantega é que atrapalhou tudo. Ora... Ele não tinha pensamento econômico nenhum, como não tem Levy. Nem um nem outro foram eleitos pra coisa nenhuma. Cada um, a seu tempo, atende ao conjunto das forças que se mobilizaram para dividir o butim -inclusive e muito especialmente os potentados da iniciativa privada que, na maioria das vezes, gostam mesmo é das tetas do Estado. O resto dos brasileiros tem de fundar o MST: o Movimento dos Sem-Teta.
Eu espero, sim, que Aécio e o PSDB cumpram suas respectivas obrigações. Oposicionistas também são eleitos pelo povo: para se opor! Pode-se debater, num determinado domínio, se esta ou aquelasmedidas adotadas por Dilma -não por Levy- são necessárias. Mas os que foram premiados pelas urnas com o direito de dar combate ao PT não podem declinar do seu dever. A aprovação de uma medida pontual não pode impedir a crítica ao "modelo". A adesão estúpida sabota a democracia. Não venham me dizer que elevar a Selic em meio ponto no dia em que o ministro da Fazenda diz o óbvio -vem recessão por aí- é exemplo de ortodoxia decorosa.
Para encerrar: a Fundação Perseu Abramo, do PT, desceu o porrete no pacotaço de Dilma. Que os tucanos não se sintam tentados, de novo, a se comportar como governo, a exemplo dos primeiros tempos da gestão Lula, deixando o bônus de fazer oposição para os próprios petistas.

Fonte: Folha de S.Paulo – 23/01/15 – p.A7


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O Patrimonialismo Selvagem


O Patrimonialismo Selvagem*

Rodrigo Constantino

Empresários de todo o Brasil, uni-vos! Não tendes nada a perder, senão os grilhões do Estado patrimonialista selvagem!” (J. O. de Meira Penna)

O embaixador José Osvaldo de Meira Penna foi um dos pensadores que melhor dissecaram o patrimonialismo vigente na política brasileira, buscando suas origens na herança cultural do povo. O resultado foi sua excelente obra O Dinossauro, publicado em 1988, mas que infelizmente não ficou nada ultrapassada mesmo duas décadas depois. Sua tese é de que a ideologia nacional-socialista, “origem do social-estatismo asfixiante que assoberba o mundo moderno”, é reflexo de uma reação passional ao Racionalismo da Idade da Razão. O Romantismo, tendo como um dos ícones a figura de Rousseau, explicaria boa parte da mentalidade nacional que acabou levando a este modelo estatal ultrapassado.
Meira Penna diz: “A forma política mais comum do romantismo político é o chamado Culto da Personalidade do herói salvador e messiânico”. Basta olhar para a América Latina e verificar como isso sempre foi uma infeliz realidade aqui. A opção preferencial pelos pobres, boêmios, fracassados, falidos, a exaltação do criminoso, do assaltante, é herança do mito romântico que Rousseau inaugurou. O desprezo pela racionalidade, o “sentir” colocado acima do “pensar”, é um traço claro desse legado.
A postura de eterno adolescente buscando confrontar qualquer tipo de estrutura estabelecida ou autoridade, o sonho utópico desprovido de lógica, o sentimentalismo, são características que fascinaram uma sociedade que procurava uma forma de fuga emocional. O conceito da “Vontade Geral” coletivista transformando indivíduos em frações sacrificáveis, que levou Benjamin Constant a acusar Rousseau da criação do “mais terrível instrumento para toda espécie de despotismo”, é ainda parte da herança desse romantismo presente na mentalidade nacional. Por fim, a ideia do “bom selvagem”, colocando na “sociedade” a culpa por todos os males e eximindo de responsabilidade o indivíduo, é marca ainda presente na cultura brasileira, com nefastas consequências.
A vida política pode ser comparada a uma Grande Família, uma “organização que se mantém necessariamente pela força dos laços afetivos”. A busca por privilégios é o passo natural, contrário ao princípio de isonomia presente no império das leis do mundo anglo-saxão. Conforme explica o autor, “surge uma vasta tessitura clientelista e familiar que mantém sua coesão pela discriminação privilegiada de seus membros”. A lógica fria do método cartesiano não faz parte desse jogo. O cargo público é confundido com a propriedade privada, sendo isso uma das maiores fontes de corrupção. “Patrimonialismo significa confusão entre o que é público e o que é privado”. A vinda da corte lusitana com seu enorme séquito de “amigos do rei” dá origem a esse tipo de modelo, influenciado ainda pelo romantismo francês. Essa falha na formação cultural teve consequências fatais para o desenvolvimento.
Em contrapartida, a Idade da Razão lança, no campo econômico, as bases do capitalismo industrial moderno, que tanta riqueza gerou. O desenvolvimento seria fruto de uma atitude “racional, liberal, competitiva e pragmática perante as exigências da vida material”. Quem perde o bonde, por não ter chegado ainda na Idade da Razão, acaba vítima de uma tendência demasiadamente humana, que é pôr a culpa do fracasso em cima dos outros. A busca por causas exógenas, projetando a culpa sobre bodes expiatórios, é alimentada pelo vício da inveja, “a mais antissocial das paixões”, como dizia Mill. O ressentimento pelo fracasso incomoda, e é muito mais fácil esbravejar contra o rico, especialmente se for estrangeiro, do que fazer o dever de casa. A defasagem do nosso progresso poderia ser explicada, em parte, pela “míngua em nosso caráter nacional das virtudes racionais da operosidade, organização, poupança, seriedade, obediência à lei, disciplina intelectual e moral”, em suma, de virtudes ausentes na terra do “homem cordial”.
Meira Penna aborda diferentes estudos do patrimonialismo, passando pelos trabalhos de Raimundo Faoro, Ricardo Vélez Rodríguez, Max Weber e outros. Ele não gosta da expressão “capitalismo de Estado”, usada por Faoro em Os Donos do Poder, já que patrimonialismo pode expressar melhor o fenômeno, sem gerar tanta confusão. Ele resume: “O termo mais adequado para descrição da organização socioeconômica do Brasil desde a época colonial é o de ‘patrimonialismo mercantilista’”. A sua essência é o aproveitamento privado da coisa pública, como o coronelismo, clientelismo, empreguismo etc. O Estado é paternalista, intervencionista e autoritário. Uma “patota” assume o poder e forma uma entidade do tipo cosa nostra, como na máfia siciliana. Este esquema não é visto como imoral por seus participantes. Não há espaço algum para o livre mercado.
Ricardo Vélez Rodríguez, em sua obra sobre o patrimonialismo, enfatiza que o Estado é visto e administrado como um bem de família pela classe política. Para ele, “esse é o principal problema que atravanca o desenvolvimento no nosso continente”. A dominação patrimonial “manipula as massas desprotegidas mediante o paternalismo de Estado, ensejando assim o ideal do ‘pai do povo’, tão comum em contextos patrimoniais”. Para Vélez, “a prática do nepotismo e do clientelismo constitui o principal caminho por meio do qual se efetiva a privatização do Estado”. Trata-se de um modelo mercantilista, onde “o orçamento do Estado é entendido como butim a ser distribuído clientelisticamente entre amigos e apaniguados”.
O socialismo acaba servindo como munição ideológica para os que almejam esse poder. Pode no máximo trocar de mãos, mas não reduz o poder estatal em si. Seu vício fatal é a “concentração do poder político e do poder econômico nas mesmas mãos”. A simbiose entre socialistas e mercantilistas não ocorre por acaso. Na teoria do mercantilismo estava expresso o “reconhecimento de que a riqueza econômica constitui um instrumento da política de segurança e expansão do poder nacional”.
Os mercantilistas queriam o poder nacional, assim como os socialistas. Os burgueses são desprezados por ambos. A xenofobia acaba sendo marca registrada nos dois casos, despertando o sentimento “nacionalista”. Este casamento leva ao nacional-socialismo, onde o governo concentra amplos poderes econômicos e os estrangeiros são vistos como inimigos potenciais. Segue um ineficiente protecionismo, com tarifas proibitivas para produtos importados, subsídios favorecendo os aliados do governo e todo tipo de privilégio à custa dos consumidores. Este modelo representa o oposto do livre comércio defendido pelos liberais.
A estatização da economia e uma onipresente burocracia são resultados inevitáveis dessa mentalidade. A concentração de renda no país é resultado dessa gigantesca burocracia estatal, e basta observar a renda per capita de Brasília para comprovar. Na cabeça desse dinossauro reina, soberana, “a verdadeira classe dita ‘exploradora’, ‘dominante’ e ‘opressora’: a classe burocrática patrimonialista, ideologicamente legitimada pelos intelectuais da esquerda festiva nacional-socialista”. Não se muda isso por decreto, já que é fruto de uma mentalidade que vem de longa data, enraizada na cultura nacional, representada pelo herói sem caráter Macunaíma e pelo “jeitinho” brasileiro. É preciso mudar a mentalidade do povo.
Está na hora de mostrar que o verdadeiro inimigo não é o capitalismo de livre mercado, mas o Estado patrimonialista, os “intelectuais” que o defendem, a burocracia que toma a máquina estatal para si como se fosse propriedade sua. O país precisa abraçar o liberalismo para derrotar o dinossauro!

*Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.




sábado, 17 de janeiro de 2015

Marx e Engels eram racistas. Então, socialistas, como vocês defendem isso?


Imperialistas arianos e racistas: Duro é aturar a esquerda radical acusando os liberais e conservadores de ‘fascistas’ ou algo do tipo

Rodrigo Constantino

‘Sem escravidão, a América do Norte, a nação mais progressista, ter-se-ia transformado em um país patriarcal. Apenas apague a América do Norte do mapa e você conseguirá anarquia, a deterioração completa do comércio e da civilização moderna.”
“A escravidão é uma categoria econômica como qualquer outra. Portanto, possui seus dois lados. Deixemos o lado mau e falemos do lado bom da escravidão, esclarecendo que se trata da escravidão direta, a dos negros do Suriname, no Brasil, nas regiões meridionais da América do Norte. [...] A escravidão valorizou as colônias, as colônias criaram o comércio universal, o comércio que é a condição da grande indústria. Por isso, a escravidão é uma categoria econômica da mais alta importância.”
“Talvez a evolução superior dos arianos e dos semitas se deva à abundância de carne e leite em sua alimentação.”
“Sendo que, comparado ao resto de nós, um nigger (crioulo) é o que há de mais perto do reino animal, ele é, sem nenhuma dúvida, o representante mais adequado para este distrito.”
“Os franceses precisam de uma surra. Se os prussianos vencerem, a centralização do poder de estado será benéfica para a centralização da classe trabalhadora alemã. A predominância germânica também deslocará o centro de gravidade do movimento dos trabalhadores na Europa ocidental, da França para Alemanha, e se apenas compararmos os movimentos nos dois países, de 1866 até agora, se verá que a classe trabalhadora alemã é superior à francesa, tanto no aspecto teórico quanto em organização.”
“A luta dos beduínos era uma luta inútil e, apesar da maneira com que soldados brutais, como Bugeaud, conduziram a guerra seja extremamente condenável, a conquista da Argélia é um fato importante e auspicioso para o progresso da civilização. [...] E se talvez lamentamos que a liberdade dos beduínos do deserto tenha sido suprimida, não podemos nos esquecer de que estes mesmos beduínos eram uma nação de ladrões.”
“Fomos espectadores da conquista do México e nos regozijamos com ela. [...] É do interesse de seu próprio desenvolvimento que ele seja, no futuro, colocado sob a tutela dos Estados Unidos. É do interesse de toda a América que os Estados Unidos, graças à conquista da Califórnia, assumissem o domínio sobre o Oceano Pacífico.”
“É lamentável que a maravilhosa Califórnia tenha sido arrancada dos preguiçosos mexicanos, que não sabiam o que fazer com ela? Todas as nações impotentes devem, em última análise, ser gratas àqueles que, cumprindo necessidades históricas, as anexam a um grande império, permitindo, assim, sua participação em um desenvolvimento histórico que, de outra maneira, seria ignorado a eles. É evidente que tal resultado não poderia ser obtido sem esmagar algumas belas florzinhas. Sem violência, nada pode ser realizado na história.”
“A Inglaterra tem que cumprir uma dupla missão na Índia: uma destruidora, outra reguladora — a aniquilação da velha sociedade asiática e o lançamento das bases materiais da sociedade ocidental na Ásia.”
“Não devemos nos esquecer de que esta vida sem dignidade, estagnada e vegetativa, este tipo de existência passiva invocou, por outro lado, em contrapartida, forças de destruição selvagens, sem objetivo, sem fim, e tornou o próprio assassinato um rito religioso no hinduísmo.”
Chega? O leitor já deve estar com o estômago embrulhado. Quem disse tais barbaridades? Hitler? Algum reacionário qualquer? Nada disso. Todas as citações são de Marx ou Engels, compiladas no livro “O marxismo e a questão racial”, do cubano Carlos Moore, um negro exilado pelas críticas de racismo feitas ao regime castrista.
O autor comprova que não se trata de afirmações fora de contexto; ao contrário: Marx e Engels defenderam em várias ocasiões esta visão imperialista ariana e racista. Era parte essencial de sua ideologia.
Ambos beberam da mesma fonte, Hegel, que disse: “O que nós propriamente entendemos por África é o Não Histórico, Não Desenvolvido Espírito, ainda envolvido na condição de mera natureza, e que foi apresentado aqui somente como soleira da História mundial.”
O problema é que nossos marxistas não leram Marx. Nelson Rodrigues, que anda sendo citado por Dilma, escreveu: “E, por todas as cartas de Marx, não há um vislumbre de amor e só o ódio, o puro ódio. Para ele, há ‘povos piolhentos’, ‘povos de suínos’, ‘povos de bandidos’, que devem ser exterminados.”
Duro é aturar a esquerda radical acusando os liberais e conservadores de “imperialistas”, “racistas”, “fascistas” ou algo do tipo. Seria cômico, não fosse trágico...



quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Novos salários, algumas questões


Novos salários, algumas questões

Marco Milani

Recentemente, os deputados federais e senadores brasileiros reajustaram seus vencimentos em 26%. Assim, cada parlamentar receberá, a partir de 2015, a remuneração mensal de R$ 33,7 mil. Esse fato merece algumas considerações pela natural repercussão que provoca.
Inicialmente, destaca-se que a Constituição Federal permite os parlamentares aumentarem os próprios salários para o próximo mandato, portanto não se trata de ato ilegal.
Considerando apenas a recomposição do poder aquisitivo da moeda, o reajuste aprovado reflete a inflação acumulada no período de quatro anos, dessa maneira, não é uma correção abusiva.
O novo valor também é compatível com o salário de um executivo em uma grande empresa, logo não é incomum.
Então, não sendo ilegal, abusivo ou incomum, haveria motivos para críticas?
 Apesar de legal, a possibilidade de legislar sobre a própria remuneração desperta questionamentos éticos, uma vez que existe claro conflito de interesses.
Apesar da justa recuperação do poder de compra da moeda, tal índice de correção se mostra superior aos índices geralmente praticados nas diversas categorias do funcionalismo público, privilegiando quem pode legislar em causa própria. Por outro lado, essa decisão balizará, em efeito cascata, os salários de deputados estaduais e vereadores em todo o país, com impacto direto no equilíbrio orçamentário de todas as regiões.
Apesar de ser um salário compatível a executivos corporativos, a remuneração do parlamentar brasileiro é considerada uma das mais elevadas perante os seus pares no mundo. A remuneração bruta nominal recebida por senadores brasileiros assemelha-se aos valores recebidos pelos senadores italianos, um dos mais bem remunerados da Europa. E quando a comparação é feita em termos relativos, existe uma distância significativa entre os países.
Em levantamento feito em 2013 pela revista inglesa The Economist, os parlamentares brasileiros ganhavam por ano o equivalente a 13 vezes o valor do PIB per capita do país, enquanto os italianos recebiam, proporcionalmente, menos de 4 vezes. Na Europa, em geral, os salários dos parlamentares eram inferiores a 2,5 vezes o valor do PIB per capita de cada nação.
Porém, o que faz com que os representantes do povo se diferenciem da maioria dos brasileiros não são somente os 15 salários que recebem por ano, mas são os ganhos indiretos. Cada parlamentar tem direito a verbas e cotas que, mensalmente, podem somar cerca de R$ 165 mil por senador e R$ 85 mil por deputado federal. Dessa maneira, o salário é a menor parte dos gastos que a União tem com cada parlamentar.
Em quase todas as nações os representantes públicos contam com verbas adicionais, mas qual seria o resultado comparativo se somássemos todos os benefícios? Verificaríamos que o custo do parlamentar brasileiro aos cofres públicos é igual ou superior ao de países considerados de primeiro mundo.
Se considerarmos as vultuosas campanhas que candidatos aos cargos eletivos costumam fazer, é de se esperar que os valores gastos não sejam compensados na forma exclusiva de salários, mas isso não quer dizer que devam procurar maximizar seus ganhos privados em funções públicas.
Diante da atual situação brasileira, com pífio crescimento econômico e necessidade de ajustes fiscais, os representantes do povo perderam a oportunidade de, ao menos, exemplificarem o que expressam em seus inflamados discursos sobre austeridade.

Por que nos mobilizamos pela França, mas nos esquecemos da Nigéria?


Por que nos mobilizamos pela França, mas nos esquecemos da Nigéria?

Jaime Rubio Hancock – EL PAÍS

O atentado ao Charlie Hebdo e a reação da opinião pública francesa têm dominado as capas dos jornais e revistas do mundo todo. Mas muitos ficaram surpresos com a menor atenção dada à ofensiva da seita islâmica Boko Haram no nordeste da Nigéria, que poderia somar até 2.000 mortos, em ações que incluíram o envio a um mercado de uma menina de 10 anos com explosivos atados ao corpo, provocando sua morte e a de outras 19 pessoas.

A imprensa anglo-saxã comenta a “hierarquia da morte”, ou seja, o fato de darmos mais cobertura a algumas vítimas do que a outras, especialmente no noticiário internacional. Essa hierarquia é influenciada por vários fatores, que podemos dividir em dois grupos: a proximidade e a qualidade da informação.

1. A proximidade. Interessa-nos mais o que ocorre em nosso país e em países próximos, e também se há alguma vítima local. A análise de Jacoba Urist na The Atlantic recorda como o The New York Times publicou mais de 2.500 obituários para os assassinados nos atentados de 11 de setembro de 2001, coisa que o EL PAÍS também fez com os mortos no ataque islâmico de 11 de março de 2004 em Madri.

“Toda informação é local”, diz o jornalista Miguel Ángel Bastenier, do EL PAÍS, “e se repercutimos as notícias internacionais é pela proximidade e pela vinculação que temos com esses países, e também pela qualidade da informação que conseguimos obter”. Ele acrescenta que “é preciso informar sobre a Nigéria, e se informa”, mas esses dois fatores fazem com que se fale mais sobre o atentado na França do que sobre muitos outros conflitos.

Tal proximidade provoca uma maior empatia entre jornalistas e leitores, mas também pode favorecer o confronto, observa a jornalista Leila Nachawati, cofundadora do site Syria Untold. “Há um posicionamento do ‘nós contra eles’”, algo que na opinião dela transparece, por exemplo, nas declarações oficiais sobre o atentado ao Charlie Hebdo, em que muitos líderes ocidentais apontaram “um ataque contra nós, contra nossos valores”, esquecendo-se de que esses grupos “nascem e se promovem dentro da Europa”.

No caso da Nigéria, a Boko Haram chamou a atenção da imprensa ocidental em relativamente poucas ocasiões, apesar de esse grupo estar ativo desde 2002 e já ter causado milhares de mortes. Uma dessas situações se deu após o sequestro de mais de 200 meninas em abril do ano passado. Naquela ocasião, a atenção foi motivada por uma campanha nas redes sociais, intitulada #BringBackOurGirls (“tragam nossas garotas de volta”), que contou com a participação, por exemplo, da primeira-dama norte-americana, Michelle Obama. Ou seja, tanto naquela época como agora (quando se compara a atenção midiática dada ao atentado de Paris com a cobertura do conflito nigeriano), o volume de informação cresce porque se busca relação com o que está ocorrendo no Ocidente.

2. A qualidade da informação. Muitos veículos de comunicação têm correspondentes ou enviados especiais em Paris, incluindo as agências de notícias, ao passo que é muito mais perigoso enviar informações do Estado nigeriano de Borno, majoritariamente controlado pela Boko Haram. Na verdade, os jornalistas sofrem ameaças tanto da Boko Haram quanto do próprio Governo.

Bastenier observa que um veículo de vocação global precisa buscar a melhor informação possível, e que sua obrigação é divulgá-la sempre que puder. Entretanto, a escassez de recursos faz com que se conte apenas, na melhor das hipóteses, com o material das agências, ao passo que há mais e melhores dados a respeito do que ocorre na França.

A repercussão do atentado ao Charlie Hebdo também se deve ao fato de a França ter um Governo estável, onde, portanto, é possível organizar uma manifestação gigantesca e convidar todos os líderes ocidentais: a foto da linha de frente da manifestação também é notícia.

O problema de não contar com recursos para informar diretamente sobre um conflito, publicando-se em vez disso basicamente notícias de agências e reportagens de outros veículos, pode levar a uma “desumanização do conflito”, o que torna ainda mais difícil a empatia com as vítimas, segundo Nachawati.

Além disso, é preciso levar em conta que se presta menos atenção a conflitos em andamento, pois eles são (tragicamente) previsíveis e, como explica Nachawati, há “um cansaço com relação a situações como as da Síria, Iraque ou Nigéria”. Vemos esses países como se estivessem em um conflito permanente, “visão que se perpetua e sobre a qual não há intenção de se aprofundar”. Esses conflitos são tratados a partir desse filtro, ao qual se soma o fator geoestratégico: não interessa o que acontece com os cidadãos sírios ou nigerianos, e sim “o que opinam e o que fazem os Estados Unidos e a Rússia”.

Apesar de todas essas dificuldades, Nachawati considera que é preciso informar mais sobre conflitos como o da Nigéria, e para isso ela aposta em “se aproximar da opinião pública”, informando sobre associações e campanhas civis. Com esse objetivo, é preciso desenvolver “redes de confiança, o que agora ficou mais fácil do que há alguns anos”. Mas continua sendo uma tarefa de longo prazo.



domingo, 11 de janeiro de 2015

Je suis contre PT


Marta Suplicy: Ou o PT muda ou acaba


Entrevista: Marta Suplicy

Marta critica Dilma, ataca colegas e afirma: 'Ou o PT muda ou acaba' ­

Eliane Cantanhêde

10 Janeiro 2015 | 22h 00

Para a senadora Marta Suplicy (SP), que foi deputada, prefeita e duas vezes ministra pelo PT, o partido chegou a uma encruzilhada: “Ou o PT muda, ou acaba”. Em entrevista ao Estado, Marta não assumiu explicitamente, mas deixou evidente que está a um passo de sair do PT: “Cada vez que abro um jornal, mais fico estarrecida com os desmandos. É esse o partido que ajudei a criar?”.

Articuladora assumida do “Volta, Lula” em 2014, ela também deixou suficientemente claro que o ex­presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em alguns momentos, autorizou os movimentos nesse sentido. Quanto ao governo Dilma: “Os desafios são gigantescos. Se ela não respeitar a independência da equipe econômica, vai ser desastroso para o Brasil”.

A declaração mais irada foi contra o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que ela julga “inimigo do Lula” e “candidatíssimo” a presidente em 2018, mas “vai ter contra si a arrogância e o autoritarismo”. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Por que a senhora articulou o movimento “Volta, Lula”?
Em meados de 2013, os desmandos aconteciam e a economia ia de mal a pior. Foi aí que disse ao Lula: ‘Presidente, está acontecendo uma coisa muito séria. O que o senhor acha que está acontecendo?’ Conversamos a primeira, a segunda, a terceira, a quarta vez... E ele dizia: ‘É verdade, estou conversando com ela, mas não adianta, ela não ouve’. A coisa foi piorando e, um dia, ele disse: ‘Os empresários estão se desgarrando...’. E perguntou se eu podia ajudar e organizei um jantar na minha casa, já no início de 2014, com os 30 PIBs paulistas. Foi do Lázaro Brandão a quem você quiser imaginar. Eles fizeram muitas críticas à política econômica e ao jeito da presidente. E ele não se fez de rogado, entrou nas críticas, disse que era isso mesmo. Naquele jeito do Lula, né? Quando o jantar acabou, todos estavam satisfeitíssimos com ele.

E falaram nele como candidato?
Ninguém falou claramente, mas todo mundo saiu dali com a convicção de que ele era, sim, o candidato.

Ele admitia que queria ser?
Nunca admitiu, mas decepava (sic) ela: ‘Não ouve, não adianta falar.’

Ele estava incomodado com Dilma?
Extremamente incomodado. E isso é que foi levando ele a achar que tinha de ser o candidato e fui percebendo que a ação dele foi mudando. A verdade é que ele nunca disse, mas sempre quis ser candidato e achou que ia ser.

Por isso a senhora trabalhou pela candidatura do Lula?
Sim, providenciando os encontros para ele poder se colocar. Foi quando convidei políticos, artistas para um grande encontro político. Convidei a Dilma, o Mercadante e todos os ministros de São Paulo, avisando que o Lula estaria presente. Todos confirmaram, mas, na véspera, todos cancelaram. E ela, Dilma, também não foi. Nessa época, ainda estava confuso quem seria o candidato. Tinha uma disputa. E, depois, quando ela virou candidatésima, ele não falava mais com ela.

O Lula deixava uma porta aberta?
Quando o Lula escolheu o Fernando Haddad para disputar a Prefeitura, eu avisei a ele que eu ia sair do ministério, porque discordava da política econômica, da condução do País, e ia voltar para o Senado. ‘E vou dizer que o candidato é o senhor. A única que tem coragem de dizer isso publicamente sou eu e vou dizer’. E ele: ‘Não vai, não, de jeito nenhum’. Eu: ‘Por quê?’ Ele: ‘Porque não é hora’. Veja bem, ele não negou, ele disse que não era hora.

Depois, como evoluiu?
Um dia, eu fui direta: ‘Lula, tem de ir pro pau, tem de ter clareza nisso’. E listei pessoas com quem poderia conversar para dizer que ele tinha interesse, que estava disposto. Aí ele disse que não, que não era para falar com ninguém. O que eu ia fazer? Concordei. Só que, quando eu já estava saindo, perto da porta, ele disse: ‘Pode falar com o Rui (Falcão, presidente do PT)’. Dois dias depois, sentei duas horas e meia com o Rui e disse a ele: ‘A situação está muito difícil eleitoralmente para o PT, mas muito difícil para o País. Porque vai ser muito difícil a Dilma conduzir o País de outro jeito, você já conhece o jeito dela’. Mas ele disse que íamos ganhar e que eu estava falando de coisas que eu não entendia.

Acredita que o Lula queria ser (candidato em 2014)?
Ele é um grande estadista, mas não quis enfrentar a Dilma. Pode ser da personalidade dele não ir para um enfrentamento direto, ou porque achou que geraria uma tal disputa que os dois iriam perder.

E quando o próprio Lula encerrou de vez o assunto?
Foi quando ele disse: ‘Marta, acabou. Vamos trabalhar para a Dilma e pronto. Você vai enfiar a camisa e trabalhar de novo’.

E a senhora, nunca pensou em ser candidata?
A quê? A presidente... Pensei sim. Quando era neófita, tinha clareza de que poderia ser presidente. Depois, isso caiu por terra, até que um dia o Lula, no avião dele, quando era presidente, me disse: ‘Minha sucessora vai ser uma mulher’. E pensei que ou seria eu, ou Marina (Silva) ou Dilma. Logo vi aquela história de ‘mãe do PAC’ e que era a Dilma. Pensei: ‘O que faço?’ Bom, ou ficava contra e não fazia coisa nenhuma, ou ajudava. Mais uma vez, decidi ajudar. Sempre achei que ia acabar ficando meio de fora das coisas, talvez pela origem, talvez por ser loura de olho azul, não sei.

Como vê o governo Dilma?
Os desafios agora são gigantescos, porque não se engendraram as ações necessárias quando se percebeu o fracasso da política econômica liderada por ela. Em 2013, esse fracasso era mais do que evidente. Era preciso mudar a equipe econômica e o rumo da economia, e sabe por que ela não mudou? Porque isso fortaleceria a candidatura do Lula, o ‘Volta, Lula’.

E a nova equipe econômica?
É experiente, qualificada. Vai depender de a Dilma respeitar a independência da equipe. Se não respeitar, vai ser desastroso. Agora, é preciso ter humildade e a forma de reconhecer os erros a esta altura é deixar a equipe trabalhar. Mas ela não reconheceu na campanha, não reconheceu no discurso de posse. Como que ela pode fazer agora?

Se Dilma não deixar a equipe econômica trabalhar, os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) podem correr para o Lula, pedindo apoio?
Você não está entendendo. O Lula está fora, está totalmente fora.

Tudo isso criou uma cisão indelével no PT, entre lulistas e dilmistas, como ficou claro na posse, quando o Lula foi frio com o Mercadante?
O Mercadante é inimigo, o Rui traiu o partido e o projeto do PT, e o partido se acovardou ao recusar um debate sobre quem era melhor para o País, mesmo sabendo as limitações da Dilma. Já no primeiro dia, vimos um ministério cujo critério foi a exclusão de todos que eram próximos do Lula. O Gilberto Carvalho é o mais óbvio.

Qual o efeito disso em 2018?
Mercadante mente quando diz que Lula será o candidato. Ele é candidatíssimo e está operando nessa direção desde a campanha, quando houve um complô dele com Rui e João Santana (marqueteiro de Dilma) para barrar Lula.

Quais as chances de vitória do PT com o Mercadante?
Ele vai ter contra si sua arrogância, seu autoritarismo, sua capacidade de promover trapalhadas. Mas ele já era o homem forte do governo. Logo, todas as trapalhadas que ocorreram antes ocorrem agora e ocorrerão depois terão a digital dele.

Afinal, quais são os desmandos da gestão do Juca Ferreira na Cultura?
Foi uma gestão muito ruim. Enviei para a CGU (Controladoria­Geral da União) tudo sobre desmandos e irregularidades da gestão dele.

O que aconteceu com a Petrobrás?
Para mim, todo o conselho e diretoria deveriam ter sido trocados. Respeito a Graça (Foster), até gosto dela. Não questiono sua seriedade e honradez. Mas, no momento, o mais importante é salvar a Petrobrás.

O PT foi criado com a aura de partido ético. Imaginava que pudesse chegar a esse ponto?
Cada vez que abro um jornal, fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar? Hoje, é um partido que sinto que não tenho mais nada a ver com suas estruturas. É um partido cada vez mais isolado, que luta pela manutenção no poder. E, se for analisar friamente, é um partido no qual estou há muito tempo alijada e cerceada, impossibilitada de disputar e exercer cargos para os quais estou habilitada.

Então, a senhora vai sair do PT.
A decisão não está tomada ainda, mas passei um mês e meio, dois meses, chorando, com uma tristeza profunda, uma decepção enorme, me sentindo uma idiota. Não tomei a decisão nem de sair, nem para qual partido, mas tenho portas abertas e convites de praticamente todos, exceto do PSDB e do DEM.

Para concorrer à Prefeitura?
Não será uma decisão em função de uma possível disputa à Prefeitura, por isso é tão dura. É uma decisão duríssima de quem acreditou tanto, de quem engoliu tanto.

Tem uma gota d’água?
Não, mas na campanha da Dilma e do (Alexandre) Padilha em São Paulo, fui totalmente alijada. Quando Padilha me ligou pedindo para eu gravar, disse: ‘Ô Padilha, entenda. Eu não sou mais objeto utilitário, acabou essa minha função no PT’.

Por que Dilma e Padilha foram tão mal em São Paulo?
Não foi um voto pró­Aécio (Neves), foi um voto anti­PT, pelos desmandos que o PT tem perpetrado nesses anos todos.

O que vai ocorrer com o PT?
Ou o PT muda ou acaba.




sábado, 10 de janeiro de 2015

Sobre o ataque terrorista à revista Charlie Hebdo


O fardo de nosso tempo

Alberto Dines*

O objetivo dos sicários que fuzilaram os jornalistas do Charlie Hebdo não era o de liquidar a liberdade de expressão. Bárbaros, primitivos, não têm noção de conceitos tão subjetivos e abstratos. Pretendiam dividir a França, exacerbar a confrontação étnico-religiosa, estendê-la além das hostilidades entre islamófobos, islâmicos pacíficos e secularistas.
Guerras santas não têm objetivos, mas estratégias. E a dos jihadistas é claramente imperialista: dividir a ferro e fogo, espalhar-se, dominar. Nada sabem sobre história, para eles a vida começa e acaba no momento em que puxam o gatilho ou desembainham adagas. Em algum lugar do seu cérebro, porém, percebem que uma França dividida divide a Europa, divide o mundo.
Assim foi durante a Revolução dos Direitos Humanos, que entrou para a história designada como Francesa (1789-1799), repetiu-se um século depois no affaire Dreyfus (1894-1906, quando o duelo antissemitismo versus liberalismo alcançou o âmago da família francesa, espalhou-se pelo mundo e chegou ao Brasil através da pena libertária de Ruy Barbosa). E assim foi em 1940, quando a direita francesa entregou-se de corpo e alma não apenas ao poderoso exército de Hitler, mas à sua insanidade. A França abatida abateu o mundo.
“O fardo do nosso tempo”, título original do atualíssimo estudo de Hannah Arendt que acabou intitulado As origens do totalitarismo (1951), aponta para o antissemitismo como traço comum entre o nazismo e o stalinismo. A jihad francesa adotou a ferocidade racista através de chacinas contra instituições, escolas e culminou com o sanguinário ataque nesta sexta a um açougue judeu. Para livrar-se do sofisticado Trotsky, o totalitário Stalin não escondeu que o rival judeu era um burguês cosmopolita.
A França e a cultura francesa são patrimônios da humanidade, cada um de nós é herdeiro deste esplêndido legado. Somos franceses, mesmo que o idioma inglês tenha se transformado em língua franca. Romain Rolland, Roger Martin du Gard e Albert Camus compreenderam muito bem a natureza deste pertencimento. Apesar de um certo ostracismo na era pós-Mitterrand, esse patrimônio voltou a pulsar nos últimos dias com o emocionante brado global “Je suis Charlie”.
Aux armes, citoyens, às armas, cidadãos, canta a Marselhesa – hino nacional francês há 220 anos –, mas as armas que apareceram nas silenciosas manifestações em todo o mundo não são as mortíferas Kalashnikov, mas os crayons, os lápis de cor preferidos pelos desenhistas e cartunistas.
A França unida será o lema da grande manifestação convocada para este domingo com a maciça participação dos partidos de esquerda que admitiram a participação dos conservadores de Sarkozy, mas rejeitaram terminantemente a presença dos ultradireitistas que seguem a família Le Pen. Exclusão compreensível sob o ponto de vista moral – a islamofobia e a xenofobia francesas são a principal alimentadora da jihad. Convenhamos, inadequada.
Inadequada porque divide – e esta é a hora de juntar, somar, agregar os que se opõem ao terror. E inadequada porque impede que os lepenistas, hoje tentando desesperadamente escapar da tentação fascista com uma maquiagem “civilizada”, abandonem sua pregação original, odiosa, racista.
“Soldados: do alto destas pirâmides 40 séculos vos contemplam” proclamou no Egito o general Napoleão Bonaparte, 29 anos, antes de vencer os inimigos ingleses. Hoje simplificada, mais impactante, a inspirada retórica francesa precisa dizer àqueles que se deixam esmagar pelo fardo do fanatismo e do fundamentalismo que a humanidade é singular e plural, concêntrica, única, indivisível.

*Alberto Dines é jornalista.



quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Família em 1º lugar. Governadora nomeia 19 parentes.

Suely Campos (PP) tomou posse no dia 1º de janeiro

Governadora de RR dá cargos a 19 parentes, que custarão R$ 398 mil por mês

Aliny Gama
Do UOL, em Maceió

A governadora de Roraima, Suely Campos (PP), nomeou 19 parentes para secretarias do Estado, dentre eles suas próprias filhas e uma irmã, com salários que, somados, custarão R$ 398 mil por mês aos cofres públicos.
O MP-RR (Ministério Público do Estado de Roraima) pediu que os parentes indicados pela governadora sejam exonerados.
Segundo a edição de 1º de janeiro de 2015 do Diário Oficial da Assembleia Legislativa de Roraima, Suely nomeou as filhas Danielle Araújo e Emília Santos para a Casa Civil e para a Setrabes (Secretaria Estadual de Trabalho e Bem-Estar Social), respectivamente.
Para a pasta da Seed (Secretaria Estadual de Educação), a irmã Selma Mulinari será a titular, e para o cargo de secretário adjunto da Seapa (Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o irmão João Paulo de Souza e Silva foi o indicado.
As nomeações de parentes não param por ai. Cinco sobrinhos do marido da governadora, Neudo Campos, foram nomeados para  cargos no governo.
Anderson Campos foi nomeado secretário adjunto da Seinf (Secretaria de Infraestrutura); Júlia Vieira Campos responde pela reitoria da  Univirr (Universidade Virtual de Roraima); Kalil Linhares, e o irmão dele, Paulo Linhares, foram nomeados secretário e adjunto da Sesau (Secretaria Estadual de Saúde), e e Frederico Linhares assumiu a Secretaria da Gestão Estratégica e Administração.
Josué dos Santos Filho, sogro da filha da governadora, Emília Santos, é o novo responsável da Sejuc (Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania). A mulher de Josué, Graciela Ziebert, foi nomeada secretária adjunta da Educação. Um dos filhos do casal, Hugo Leonardo Santos, foi nomeado ouvidor geral do Estado e a mulher de Hugo, Isaberla Dias, será a controladora geral do Estado.
Parentes da outra filha da governadora, Daniele Araújo, também fazem parte do primeiro escalão de governo. O concunhado do marido de Daniele, José Alcione Almeida Júnior, é adjunto da Secult (Secretaria de Estado da Cultura).
Hipérion de Oliveira, titular da secretaria de Agricultura, Weberson Reis Pessoa, titular da Aferr (Agência de Fomento de Roraima), e Juscelino Kubischeck, presidente do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), são primos da governadora.
Outros parentes distantes também foram agraciados com cargos no governo, como Francisco Santiago, nomeado presidente do Iteraima (Instituto de Terras de Roraima), que é marido de uma prima da governadora Suely.
Ainda foram nomeados João Paulo de Souza e Silva, adjunto da secretaria de Agricultura, irmão de Suely Campos, e Lissandra Lima Campos, mulher de Guilherme Campos, filho da governadora.
MP-RR recomenda exoneração dos parentes da governadora
O MP-RR recomendou que a governadora exonere os ocupantes dos cargos comissionados que tenham parentesco com ela.
Os promotores Luiz Antonio Araújo de Souza e Ricardo Fontanella informaram que estão analisando as nomeações. Em nota, eles afirmaram que "são princípios norteadores da administração pública a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência".
Segundo a recomendação do MP-RR, "não resta dúvida que a nomeação dos secretários decorrentes do liame familiar ofende os preceitos constitucionais da moralidade, razoabilidade e eficiência decorrentes do artigo 37 da Constituição Federal".
"A prática do nepotismo é contrária aos princípios da moralidade, da impessoalidade, da isonomia e da eficiência, sendo vedada sua prática em todos os Poderes constituídos no Brasil", afirmaram os promotores.
O UOL tentou contato com o governo do Estado de Roraima por meio de sua secretaria de Comunicação, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Assembleia Legislativa não se pronunciará; OAB-RR diz que está "atenta"
A Assembleia Legislativa informou por meio de nota que não vai se pronunciar sobre o assunto. Para o presidente Jalser Renier (PSDC), é "cedo para fazer quaisquer avaliações".
A OAB-RR (Ordem dos Advogados do Brasil em Roraima) informou que está atenta as nomeações, mas que não vê neste primeiro momento nenhuma ilegalidade.
O presidente da entidade, Jorge Fraxe, destacou que os cargos são de ordem política e a lei dá base para este tipo de nomeação.
"Estamos analisando todos os cargos e faremos os cruzamentos de dados com nomeados do primeiro, segundo e terceiro escalões", disse.