Maioria dos brasileiros
é contra maconha medicinal
Cláudia
Collucci – jornal Folha de S.Paulo
A
maior parte da população brasileira (56%) é contra a venda de maconha para uso
medicinal, mas 50% aprovam a liberação de remédios derivados da droga.
É
o que mostra pesquisa Datafolha, encomendada pelo ICTQ (Instituto de Ciências
Tecnológicas e Qualidade Industrial). Foram feitas 2.162 entrevistas em todo o
país. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
O
assunto ganhou destaque desde o início do ano, quando famílias conseguiram na
Justiça autorização para importação do canabidiol (CBD), substância derivada da
maconha.
O
remédio tem sido usado contra casos graves de epilepsia. Desde abril, a Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já liberou 184 pedidos de
importação.
A
pesquisa mostra que o apoio à liberação da substância é maior conforme a
escolaridade (69% entre os que têm nível superior contra 38% dos com nível
fundamental) e nível socioeconômico (60% entre as classes A e B contra 33% das
C e D).
A
aprovação da maconha para uso medicinal segue a mesma tendência. "Os que têm mais acesso à informação
estão mais cientes do debate nacional e internacional e tendem a ser mais
liberais", diz Marcus Vinicius Andrade, diretor-executivo do ICTQ.
Segundo
a pesquisa, a discordância é maior em municípios do interior, nas regiões
Nordeste, Norte e Centro-Oeste e entre os mais velhos.
Para
o psiquiatra José Alexandre Crippa, da USP de Ribeirão Preto e que pesquisa o
uso do CBD, a população ainda tem pouca informação sobre o assunto. Ele diz que
é preciso cuidado porque há grupos tentando colocar no mesmo rol de discussões
a liberação da maconha para uso medicinal e os remédios com derivados da
maconha."São duas agendas
distintas."
Em
outubro, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo)
publicou norma autorizando os médicos a prescrever o canabidiol para casos
graves de epilepsia, deixando claro que não incentiva o uso da maconha fumada,
seja recreativo, seja medicinal.
"Estamos falando de
um componente [CBD] que pode ser isolado ou sintetizado por métodos confiáveis
e que não causa efeitos alucinógenos", disse Mauro Aranha, coordenador da Câmara Técnica de
Psiquiatria da Cremesp.
O
CFM (Conselho Federal de Medicina) estuda publicar norma semelhante, com
abrangência nacional.
"Não está se pensando
nesse momento na venda desses medicamentos em farmácia. Para isso, seriam
necessários antes a realização de vários estudos [comprovando benefícios e
segurança]", diz
Crippa, que está ajudando o CFM na elaboração da resolução.
O
médico coordenou um estudo recente demonstrando que o CBD também é eficaz para
melhorar a qualidade de vida e o bem-estar geral de pacientes com a doença de
Parkinson–ele espera que o CFM libere a substância também para esses casos.
A
Anvisa discute a retirada do canabidiol da lista de substâncias proibidas no
país, mas informa que ainda não tem data para a decisão. A principal dúvida é
em torno da dose ideal da substância para cada caso.
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