Alerta de um cubano: tomem cuidado com os estímulos
morais do socialismo
Nelson
Rodríguez Chartrand
O socialismo — ou seja lá como
você queira chamar o modelo social sob o qual o povo cubano vive há mais de
meio século — não é digno de ser imitado por qualquer outro povo. Basta olhar para a realidade cubana atual e
observar nossa penúria para perceber isso.
O mínimo que podemos fazer
quando sofremos uma experiência trágica de vida, seja ela qual for, é alertar
os demais — caso contrário, seríamos culpados pelo sofrimento alheio e, assim,
assassinos tácitos e criminosos de nossa própria espécie.
É por esta razão, e como uma
necessidade impiedosa de minha própria consciência, que me disponho a
alertá-los — tomando como referência a experiência cubana — sobre os sutis
métodos psicológicos que podem ser utilizados por aqueles que pretendem fazer
do socialismo o modelo de esperança e de bem-estar das comunidades. É importante que não caiam no erro fatal de
serem cativados por um modelo social muito astuto, que emana da natureza
bárbara do homem.
Eis o recado: tomem cuidado com
os estímulos morais do socialismo.
Desde os primeiros anos de
poder, o governo revolucionário cubano tinha como prioridade a criação de um
novo homem, o qual seria qualitativamente superior. Neste sentido, iniciou-se em Cuba a ideia de
inculcar na população a convicção de que os estímulos morais deveriam estar
irreparavelmente acima dos estímulos materiais.
Sendo assim, coisas meramente
simbólicas, como um diploma, uma medalha, uma carta de agradecimento para os
vizinhos, o reconhecimento público ao coletivo de trabalho, ou apenas um aperto
de mão de um chefe, constituíam uma honra insuperável. Por outro lado, dar uma gratificação a um
garçom que nos oferecesse um excelente serviço em um restaurante passou a ser
imoral, e quem se dispusesse a fazê-lo estaria incorrendo em uma grave ofensa.
Ato contínuo, tornou-se
relativamente comum ver pessoas nas ruas ostentando medalhas e prêmios pendurados em suas
camisas. Ao mesmo tempo, essas mesmas
pessoas sofriam junto com suas famílias a carência de produtos básicos para a subsistência.
O ápice dos incentivos morais
passou a ser representado por uma única atitude: "trabalhos voluntários
não-remunerados", os quais eram realizados geralmente nos dias de descanso
do povo. Só que esses trabalhos nada
tinham de voluntários, pois uma eventual não-participação excluía o indivíduo
da classificação de "homem novo" e automaticamente o excomungava,
relegando-o aos confins do inferno do socialismo.
Atualmente, os "trabalhos
voluntários" evoluíram e estamos vivenciando em um estágio superior dessa
forma moral de exploração: as horas de trabalho não-remunerado realizadas por
cada trabalhador são contabilizadas para que, ao final do ano, os mais
aguerridos tenham a possibilidade de optar por um televisor, um ferro elétrico
ou uma bicicleta, para citar apenas três exemplos.
Só que, como em um regime
socialista tudo é escasso, as consequências geradas por esse arranjo são
dolorosas.
Eis o que acontece: para um
povo mergulhado na pobreza, qualquer item destes é um sonho, e talvez seja essa
a única oportunidade de obtê-los. Só que
há apenas 5 destes itens para serem distribuídos para 500 funcionários de uma
mesma estatal. Sendo assim, o leitor pode imaginar quantas discussões, quantas
brigas e quanto rancor são gerados quando se determina qual trabalhador foi o
escolhido para ser agraciado com esses utensílios. As amizades destruídas pelo ódio e por essa
divisão semeada pelo governo entre os cubanos são irreparáveis.
Apesar disso, o ingênuo, nobre
e fiel povo de Cuba ainda não percebeu que esses mesmos apologistas dos
"incentivos morais" estão recheando seus cofres pessoais — e não
apenas com medalhas e condecorações. Em
Cuba, cada vez mais pessoas têm menos e cada vez menos pessoas têm tudo.
E paradoxalmente, como
recompensa de tantos anos de trabalho e sacrifício, os trabalhadores contam
apenas com essas medalhas que empunham com orgulho, e também com uma miséria
humilhante, resultado dos estímulos morais do socialismo. Já os poderosos que controlam o regime ficam
com tudo, inclusive com os aplausos da intelectualidade ao redor do mundo.
Mas, graças a Deus, meu amado
povo de Cuba parece estar abrindo os olhos.
Prova disso são as crescentes deserções de atletas e médicos cubanos ao
redor do mundo, que não acreditam mais nesses estímulos e decidem fugir desta
sociedade de escravos.
Por isso, caro leitor, não se
engane: a primazia dos estímulos morais em contraposição aos estímulos
materiais não tem outra finalidade senão a de criar um novo homem,
conscientemente identificado com a miséria, e pacientemente à espera das
migalhas que lhe oferecem seus deuses protetores e eternos, aos quais devem
estar eternamente agradecidos. É disso
que se trata o socialismo.
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