Novos salários, algumas questões
Marco
Milani
Recentemente,
os deputados federais e senadores brasileiros reajustaram seus vencimentos em
26%. Assim, cada parlamentar receberá, a partir de 2015, a remuneração mensal de
R$ 33,7 mil. Esse fato merece algumas considerações pela natural repercussão
que provoca.
Inicialmente,
destaca-se que a Constituição Federal permite os parlamentares aumentarem os
próprios salários para o próximo mandato, portanto não se trata de ato ilegal.
Considerando
apenas a recomposição do poder aquisitivo da moeda, o reajuste aprovado reflete
a inflação acumulada no período de quatro anos, dessa maneira, não é uma
correção abusiva.
O
novo valor também é compatível com o salário de um executivo em uma grande empresa,
logo não é incomum.
Então,
não sendo ilegal, abusivo ou incomum, haveria motivos para críticas?
Apesar de legal, a possibilidade de legislar
sobre a própria remuneração desperta questionamentos éticos, uma vez que existe
claro conflito de interesses.
Apesar
da justa recuperação do poder de compra da moeda, tal índice de correção se
mostra superior aos índices geralmente praticados nas diversas categorias do
funcionalismo público, privilegiando quem pode legislar em causa própria. Por
outro lado, essa decisão balizará, em efeito cascata, os salários de deputados
estaduais e vereadores em todo o país, com impacto direto no equilíbrio
orçamentário de todas as regiões.
Apesar
de ser um salário compatível a executivos corporativos, a remuneração do parlamentar
brasileiro é considerada uma das mais elevadas perante os seus pares no mundo.
A remuneração bruta nominal recebida por senadores brasileiros assemelha-se aos
valores recebidos pelos senadores italianos, um dos mais bem remunerados da
Europa. E quando a comparação é feita em termos relativos, existe uma distância
significativa entre os países.
Em
levantamento feito em 2013 pela revista inglesa The Economist, os parlamentares brasileiros ganhavam por ano o
equivalente a 13 vezes o valor do PIB per
capita do país, enquanto os italianos recebiam, proporcionalmente, menos de
4 vezes. Na Europa, em geral, os salários dos parlamentares eram inferiores a 2,5
vezes o valor do PIB per capita de
cada nação.
Porém,
o que faz com que os representantes do povo se diferenciem da maioria dos
brasileiros não são somente os 15 salários que recebem por ano, mas são os
ganhos indiretos. Cada parlamentar tem direito a verbas e cotas que,
mensalmente, podem somar cerca de R$ 165 mil por senador e R$ 85 mil por
deputado federal. Dessa maneira, o salário é a menor parte dos gastos que a
União tem com cada parlamentar.
Em
quase todas as nações os representantes públicos contam com verbas adicionais,
mas qual seria o resultado comparativo se somássemos todos os benefícios? Verificaríamos
que o custo do parlamentar brasileiro aos cofres públicos é igual ou superior ao
de países considerados de primeiro mundo.
Se
considerarmos as vultuosas campanhas que candidatos aos cargos eletivos
costumam fazer, é de se esperar que os valores gastos não sejam compensados na
forma exclusiva de salários, mas isso não quer dizer que devam procurar
maximizar seus ganhos privados em funções públicas.
Diante
da atual situação brasileira, com pífio crescimento econômico e necessidade de ajustes
fiscais, os representantes do povo perderam a oportunidade de, ao menos,
exemplificarem o que expressam em seus inflamados discursos sobre austeridade.
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