sábado, 27 de fevereiro de 2016

Expulsos da história


Expulsos da história

Ruy Castro*

Se você tem filhos nos graus fundamental e médio, trate de se reciclar se quiser continuar ajudando as crianças no dever de casa. O MEC anuncia uma reforma no ensino de história, chamada "Base Nacional Comum Curricular", que visa mudar a cabecinha dos garotos. Se aplicada, o Brasil virará as costas ao componente europeu de suas origens e abraçará com exclusividade o seu lado indígena e africano. Ensinar-se-á aos meninos apenas o essencial para se tornarem futuros bons petistas.
Pelas novas diretrizes, evaporam-se o Egito, berço da urbanização, do comércio e da escrita, a Grécia do teatro, da poesia e da filosofia, e a Roma da prática jurídica, política e administrativa. Ignora-se o surgimento do judaísmo, do cristianismo e do Islã e desaparecem a Idade Média, o Renascimento e as navegações, estas só lembradas para dizer que o europeu escravizou e dizimou. A Revolução Industrial, o Século das Luzes e as conquistas científicas e tecnológicas de ingleses, franceses e americanos, tudo isso deixa de existir.
Quanto ao Brasil, todos os fatos envolvendo portugueses ou luso-brasileiros são desconsiderados. Os novos protagonistas passam a ser os ameríndios, africanos e afro-brasileiros. Bem, se os portugueses são enxotados do currículo com essa sem-cerimônia, considere-se também expulso da história se seus ascendentes forem libaneses, italianos ou japoneses –derramaram o suor em vão por um país que, agora, lhes mostra a língua.
Este currículo foi elaborado quando o lulopetismo acreditava que reinaria por 20 anos, e se destinava a formar as consciências dos que o trariam de volta quando o atual ciclo se esgotasse.
O PT, hoje, ameaça se juntar às ararinhas-azuis, mas a implantação do currículo do MEC equivale a uma bomba-relógio que ele legará aos que o sucederem.

* Escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Colunista do jornal Folha de S.Paulo.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Os economistas austríacos que refutaram Marx e sua tese de que o trabalho assalariado é exploração


Os economistas austríacos que refutaram Marx e sua tese de que o trabalho assalariado é exploração

por Richard Ebeling

Aumentar os gastos por si só não gera crescimento, e o mundo atual está recheado de exemplos

Políticos adoram declarar publicamente que sabem qual é o valor do salário mínimo que qualquer trabalhador no país deveria receber.  Só não explicam como chegaram a esse valor e nem muito menos por que o valor escolhido não pode ser $1 maior ou menor.
Adicionalmente, todos eles têm uma certeza: empresários, empreendedores e capitalistas são exploradores sem coração que se aproveitam da mão-de-obra de alguns de seus trabalhadores não lhes pagando a "quantia justa" que seu trabalho genuinamente merece.
O que está por trás deste pensamento sobre o valor "razoável" ou "justo" do salário mínimo é o fantasma de um pensador que há muito tempo pensava-se que teria sido relegado à lata de lixo da história: Karl Marx (1818-1883).

A teoria do valor-trabalho de Marx para o valor de um trabalhador

A concepção de Marx a respeito da "escravidão salarial" injusta que os capitalistas e empreendedores impunham a seus trabalhadores tornou-se a premissa e o grito de guerra que resultaram nas revoluções comunistas do século XX, com toda a sua destruição e terror.
Marx insistia em que o "valor real" de qualquer bem produzido era determinado pela quantidade de trabalho empregado na sua fabricação. Se a produção de um par de sapatos consome quatro horas de trabalho, e se são necessárias duas horas de trabalho para preparar e assar um bolo, então a "taxa de câmbio" justa entre essas duas mercadorias deveria ser a de um par de sapatos por dois bolos. Dessa maneira, esses dois bens seriam trocados a uma taxa que representa quantidades comparáveis do tempo de trabalho gasto para produzi-los.
Se o trabalho de um operário produziu, digamos, três pares de sapatos durante uma jornada de trabalho de doze horas, então o trabalhador tem o justo direito à propriedade dos três pares de sapatos produzidos pelo seu trabalho, de modo que ele poderia trocá-los pelos produtos que quisesse adquirir dos outros trabalhadores.
Contudo, insistia Marx, o capitalista que contratou o trabalhador não lhe paga um salário igual ao valor dos três pares de sapatos que este produziu. Isso ocorre, segundo Marx, simplesmente porque o capitalista é o proprietário da fábrica e das máquinas (a fábrica e as máquinas são a propriedade privada que o trabalhador utilizou para produzir esses sapatos).  Logo, estando estes bens de produção em propriedade do capitalista e não do trabalhador, o trabalhador tem de se sujeitar às demandas do capitalista, aceitando assim entregar ao capitalista uma fatia daquilo que sua mão-de-obra produz — caso contrário, morrerá de fome no frio.
O empregador paga ao trabalhador um salário somente igual a, digamos, dois pares de sapatos, desta forma "roubando" uma parte do seu trabalho.
Assim, na concepção de Marx, o valor de mercado do terceiro par de sapatos do qual o capitalista se apropriou partir do trabalho do trabalhador seria a fonte de seu lucro, ou o ganho líquido sobre os custos de contratar o trabalhador.
Eis aí a origem da noção marxista de "renda imerecida", que seria a renda que não decorre de ter de trabalhar e produzir, mas simplesmente de se ser o proprietário de um negócio privado que emprega trabalhadores que realmente fazem todo o trabalho.
O capitalista, como você vê, não faz nada. Vive do trabalho dos outros, enquanto fica sentado em seu escritório, com seus pés sobre a escrivaninha, fumando um charuto (quando ainda era "politicamente correto" fazer isso). Não é de se surpreender, diante deste raciocínio sobre o trabalho, os salários e o lucro, que políticos e intelectuais não tenham apreço por capitalistas e empreendedores.

Carl Menger e o valor subjetivo das coisas

Karl Marx morreu em 1883, aos 64 anos de idade. Uma década antes de sua morte, no início dos anos 1870, sua teoria do valor-trabalho foi derrubada por diversos economistas. O mais importante deles foi o economista austríaco Carl Menger (1840-1921) em seu livro de 1871, Princípios de Economia Política.
Menger explicou que o valor de um bem não deriva da quantidade de trabalho despendida em sua fabricação. Um homem pode gastar centenas de horas fazendo sorvetes de lama, mas se ninguém atribuir qualquer serventia a estes sorvetes de lama — e, portanto, não os valorizar o suficiente para pagar alguma coisa por eles —, então tais produtos não têm nenhum valor, não obstante as centenas de horas gastas em sua fabricação.
Assim como a beleza, o valor — como diz o velho provérbio — está nos olhos de quem vê. O valor de um bem é subjetivo: depende do uso e do grau de importância pessoal (subjetiva) que alguém confere a esse bem (seja ele uma mercadoria ou um serviço).  Se o bem servir para algum fim ou propósito, então terá valor para ao menos uma pessoa.
Bens, ao contrário do que diz a teoria marxista, não têm valor por causa da quantidade de trabalho consumida em sua produção. Por outro lado, uma determinada habilidade de trabalho pode ter grande valor caso seja considerada útil (como um meio produtivo) para se alcançar um objetivo que alguém tem em mente.
Adicionalmente, o valor de bens idênticos decresce à medida que a quantidade delas aumenta.  E isso ocorre porque atribuímos a cada quantidade adicional de um mesmo bem à nossa disposição um propósito menos importante do que o propósito já atribuído para as unidades previamente adquiridas desse bem.
Por exemplo, à medida que acrescento camisas idênticas ao meu guarda-roupa, cada camisa extra em geral terá menos importância para mim do que as mesmas camisas que comprei anteriormente. Os economistas chamam isto de "utilidade marginal decrescente dos bens".

Ninguém paga por um bem mais do que aquilo que considera que ele vale

Assim, não há um valor mínimo "objetivo" que seja inerente ao ato de trabalhar. Um empregador contrata trabalhadores porque estes irão ajudá-lo a produzir um produto que acredita que poderá vender a potenciais consumidores. Na medida em que o empregador contrata trabalhadores com as mesmas habilidades específicas, cada um desses trabalhadores é alocado para uma tarefa menos importante do que aquela para a qual o trabalhador anterior, de mesma habilidade, foi contratado.
Como consequência, nenhum empregador pode pagar ou irá pagar mais por algum trabalhador do que aquilo que acredita que seus serviços valem (em termos de agregar valor às suas atividades de produção). 
Sendo assim, o valor de um trabalhador depende do tanto que o empregador acredita que o bem produzido vale para o público consumidor, que é quem decide comprar — ou se abster de comprar — o bem que o trabalhador ajuda a produzir.
Suponha que um empregador acredite que algumas das pessoas de sua força de trabalho contribuem com não mais do que $ 6 por hora para fabricar um produto que ele espera vender aos consumidores. Se o governo lhe disser que ele tem a obrigação legal de pagar a cada um de seus trabalhadores um salário mínimo que não pode ficar abaixo de $ 7,40 ou $ 10,10 por hora, não será nada surpreendente se ele optar por dispensar aqueles trabalhadores que considera custarem mais do que produzem.
Adicionalmente, outros empregos que poderiam estar disponíveis por $ 6 por hora nunca chegarão a existir.
Tudo o que um salário mínimo decretado pelo governo consegue fazer é expulsar do mercado de trabalho aqueles trabalhadores cuja contribuição para a fabricação de um produto é menor do que o valor que o governo determinou que deve ser pago a eles.
Mas o que o empregador faz exatamente? No que ele contribui para o processo de produção, para além do trabalho feito pelos empregados contratados? Marx, conforme vimos, argumentou que o "lucro" do capitalista seria o valor daquela fatia da produção do trabalhador que foi apropriada pelo empregador simplesmente pelo fato de ele ser proprietário do empreendimento no qual o trabalhador está empregado.

Böhm-Bawerk e a importância da poupança para a geração de empregos

Outro economista austríaco, Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914), que desenvolveu muitas das ideias que se originaram com Carl Menger, respondeu a Marx.
Em uma importante obra em três volumes intitulada Capital and Interest (1914), e em diversos ensaios, dos quais os mais importantes foram "Unresolved Contradiction in the Marxian Economic System" (1896) e "Control or Economic Law" (1914), Böhm-Bawerk perguntou: de onde vêm os empreendimentos nos quais os trabalhadores são empregados? E de onde vêm os recursos que garantem o pagamento dos salários dos trabalhadores?
Como a fábrica foi construída? De onde vem o capital — as máquinas, ferramentas e equipamentos — das fábricas, com o qual os trabalhadores contratados realizam seu trabalho para produzir os bens que eventualmente estarão disponíveis para os consumidores comprarem?
A resposta de Böhm-Bawerk foi que alguém necessariamente teve de poupar uma parte dos rendimentos obtidos no passado para, então, utilizar esses recursos poupados na construção da empresa e no seu aparelhamento com todos os bens de capital necessários, sem os quais o trabalho de qualquer trabalhador seria consideravelmente muito menos produtivo, com muito menos quantidades produzidas, e muito mais imperfeito em sua qualidade.
O empreendedor que inicia um empreendimento tem necessariamente de ou ter economizado os fundos necessários para cobrir suas próprias despesas de investimento ou ter tomado emprestado de outros que pouparam o necessário. Alguém teve necessariamente de se sacrificar, de abrir mão do consumo no presente para que essas economias estejam disponíveis no futuro para financiar o empreendimento.  Quando o empreendimento for feito, ele poderá então gerar um retorno financeiro no futuro, quando o produto houver sido fabricado e for vendido.
Um indivíduo só irá abrir mão do seu consumo no presente se ele for suficientemente compensado com um ganho futuro que faça valer a pena abrir mão desse consumo e prazer no presente.  Poupança é sacrifício e esse sacrifício tem de ser compensado.
É por isso que são pagos juros.  Juros são o preço pago a alguém que optou por abrir mão do consumo presente para, com isso, obter um valor maior no futuro.  Juros são o preço que arbitram se os recursos serão consumidos no presente ou investidos para o futuro.  Juros são o preço que os poupadores recebem no futuro por sacrificarem satisfações mais imediatas do presente, até que as quantias emprestadas sejam pagas de volta.
E o tomador de empréstimo paga esses juros porque ele valoriza mais o uso que fará do dinheiro e dos recursos que toma emprestado hoje do que todo o juro que pagará pelo empréstimo no futuro.

Empreendedores e capitalistas poupam os trabalhadores de terem de esperar pelos seus salários

O fato de empreendedores terem esses recursos à disposição — sejam eles oriundos de sua própria poupança passada ou de terem pegado emprestado a poupança de terceiros — significa que aqueles que ele emprega não terão de esperar até que os bens sejam produzidos e realmente vendidos para receberem seus salários pelo trabalho que realizaram durante o período de produção.
O empregador, em outras palavras, "adianta" aos trabalhadores o valor de seus serviços enquanto o processo de produção está em andamento, precisamente para aliviar seus empregados de terem de esperar até que as receitas da venda dos produtos aos consumidores sejam recebidas no futuro.
O fato de o trabalhador não receber o "valor total" da produção futura simplesmente reflete o fato de que é impossível o homem trocar bens futuros por bens presentes sem que haja um desconto no valor. O pagamento salarial representa bens presentes, ao passo que os serviços de sua mão-de-obra representam apenas bens futuros.
Com efeito, é por isso que é correto dizer que é o empreendedor quem de fato "faz tudo", pois sem sua disposição e capacidade para organizar, financiar e dirigir o empreendimento, seus empregados não teriam trabalho e nem receberiam salários antes que um único produto fosse fabricado e vendido.
A apreciação deste último ponto é de importância crucial. O empreendedor não é somente o organizador da empresa e o investidor que faz tudo acontecer; ele também é quem irá arcar com as consequências caso não obtenha um lucro pelos seus esforços empresariais.

Empreendedores arcam com a incerteza de planejar para o futuro

Os trabalhadores e todos os demais que fornecem ao empreendedor os bens, serviços e recursos necessários para que todo o processo de produção ocorra recebem seu pagamento enquanto o trabalho está sendo feito.  Já o empreendedor arca com toda a incerteza sobre se irá ganhar ou não o suficiente com a venda de seus produtos para cobrir todas as despesas nas quais incorreu.  Ele, aliás, nem sequer sabe se conseguirá vender seu produto.
Ao pagar aos seus empregados os salários que foram acordados por contrato, o empreendedor os alivia da incerteza a respeito de se, no final do processo, haverá lucro, prejuízo, ou se a empresa ficará no zero a zero.
É o empreendedor quem tem de fazer os julgamentos especulativos e criativos sobre o que produzir e a que preços seus produtos poderão ser vendidos. A precisão deste juízo empreendedorial em conseguir antecipar melhor do que seus concorrentes aquilo que seus consumidores podem querer comprar no futuro, bem como os preços que poderão pagar por esses bens, é o que determinará o sucesso ou fracasso de seu empreendimento.
Assim, Karl Marx errou completamente ao não entender o que determina o valor dos bens, o valor dos trabalhadores no processo de produção, e o papel vital e essencial do empreendedor, que é realmente quem faz com que as coisas aconteçam.

O mal decorrente das políticas baseadas em Marx

É de pouca importância se políticos e intelectuais que vêem trabalho, salários e empreendedores sob uma ótica de conflito de classes estão cientes do quanto suas concepções a respeito do capitalismo e do mercado de trabalho são implicitamente derivadas e influenciadas pelas ruminações obsoletas de um socialista revolucionário de meados do século XIX.
O que realmente importa é que políticas econômicas baseadas nesses equívocos marxistas a respeito da natureza e do funcionamento da economia de livre mercado irão gerar malefícios para aquelas mesmas pessoas a quem, supostamente, tais políticas deveriam ajudar.
E tais políticas equivocadas destruirão ainda mais os fundamentos essenciais do sistema de livre mercado, o qual, no decorrer dos últimos duzentos anos, deu aos homens uma liberdade pessoal e prosperidade material jamais ocorrida em toda a história humana. São políticas que destroem a liberdade que as pessoas possuem para trabalhar e se associarem livremente das maneiras que considerarem mais vantajosas, e que têm o potencial de levar a sociedade a um caminho ruinoso e conflituoso..

* Richard Ebeling leciona economia na Northwood University de Midland, Michigan, é um scholar adjunto do Mises Institute e trabalha no departamento de pesquisa do American Institute for Economic Research.




Cadê o multiplicador keynesiano?


Cadê o multiplicador keynesiano?

por Marília Fontes*

Aumentar os gastos por si só não gera crescimento, e o mundo atual está recheado de exemplos

Segundo Keynes, Mantega e Nelson Barbosa, uma política fiscal expansionista teria o poder de reviver o crescimento sustentável e direcionar o PIB ao seu potencial. Neste caso, em um cenário de baixo crescimento ou mesmo recessão, a política indicada para atacar o problema seria uma expansão fiscal.
Keynes explica em seu modelo que um aumento de gasto do governo de R$ 1,00 gera um aumento total do PIB maior que R$ 1,00, e isso se dá pelo efeito do multiplicador. O R$ 1,00 irá para alguém, que pegará parte deste dinheiro (um pedaço vira poupança) e gastará em outro lugar, e este outro lugar gastará em outro lugar, e assim por diante. No final teríamos somado um efeito de, digamos, R$ 1,50 no PIB.
Por conta deste simples modelo que se popularizou brutalmente na década de 1930 durante a Grande Depressão, milhares de governos são até hoje atraídos a executarem políticas expansionistas em períodos de crise.
Os Estados Unidos completaram três “quantitative easying” (programas de recompra em larga escala de títulos públicos e privados) recentemente, pós crise de 2008, injetando US$ 4 trilhões na economia. A Europa também promove um QE de 1,1 trilhão de euros, e o Japão também entrou para o clube anunciando 80 trilhões de ienes de estímulo.
Com tamanha injeção de dinheiro, deveríamos estar nadando em prosperidade. A economia mundial deveria estar pujante e o “animal spirit” do empresariado, aguçado.
Mas, infelizmente, a realidade não se mostra tão positiva. O crescimento mundial continua em queda. Dados do FMI que mostravam alta de 6% do PIB global em 2010 agora esperam apenas 3,4% para 2016.
No Brasil, os dados deste mesmo período foram ainda mais impressionantes. O estímulo do governo na economia foi dos maiores já contabilizados. O superávit médio de 2% que vinha sendo sistematicamente promovido desde 1999 passou para um déficit de 1,9% do PIB. Os gastos do governo cresceram de 30% para 41,5% do PIB.
Como todos sabemos, não há euforia nem desenvolvimento por aqui. O PIB de 2015 deve ficar próximo a -3,8% e para 2016 a expectativa gira próxima dos -3,4%.
Os países agora carregam uma dívida recorde em relação ao PIB e, além do baixo crescimento, temos também a crise no orçamento. Em outras palavras, estamos piores do que estávamos antes.
Mas onde a teoria falhou? Cadê o multiplicador?
Em “Lógica” aprendemos que se as premissas do modelo são falsas, então tudo derivado no modelo pode vir a ser falso também. O argumento derivado de uma premissa falsa é, portanto, falacioso.
O modelo de Keynes não explica de onde viria o dinheiro para o aumento dos gastos do governo. A premissa do modelo é que o governo tem orçamento infinito. Não preciso explicar em detalhes o porquê de isto ser um absurdo.
Na vida real, o aumento de gastos do governo é financiado por três opções, e cada uma delas tem o potencial inverso de gerar recessão de acordo com o modelo do próprio Keynes:
1a) Emissão de Moeda. Esta opção funciona como um “confisco” à medida que reduz o poder de compra de toda a sociedade via inflação. Se eu diminuo o meu poder de compra, eu compro menos e gero menos crescimento.
2o) Aumento de Impostos. Diminui meu consumo que, por sua vez, reduz o efeito multiplicador do aumento de gastos.
3o) Dívida. A dívida terá que ser paga um dia, eventualmente, via aumento de impostos ou emissão monetária. A não ser que o aumento dos gastos do governo seja realizado em setores que sejam de fato produtivos e, portanto, o crescimento posterior gerado (e a receita deste) compense os juros pagos no financiamento.
Para que os investimentos governamentais compensem os juros da dívida e gerem de fato crescimento é esperado que o direcionamento deste capital seja para setores produtivos.
Um bom “mau exemplo” seria o setor de máquinas de datilografar. Suponha que este setor está decadente pois a produção destas máquinas simplesmente não possui mais utilidade para a sociedade. Desta forma, para que se tenha a manutenção dos empregos, a empresa precisaria de um subsídio do governo.
O governo, por sua vez, principalmente em se tratando do nosso antigo Ministro Mantega cede à pressão do setor e subsidia a empresa em troca da manutenção dos postos de trabalho.
O resultado é mais emprego, porém, claramente menor crescimento. Não só o setor em si não irá gerar prosperidade, como a dívida proveniente desses gastos resultará em aumentos posteriores de impostos. Estes aumentos reduzirão o crescimento como um todo, e esta queda do PIB aumentará novamente o desemprego. Ou seja, não tem como escapar do desemprego, se ele acontece porque um setor se tornou obsoleto.
Por estas e outras, na grande maioria das vezes não faz sentido e definitivamente não gera crescimento sustentar empresas que possuem dificuldade de se manter.
Quando dizemos que é importante que se deixe ter desemprego somos considerados “o lado negro da força”.
Mas podemos esclarecer: o percentual de desemprego que seria necessário ocorreria de forma revezada. Isso quer dizer que não fica entre as mesmas pessoas. A maioria das pessoas que conheço já ficou desempregada por algum tempo. E os desempregados vão se revezando até que a economia livremente os aloque na forma mais eficiente possível.
Esta é a forma natural da população escolher quais os produtos são mais importantes para ela e aonde ela precisa que os empregos sejam direcionados para que todos tenham o seu papel e sejam remunerados adequadamente.
O empregado da fábrica de maquinas de datilografar teria que ser liberado do setor decadente e, de acordo com seus potenciais, ser realocado para o setor de produção de smartphones, por exemplo. Por um tempo, ele aparecerá na estatística do desemprego. No futuro, ele estará trabalhando produtivamente em um negócio próspero que se sustenta de forma independente e sem onerar o governo ou os contribuintes.
Resumindo, aumentar os gastos por si só não gera crescimento, e o mundo atual está recheado de exemplos disto. A queda do crescimento e o aumento do desemprego são a forma natural que a economia tem de ajustar recursos de setores não produtivos para setores produtivos.
Quanto o Estado decide fazer este papel, frequentemente, cai na armadilha do setor com necessidade que, não por coincidência, não é o mais produtivo e não retorna o investimento feito pelo governo. Acaba que a armadilha sobra depois para todos os contribuintes via aumento de impostos e crescimento ainda mais baixo.

* Marília Fontes é economista e analista da Empiricus Research



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Texto de A. Schwartsman sobre a tragédia econômica brasileira


Para tudo se acabar na quarta-feira

Alexandre Schwartsman

Folha de S.Paulo – 10/02/16

À folia do Carnaval se segue a Quaresma, período de penitência que se inicia hoje, na Quarta-feira de Cinzas. À folia da Nova Matriz Macroeconômica se segue o que promete ser a pior recessão brasileira desde que passamos a compilar os dados de produção nacional, há quase 70 anos.
Após queda do PIB da ordem de 3,5% a 4,0% no ano passado, as projeções indicam nova contração de magnitude semelhante em 2016, sem perspectivas, porém, de uma recuperação rápida como em outros episódios.
A presidente pode ter a duvidosa honra de ser o primeiro dirigente do país a entregá-lo ao sucessor menor do que era quando assumiu o governo.
É tentador estender a analogia, ainda que isto requeira trazer a análise mais próxima do campo moral do que economistas normalmente se sentem confortáveis. A crise é punição pelos nossos pecados e a penitência uma condição necessária para a retomada à frente?
Muito embora não tenha grande apreço pela noção de "pecado", é difícil escapar da conclusão óbvia: muito (não tudo) do que enfrentamos hoje é consequência direta das escolhas equivocadas da política econômica que passou a vigorar no país a partir de 2009 e que ganhou mais força desde 2011.
Pelo lado macro, o descaso com a inflação, o aumento sem precedentes do gasto e as intervenções constantes no mercado de câmbio criaram enormes desequilíbrios: inflação elevada, apesar de controles de preços (preço do dólar incluso), dívida pública crescente e um deficit superior a US$ 100 bilhões nas contas externas. Ainda que keynesianos de quermesse insistam que tal política poderia (e deveria!) ser mantida, é mais que
claro que a persistência nessa rota nos levaria a uma crise ainda maior do que a que passamos hoje.
Do lado micro o desastre não foi menor. A intervenção desregrada -desde medidas de fechamento do país à competição internacional até a escolha de "campeões nacionais" baseada em critérios nebulosos, para dizer o mínimo- implicou redução severa do ritmo de crescimento da produtividade, a devastação de alguns setores importantes (como o sucroalcooleiro, petróleo e energia), e criou um forte estímulo à busca de favores governamentais, fenômeno extraordinariamente batizado de "sociedade de meia-entrada", cujos impactos sobre o crescimento são notoriamente negativos.
Nesse sentido, sim, colhemos o que foi plantado com esmero pelos keynesianos de quermesse, ainda que hoje em dia estes olhem para o lado como se nada tivessem a ver com a política que tanto apoiaram, inclusive durante a eleição de 2014. Se quiserem tirar conclusões morais, sintam-se à vontade.
Isto dito, não há por que imaginar que a penitência (a recessão) haverá de promover necessariamente a redenção.
Não se trata aqui de um problema de "destruição criativa", ou das dificuldades naturais que enfrenta uma economia em processo de adaptação às mudanças internacionais, mas sim de um país cujo futuro foi hipotecado na forma de promessas impagáveis, das regras previdenciárias aos privilégios de grupos próximos ao poder.
Sem reformas que ataquem esses problemas, a Quaresma há de se estender bem mais do que hoje se imagina. Mais que penitência, precisamos de lideranças que estejam dispostas a mudar o país, senão vai tudo se acabar na quarta-feira.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O Livro Negro do Comunismo


Clique no link a seguir e faça o download de uma obra que desmascara as atrocidades cometidas pelos paradoxais justiceiros sociais, que se escondem atrás de falsos discursos nos quais pretendem iludir as mentes frágeis de que são defensores do povo, porém não passam de hipócritas oportunistas e criminosos.

http://www.mises.org.br/files/literature/O%20LIVRO%20NEGRO%20DO%20COMUNISMO%20-%20Crimes%20Terror%20E%20Repress%C3%A3o.pdf