Por que o nazismo era socialismo e por que o socialismo é totalitário?
George Reisman
Minha intenção é expor dois pontos
principais: (1) Mostrar que a Alemanha Nazista era um estado socialista, e não
capitalista. E (2) mostrar por que o socialismo, compreendido como um sistema
econômico baseado na propriedade estatal dos meios de produção, necessariamente
requer uma ditadura totalitária.
A caracterização da Alemanha Nazista como um estado socialista foi uma
das grandes contribuições de Ludwig von Mises.
Quando nos recordamos de que a palavra "Nazi" era uma
abreviatura de "der Nationalsozialistische Deutsche Arbeiters
Partei" -- Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães --,
a caracterização de Mises pode não parecer tão notável. O que se poderia
esperar do sistema econômico de um país comandado por um partido com
"socialista" no nome além de ser socialista?
Não obstante, além de Mises e seus leitores, praticamente ninguém pensa
na Alemanha Nazista como um estado socialista. É muito mais comum se acreditar
que ela representou uma forma de capitalismo, aquilo que comunistas e marxistas
em geral têm alegado.
A base do argumento de que a Alemanha Nazista era capitalista é o fato
de que a maioria das indústrias foi aparentemente deixada em mãos privadas.
O que Mises identificou foi que a propriedade privada dos meios de
produção existia apenas nominalmente sob o regime Nazista, e que o verdadeiro
conteúdo da propriedade dos meios de produção residia no governo alemão. Pois
era o governo alemão e não o proprietário privado nominal quem decidia o que
deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais métodos, e a quem seria
distribuído, bem como quais preços seriam cobrados e quais salários seriam
pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria permitido ao proprietário
privado nominal receber.
A posição do que se alega terem sido proprietários privados era reduzida
essencialmente à função de pensionistas do governo, como Mises demonstrou.
A propriedade governamental "de fato" dos meios de produção,
como Mises definiu, era uma consequência lógica de princípios coletivistas
fundamentais adotados pelos nazistas como o de que o bem comum vem antes do bem
privado e de que o indivíduo existe como meio para os fins do estado. Se o
indivíduo é um meio para os fins do estado, então, é claro, também o é sua
propriedade. Do mesmo modo em que ele pertence ao estado, sua propriedade
também pertence.
Mas o que especificamente estabeleceu o socialismo "de fato"
na Alemanha Nazista foi a introdução do controle de preços e salários em 1936.
Tais controles foram impostos como resposta ao aumento na quantidade de
dinheiro na economia praticada pelo regime nazista desde a época da sua chegada
ao poder, no início de 1933. O governo nazista aumentou a quantidade de
dinheiro no mercado como meio de financiar o vasto aumento nos gastos
governamentais devido a seus programas de infraestrutura, subsídios e
rearmamento. O controle de preços e salários foi imposto em resposta ao aumento
de preços resultante desta inflação.
O efeito causado pela combinação entre inflação e controle de preços foi
a escassez, ou seja, a situação na qual a quantidade de bens que as pessoas
tentam comprar excede a quantidade disponível para a venda.
As escassezes, por sua vez, resultam em caos econômico. Não se trata
apenas da situação em que consumidores que chegam mais cedo estão em posição de
adquirir todo o estoque de bens, deixando o consumidor que chega mais tarde sem
nada -- uma situação a que os governos tipicamente respondem impondo
racionamentos. Escassezes resultam em caos por todo o sistema econômico. Elas
tornam aleatória a distribuição de suprimentos entre as regiões geográficas, a
alocação de um fator de produção dentre seus diferentes produtos, a alocação de
trabalho e capital dentre os diferentes ramos do sistema econômico.
Face à combinação de controle de preços e escassezes, o efeito da
diminuição na oferta de um item não é, como seria em um mercado livre, o
aumento do preço e da lucratividade, operando o fim da diminuição da oferta, ou
a reversão da diminuição se esta tiver ido longe demais. O controle de preços
proíbe o aumento do preço e da lucratividade. Ao mesmo tempo, as escassezes
causadas pelo controle de preços impedem que aumentos na oferta reduzam o preço
e a lucratividade de um bem. Quando há uma escassez, o efeito de um aumento na
oferta é apenas a redução da severidade desta escassez. Apenas quando a
escassez é totalmente eliminada é que um aumento na oferta necessita de uma
diminuição no preço, trazendo consigo uma diminuição na lucratividade.
Como resultado, a combinação de controle de preços e escassezes torna possíveis
movimentos aleatórios de oferta sem qualquer efeito no preço ou na
lucratividade. Nesta situação, a produção de bens dos mais triviais e
desimportantes, como bichinhos de pelúcia, pode ser expandida à custa da
produção dos bens importantes e necessários, como medicamentos, sem efeito
sobre o preço ou lucratividade de nenhum dos bens. O controle de preços
impediria que a produção de remédios se tornasse mais lucrativa, conforme a sua
oferta fosse diminuindo, enquanto a escassez mesmo de bichinhos de pelúcia
impediria que sua produção se tornasse menos lucrativa conforme sua oferta
fosse aumentando.
Como Mises demonstrou, para lidar com os efeitos indesejados
decorrentes do controle de preços, o governo deve abolir o controle de preços
ou ampliar tais medidas, precisamente, o controle sobre o que é produzido, em
qual quantidade, por meio de quais métodos, e a quem é distribuído, ao qual me
referi anteriormente. A combinação de controle de preços com estas medidas
ampliadas constituem a socialização "de fato" do sistema econômico.
Pois significa que o governo exerce todos os poderes substantivos de
propriedade.
Este foi o socialismo instituído pelos nazistas. Mises o chama de modelo
alemão ou nazista de socialismo, em contraste ao mais óbvio socialismo dos
soviéticos, ao qual ele chama de modelo russo ou bolchevique de socialismo.
O socialismo, é claro, não acaba com o caos causado pela destruição do
sistema de preços. Ele apenas perpetua esse caos. E se introduzido sem a
existência prévia de controle de preços, seu efeito é inaugurar este mesmo
caos. Isto porque o socialismo não é um sistema econômico verdadeiramente
positivo. É meramente a negação do capitalismo e seu sistema de preços. E como
tal, a natureza essencial do socialismo é a mesma do caos econômico resultante
da destruição do sistema de preços por meio do controle de preços e salários.
(Quero demonstrar que a imposição de cotas de produção no estilo
bolchevique de socialismo, com a presença de incentivos por todos os lados para
que estas sejam excedidas, é uma fórmula certa para a escassez universal da
mesma forma como ocorre quando se controla preços e salários.)
No máximo, o socialismo meramente muda a direção do caos. O controle do
governo sobre a produção pode tornar possível uma maior produção de alguns bens
de especial importância para si mesmo, mas faz isso à custa de uma devastação
de todo o resto do sistema econômico. Isto porque o governo não tem como saber
dos efeitos no resto do sistema econômico da sua garantia da produção dos bens
aos quais atribui especial importância.
Os requisitos para a manutenção do sistema de controle de preços e
salários trazem à luz a natureza totalitária do socialismo -- mais obviamente,
é claro, na variante alemã ou nazista de socialismo, mas também no estilo
soviético.
Podemos começar com o fato de que o autointeresse financeiro dos
vendedores operando sob o controle de preços seja de contornar tais controles e
aumentar seus preços. Compradores, antes impossibilitados de obter os bens,
estão dispostos a -- na verdade, ansiosos para -- pagar estes preços mais altos
como meio de garantir os bens por eles desejados. Nestas circunstâncias, o que
pode impedir o aumento dos preços e o desenvolvimento de um imenso mercado
negro?
A resposta é a combinação de penas severas com uma grande probabilidade
de ser pego e, então, realmente punido. É provável que meras multas não gerem a
dissuasão necessária. Elas serão tidas como simplesmente um custo adicional. Se
o governo deseja realmente fazer valer o controle de preços, é necessário que
imponha penalidades comparadas àquelas dos piores crimes.
Mas a mera existência de tais penas não é o bastante. O governo deve
tornar realmente perigosa a condução de transações no mercado negro. Deve fazer
com que as pessoas temam que agindo desta forma possam, de alguma maneira, ser
descobertas pela polícia, acabando na cadeia. Para criar tal temor, o governo
deve criar um exército de espiões e informantes secretos. Por exemplo, o
governo deve fazer com que o dono da loja e o seu cliente tenham medo de que,
caso venham a se engajar em uma transação no mercado negro, algum outro cliente
na loja vá lhe informar.
Devido à privacidade e sigilo em que muitas transações no mercado negro
ocorrem, o governo deve ainda fazer com que qualquer participante de tais
transações tenha medo de que a outra parte possa ser um agente da polícia
tentando apanhá-lo. O governo deve fazer com que as pessoas temam até mesmo
seus parceiros de longa data, amigos e parentes, pois até eles podem ser
informantes.
E, finalmente, para obter condenações, o governo deve colocar a decisão
sobre a inocência ou culpa em casos de transações no mercado negro nas mãos de
um tribunal administrativo ou seus agentes de polícia presentes. Não pode
contar com julgamentos por júris, devido à dificuldade de se encontrar número
suficiente de jurados dispostos a condenar a vários anos de cadeia um homem
cujo crime foi vender alguns quilos de carne ou um par de sapatos acima do
preço máximo fixado.
Em suma, a partir daí o requisito apenas para a aplicação das
regulamentações de controle de preços é a adoção de características essenciais
de um estado totalitário, nominalmente o estabelecimento de uma categoria de
"crimes econômicos", em que a pacífica busca pelo autointeresse
material é tratada como uma ofensa criminosa grave. Para tanto é necessário o
estabelecimento de um aparato policial totalitário, repleto de espiões e
informantes, com o poder de prisões arbitrárias.
Claramente, a imposição e a fiscalização do controle de preços requerem
um governo similar à Alemanha de Hitler ou à Rússia de Stalin, no qual
praticamente qualquer pessoa pode ser um espião da polícia e no qual uma
polícia secreta existe e tem o poder de prender pessoas. Se o governo não está
disposto a ir tão longe, então, nesta medida, o controle de preços se prova
inaplicável e simplesmente entra em colapso. Nesse caso, o mercado negro assume
maiores proporções.
(Observação: não estou sugerindo que o controle de preços foi a causa do
reino de terror instituído pelos nazistas. Estes iniciaram seu reino de terror
bem antes da decretação do controle de preços. Como resultado, o controle de
preços foi decretado em um ambiente feito para a sua aplicação.)
As atividades do mercado negro exigem o cometimento de outros crimes.
Sob o socialismo "de fato", a produção e a venda de bens no mercado
negro exige o desafio às regulamentações governamentais no que diz respeito à
produção e à distribuição, bem como o desafio ao controle de preços. Por
exemplo, o governo pretende que os bens que são vendidos no mercado negro sejam
distribuídos de acordo com seu planejamento, e não de acordo com o do mercado
negro. O governo pretende, igualmente, que os fatores de produção usados para
se produzir aqueles bens sejam utilizados de acordo com o seu planejamento, e
não com o propósito de suprir o mercado negro.
Sobre um sistema socialista "de direito", como o que existia
na Rússia soviética, no qual o ordenamento jurídico do país aberta e
explicitamente tornava o governo o proprietário dos meios de produção, toda a
atividade do mercado negro, necessariamente, exige a apropriação indébita ou o
roubo da propriedade estatal. Por exemplo, considerava-se que os trabalhadores
e gerentes de fábricas na Rússia soviética que tiravam produtos destas para
vender no mercado negro estavam roubando matéria-prima fornecida pelo estado.
Além disso, em qualquer tipo de estado socialista -- nazista ou comunista
--, o plano econômico do governo é parte da lei suprema do país. Temos uma boa
ideia de quão caótico é o chamado processo de planejamento do socialismo. O
distúrbio adicional causado pelo desvio, para o mercado negro, de suprimentos
de produção e outros bens é algo que o estado socialista toma como um ato de
sabotagem ao planejamento econômico nacional. E sabotagem é como o ordenamento
jurídico dos estados socialistas se refere a isto. Em concordância com este
fato, atividades de mercado negro são, com frequência, punidas com pena de
morte.
Um fato fundamental que explica o reino de terror generalizado
encontrado sob o socialismo é o incrível dilema em que o estado socialista se
coloca em relação à massa de seus cidadãos. Por um lado, o estado assume total
responsabilidade pelo bem-estar econômico individual. O estilo de socialismo
russo ou bolchevique declara abertamente esta responsabilidade -- esta é a
fonte principal do seu apelo popular. Por outro lado, o estado socialista
desempenha essa função de maneira desastrosa, tornando a vida do indivíduo um
pesadelo.
Todos os dias de sua vida, o cidadão de um estado socialista tem de
perder tempo em infindáveis filas de espera. Para ele, os problemas enfrentados
pelos americanos com a escassez de gasolina nos anos 1970 são normais; só que
ele não enfrenta este problema em relação à gasolina -- pois ele não tem um
carro e nem a esperança de ter -- mas sim em relação a itens de vestuários,
verduras, frutas, e até mesmo pão.
Pior ainda: ele é forçado a trabalhar em um emprego que não foi por ele
escolhido e que, por isso, deve odiar. (Já que sob escassezes, o governo acaba
por decidir a alocação de trabalho da mesma maneira que faz com a alocação de
fatores de produção materiais.) E ele vive em uma situação de inacreditável
superlotação, com quase nenhuma chance de privacidade. Frente à escassez
habitacional, pessoas estranhas são designados pelo governo a morarem juntas;
famílias são obrigadas a compartilhar apartamentos. Um sistema de passaportes e
vistos internos é adotado a fim de limitar a severidade da escassez
habitacional em áreas mais desejáveis do país. Expondo suavemente, uma pessoa
forçada a viver em tais condições deve ferver de ressentimento e hostilidade.
Contra quem seria lógico que os cidadãos de um estado socialista
dirigissem seu ressentimento e hostilidade se não o próprio estado socialista?
Contra o mesmo estado socialista que proclamou sua responsabilidade pela vida
deles, prometeu uma vida de bênção, e que é responsável por proporcionar-lhes uma
vida de inferno. De fato, os dirigentes de um estado socialista vivem um dilema
no qual diariamente encorajam o povo a acreditar que o socialismo é um sistema
perfeito em que maus resultados só podem ser fruto do trabalho de pessoas más.
Se isso fosse verdade, quem poderiam ser estas pessoas más senão os próprios
líderes, que não apenas tornaram a vida um inferno, mas perverteram a este
ponto um sistema supostamente perfeito?
A isso se segue que os dirigentes de um estado socialista devem temer
seu povo. Pela lógica das suas ações e ensinamentos, o fervilhante e
borbulhante ressentimento do povo deveria jorrar e engoli-los numa orgia de
vingança sangrenta. Os dirigentes sentem isso, ainda que não admitam
abertamente; e, portanto, a sua maior preocupação é sempre manter fechada a
tampa da cidadania.
Consequentemente, é correto, mas bastante inadequado, dizer apenas que
"o socialismo carece de liberdade de imprensa e expressão." Carece, é
claro, destas liberdades. Se o governo é dono de todos os jornais e gráficas,
se ele decide para quais propósitos a prensa e o papel devem ser
disponibilizados, então obviamente nada que o governo não desejar poderá ser
impresso. Se a ele pertencem todos os salões de assembléias e encontros, nenhum
pronunciamento público ou palestra que o governo não queira não poderá ser
feita. Mas o socialismo vai muito além da mera falta de liberdade de imprensa e
de expressão.
Um governo socialista aniquila totalmente estas liberdades. Transforma a
imprensa e todo foro público em veículos de propaganda histérica em prol de si
mesmo, e pratica cruéis perseguições a todo aquele que ouse desviar-se uma
polegada da linha do partido oficial.
A razão para isto é o medo que o dirigente socialista tem do povo. Para
se proteger, eles devem ordenar que o ministério da propaganda e a polícia
secreta façam de tudo para reverter este medo. O primeiro deve tentar desviar
constantemente a atenção do povo quanto à responsabilidade do socialismo, e dos
dirigentes socialistas, em relação à miséria do povo. O outro deve desestimular
e silenciar qualquer pessoa que possa, mesmo que remotamente, sugerir a
responsabilidade do socialismo ou de seus dirigentes em relação à miséria do
povo -- ou seja, deve desestimular qualquer um que comece a mostrar sinais de
estar pensando por si mesmo.
É por causa do terror dos dirigentes, e da sua necessidade desesperada
de encontrar bodes-expiatórios para as falhas do socialismo, que a imprensa de
um país socialista está sempre cheia de histórias sobre conspirações e
sabotagens estrangeiras, e sobre corrupção e mau gerenciamento da parte de
oficiais subordinados, e por que, periodicamente, é necessário desmascarar
conspirações domésticas e sacrificar oficiais superiores e facções inteiras do
partido em gigantescos expurgos.
E é por causa do seu terror, e da sua necessidade desesperada de esmagar
qualquer suspiro de oposição em potencial, que os dirigentes do socialismo não
ousam permitir nem mesmo atividades puramente culturais que não estejam sob o
controle do estado. Pois se o povo se reúne para uma amostra de arte ou um
sarau de literário que não seja controlado pelo estado, os dirigentes devem
temer a disseminação de idéias perigosas. Quaisquer idéias não-autorizadas são
idéias perigosas, pois podem levar o povo a pensar por si mesmo e, a partir
daí, começar a pensar sobre a natureza do socialismo e de seus dirigentes.
Estes devem temer a reunião espontânea de qualquer punhado de pessoas em uma
sala, e usar a polícia secreta e seu aparato de espiões, informantes, e mesmo o
terror para impedir tais encontros ou ter certeza de que seu conteúdo é
inteiramente inofensivo do ponto de vista do estado.
O socialismo não pode ser mantido por muito tempo, exceto por meio do
terror. Assim que o terror é relaxado, ressentimento e hostilidade logicamente
começam a jorrar contra seus dirigentes. O palco está montado, então, para uma
revolução ou uma guerra civil. De fato, na ausência de terror, ou, mais
corretamente, de um grau suficiente de terror, o socialismo seria caracterizado
por uma infindável série de revoluções e guerras civis, conforme cada novo
grupo dirigente se mostrasse tão incapaz de fazer o socialismo funcionar quanto
foram seus predecessores.
A inescapável conclusão a ser traçada é a de que o terror experimentado
nos países socialistas não foi simplesmente culpa de homens maus, como Stalin,
mas sim algo que brota da natureza do sistema socialista. Stalin vem à frente
porque sua incomum perspicácia e disposição ao uso do terror foram as
características específicas mais necessárias para um líder socialista se manter
no poder. Ele ascendeu ao topo por meio de um processo de seleção natural
socialista: a seleção do pior.
Por fim, é necessário antecipar um possível mal-entendido em relação à
minha tese de que o socialismo é totalitário por natureza. Diz respeito aos
países supostamente socialistas dirigidos por social-democratas, como a Suécia
e outros países escandinavos, que claramente não são ditaduras totalitárias.
Neste caso, é necessário que se entenda que não sendo estes países
totalitários, não são também socialistas. Os partidos que os governam podem até
sustentar o socialismo como sua filosofia e seu fim último, mas socialismo não
é o que eles implementaram como seu sistema econômico. Na verdade, o sistema
econômico vigente em tais países é a economia de mercado obstruída, como Mises
definiu. Ainda que seja mais obstruído do que o nosso em aspectos importantes,
seu sistema econômico é essencialmente similar ao nosso, no qual a força motora
característica da produção e da atividade econômica não é o governo, mas sim a
iniciativa privada motivada pela perspectiva de lucro.
A razão pela qual social-democratas não estabelecem o socialismo quando
estão no poder, é que eles não estão dispostos a fazer o que seria necessário.
O estabelecimento do socialismo como um sistema econômico requer um ato massiço
de roubo -- os meios de produção devem ser expropriados de seus donos e tomados
pelo estado. É virtualmente certo que tais expropriações provoquem grande
resistência por parte dos proprietários, resistência que só pode ser vencida
pelo uso de força bruta.
Os comunistas estavam e estão dispostos a usar esta força, como
evidenciado na União Soviética. Seu caráter é o dos ladrões armados preparados
para matar caso isso seja necessário para dar cabo dos seus planos. O caráter
dos social-democratas, em contraste, é mais próximo ao dos batedores de
carteira: eles podem até falar em coisas grandiosas, mas não estão dispostos a
praticar a matança que seria necessária; e desistem ao menor sinal de
resistência séria.
Já os nazistas, em geral não tiveram que matar para expropriar a
propriedade dos alemães, fora os judeus. Isto porque, como vimos, eles
estabeleceram o socialismo discretamente, por meio do controle de preços, que
serviu para manter a aparência de propriedade privada. Os proprietários eram,
então, privados da sua propriedade sem saber e, portanto, sem sentir a
necessidade de defendê-la pela força.
Creio ter demonstrado que o socialismo -- o socialismo de verdade -- é
totalitário pela sua própria natureza.
Tradução de Fábio M. Ostermann
Fonte: Instituto Ludwig von Mises
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