PERFIL-Especialista em contas públicas,
Levy traz à Fazenda transparência e metas críveis
por Alonso Soto - Reuters
O
ex-secretário do Tesouro Nacional e executivo do Bradesco, Joaquim Levy, foi
escolhido nesta quinta-feira para assumir o Ministério da Fazenda, em uma
sinalização de que a presidente Dilma Rousseff quer mudanças na atual política
econômica em seu segundo mandato e injetar ânimo numa economia desaquecida.
Embora
Levy não estivesse inicialmente no radar dos investidores, ele é respeitado
tanto no mercado como entre os integrantes do governo Dilma, por causa de seu
estilo objetivo e pragmático.
Doutor
em economia pela Universidade de Chicago, Levy é atualmente o
diretor-superintendente da Bradesco Asset Management, braço de gestão de
recursos do Bradesco, e volta ao governo após ter sido secretário do Tesouro
Nacional durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A
expectativa de nomeação de Levy e de distanciamento em relação a políticas
intervencionistas vinha repercutindo positivamente nos mercados financeiros
domésticos desde a semana passada, quando seu nome foi vinculado à nova equipe
de Dilma.
"Ao
escolher Levy, ela está tentando recuperar credibilidade, o que é crucial neste
jogo", disse o economista do Goldman Sachs Alberto Ramos, que conheceu
Levy na Universidade de Chicago e depois no Fundo Monetário Internacional.
"É importante ter essa voz da razão na equipe, mas no fim das contas,
continua a ser um governo de Dilma Rousseff."
A
grande interrogação é sobre o grau de liberdade que o novo ministro da Fazenda
terá para definir as políticas sob o comando de Dilma, que é economista e gosta
de tomar ela mesma até as menores decisões sobre a política econômica, além de
manter forte controle sobre a equipe.
Levy,
que também já trabalhou como pesquisador para o Fundo Monetário Internacional
(FMI), vai enfrentar uma tarefa desafiadora de recuperar parte da credibilidade
perdida sob a gestão de seu antecessor, Guido Mantega, cujas projeções
otimistas e com frequência equivocadas acabaram aborrecendo investidores e
alguns de seus colegas de governo.
O
uso de métodos inusitados de contabilidade pelo governo para fortalecer o resultado
das contas públicas também afetou a confiança e aumentou o risco de
rebaixamento da classificação de crédito do país no próximo ano.
Poucos
economistas conhecem as finanças brasileiras como Levy.
Como
secretário do Tesouro, entre 2003 e 2006, ele teve papel vital em ajudar o
Brasil a obter o grau de investimento pelas agências de classificação de risco,
ao manter os gastos controlados e revisar toda a estrutura da dívida.
Ele
deve provavelmente pressionar por uma maior transparência nas contas públicas e
por metas fiscais críveis para fazer com que o governo economize mais,
auxiliando assim o Banco Central na tarefa de trazer a inflação para o centro
da meta.
Dilma
decidiu manter no cargo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
No
entanto, Levy vai ter que caminhar no fio da navalha para equilibrar as contas
públicas sem levar a economia para a recessão, diante dos baixos níveis de
investimento e do consumo em desaceleração.
Desde
que Dilma assumiu o governo em 2011, a economia cresceu ao ano em média menos
de 2 por cento, e deve crescer próximo de zero neste e no próximo ano,
resultado bem abaixo dos 4 por cento de crescimento ao ano registrado na década
anterior, quando o Brasil se tornou um favorito dos mercados em Wall Street.
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