Direito de propriedade
não pode ser 'inquestionável', afirma novo ministro do Desenvolvimento Agrário
Com discurso oposto ao da nova ministra
da Agricultura, titular do Desenvolvimento Agrário fala em 'derrubar cercas de
latifúndios' e diz que direito de propriedade não pode ser 'inquestionável'
Diante
de uma plateia lotada, composta por autoridades e movimentos sociais, o
ministro Patrus Ananias assumiu nesta terçafeira, 6, o comando do Ministério
do Desenvolvimento Agrário, em Brasília. Em seu discurso, prometeu compromisso
com o avanço da reforma agrária e se mostrou disposto a debater o direito à propriedade,
que, segundo ele, não pode ser "inquestionável".
"Não
se trata de negar o direito de propriedade, uma conquista histórica e
civilizatória. E sim de adequar o direito de propriedade aos outros direitos
fundamentais", afirmou. "O direito de propriedade não pode ser, em nosso tempo,
inquestionável, que prevalece sobre os demais direitos",
complementou. O novo ministro reconhece que o tema "desperta
polêmicas" e, por isso, diz que a discussão deve envolver o Congresso, o
Poder Judiciário e movimentos sociais. "Passa pelo Congresso, pelo Poder
Judiciário, Ministério Público. Passa sobretudo pela sociedade, pelos meios de
comunicação e pelos movimentos sociais. No limite, é uma escolha feita pela própria sociedade",
afirmou.
O
discurso de Patrus vai em direção contrária ao posicionamento defendido pela
nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Ligada ao setor ruralista, a
exsenadora, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, argumentou que não
existem mais latifúndios no Brasil e que a reforma agrária pode ser
"pontual" e não "em massa". A nova titular não compareceu à
cerimônia. Já Patrus esteve na transmissão do cargo de Kátia, nessa segunda.
O
novo ministro assume a pasta no lugar de Miguel Rossetto, que já tomou posse na
SecretariaGeral da Presidência da República. Ex-ministro do Desenvolvimento
Social no governo Lula, Patrus recorreu à Constituição Federal e ao Papa
Francisco para justificar seu posicionamento em favor da "função social da
terra" e da democratização do acesso aos bens e direitos. Para ele, as reformas agrária
e urbana "desafiam" o País.
"Ignorar
ou negar a permanência da desigualdade e a injustiça é uma forma de
perpetuálas. Por isso não basta derrubar as cercas dos latifúndios, mas derrubar as
cercas que nos limitam a uma visão individualista e excludente do processo
social", complementou.
Prioridades.
A exemplo do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, no dia 1º, o novo
ministro prometeu dialogar com os movimentos sociais. Além de
programas relacionados à reforma agrária e à agricultura familiar, Patrus
destacou entre suas prioridades à frente da pasta a implantação da Agência
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater).
A
menção à política estatal de inovação no campo, criada em 2013 pela presidente Dilma
Rousseff, com a missão de oferecer assessoria técnica ao agricultor de pequeno
porte, coloca Patrus em rota de colisão com a nova titular da Agricultura, Kátia
Abreu sinalizou ontem, durante seu discurso de posse, que a Anater terá
importante papel na sua pasta para “dobrar a classe média rural em quatro
anos”. Ela destacou a política estatal como fundamental para promover uma
“revolução do conhecimento no campo”. “Iremos de porteira em porteira para
encontrar essas pessoas”, disse.
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