Um voto pela
reconciliação nacional
Editorial - O Estado de S.Paulo
26 Outubro 2014
A responsabilidade que a eleição
presidencial de hoje coloca sobre os ombros dos cidadãos brasileiros se estende
para muito além dos quatro anos do novo mandato do chefe de governo. Ao cabo de
12 anos do PT no poder e de uma campanha eleitoral em que predominou o mais
inescrupuloso marketing em prejuízo do embate de ideias, o Brasil se acha
dividido. Por enquanto, apenas em termos eleitorais.
Mas o terreno está ameaçadoramente
preparado para fazer germinar a cizânia social. Mais quatro anos de PT podem
significar a transformação da cada vez mais aguda hostilidade da polarização
"nós" versus "eles" num conflito social escancarado cuja
primeira vítima será a democracia.
Essa perspectiva assustadora será a
consequência natural da política de deliberada divisão da Nação sobre a qual o
lulopetismo tenta consolidar seu projeto de poder. O PT, criado há 35 anos com
a generosa ideia de promover o fim das injustiças sociais, perdeu-se ao longo
da jornada. Seus melhores quadros, plenos de idealismo político, abandonaram a
legenda ou foram dela descartados ao sabor das conveniências dos donos do
partido.
O PT transformou-se numa enorme
máquina que, para permanecer no poder, se aliou àqueles que antes combatia
ferozmente como inimigos do povo. E, nessa linha, não tem o menor escrúpulo de
focar sua ação, tanto na vida partidária como no exercício do poder, tão
somente naquilo que rende votos. O discurso petista, do qual Lula é o principal
mentor e melhor exemplo, tem três matrizes: dizer exclusivamente o que as
pessoas desejam ouvir; quando na defensiva, assumir o papel de vítima; e, na
ofensiva, tratar os adversários como inimigos a serem destruídos.
Em sua defesa, o PT não pode nem mais
alegar que a mudança de rota em relação ao curso originalmente traçado ocorreu
por imposição das circunstâncias e da necessidade de garantir com pragmatismo a
governabilidade em benefício dos despossuídos. A tal história dos fins que
justificam os meios.
Esse argumento desmorona quando todos
os indicadores sociais e econômicos revelam que os últimos quatro anos de
governo petista, sob o comando de Dilma Rousseff, significaram retrocesso. O
Brasil está hoje muito pior do que quando a atual candidata à reeleição assumiu
o poder.
Nessas circunstâncias, manipular
importantes realizações petistas dos últimos 12 anos - pois é claro que
existem, principalmente na área social - como se fossem obras do incompetente
governo Dilma é um dos embustes a que o marketing eleitoral companheiro
recorreu durante a atual campanha. Mas a peça de resistência da campanha
eleitoral petista é aquela estocada no departamento dos recursos escusos.
Primeiro, a tentativa - que contra Marina Silva deu certo no primeiro turno -
de destruir a imagem do adversário com ataques infames e mentirosos. A tática
foi insistentemente repetida agora contra Aécio Neves.
O mais infame da campanha lulopetista,
no entanto, é o discurso em que os dirigentes do partido, imitando Lula, se
especializaram: a instigação do conflito social, colocando "nós"
contra "eles", e situando o PT como o último bastião de resistência
do povo oprimido contra a ambição desmedida e a insensibilidade das
"elites".
Qual o sentido de Lula declarar,
desnudando sua natureza, que ao "agredir as mulheres" nos debates
eleitorais Aécio Neves demonstrou que é capaz também de "pisar nos
pobres"? Ou ao classificar o candidato tucano de "filhinho de
papai"? E de equiparar seus adversários eleitorais a nazistas? É assim que
se dissemina o ódio entre pessoas que deveriam, civilizadamente, apenas expor
firmemente suas divergências programáticas com adversários políticos.
Quando a divergência se transforma em
ódio, o caminho está aberto para o agravamento de tensões sociais e elas podem
se tornar explosivas.
Hoje, cada brasileiro tem a
oportunidade de conter essa ameaça, votando no candidato que se propõe - e está
credenciado para a tarefa - a reconciliar o Brasil consigo mesmo: Aécio Neves.
Fonte: OESP
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