Sem
"onda vermelha" no horizonte
por
Raymundo Costa
PT
refaz avaliação de crescimento de suas bancadas
O
PT fez as contas e concluiu que não tem como se tornar hegemônico no Senado e
na Câmara, nas próximas eleições, conforme o temor manifesto da oposição e dos
aliados. Só diz isso quem não se deu ao trabalho de fazer os cálculos ou quer
tumultuar ainda mais a sucessão presidencial e as relações na base governista,
segundo avaliam líderes petistas.
De
acordo com levantamentos do PT, o partido no máximo mantém sua atual bancada na
Câmara, que é de 87 deputados, e talvez tenha algum crescimento no Senado. A
bancada tem 13 senadores, mas o número exato é de 14 - o suplente de Marta
Suplicy (SP), que no momento ocupa o Ministério da Cultura, é do PMDB. Marta
tem mais quatro anos de mandato e pode voltar em 2015, se não permanecer no
novo governo.
Dos
atuais senadores petistas, três devem disputar a reeleição. Contando com Marta,
o PT já entra em 2015 com 11 senadores. Resumindo: para chegar a 20 senadores -
que é o número do PMDB, atualmente a bancada majoritária -, o PT precisa eleger
pelo menos nove de seus candidatos. Ocorre que o partido não deve disputar o
Senado em cerca de 18 Estados (incluindo o Distrito Federal), número que pode
aumentar - para privilegiar alianças regionais - ou diminuir. Nada
significativo, para maior ou para menor. Ou seja, para se tornar hegemônico no
Senado, o PT precisaria eleger algo em torno de 90% das vagas que disputará
nesses Estados.
Hegemônico
não é propriamente a palavra correta, porque se eleger nove ou dez senadores, o
PT terá uma bancada majoritária, como atualmente é a do PMDB. O partido se
tornaria menos vulnerável a barganhas com os pemedebistas e outros aliados, é
bem verdade; mas ainda precisaria de uma generosa porção de votos dos aliados
para aprovar projetos que têm a marca do PT. Por exemplo, a proposta de
regulamentação social da mídia.
Na
região Sul, o PT pode ter candidato ao Senado em Santa Catarina. Depende ainda
dos acertos locais. Nos quatro Estados do Sudeste, só o senador Eduardo
Suplicy, em São Paulo, um dos três senadores petistas que precisam renovar o
mandato. O Norte deve ter um candidato, no Pará, em acordo com o PMDB do
senador Jader Barbalho, apesar da forte oposição de facções petistas.
No
Centro-Oeste om PT não terá candidato em Mato Grosso, nem em Mato Grosso do
Sul. Falta uma definição para Goiás. No Distrito Federal, onde o candidato à
reeleição é do PT, a vaga para o Senado deve ser usada para negociação.
Se
a candidatura do senador Delcídio Amaral ao governo de Mato Grosso do Sul
obtiver sucesso, o PT perderá uma cadeira no Senado: o suplente de Delcídio é
do PMDB. A maior concentração de candidatos petistas deve ser no Nordeste. Dos
nove Estados da região, está certo apenas que o PT não disputará na Bahia,
Maranhão, Piauí e Alagoas. Há eventuais candidatos em todos os Estados, mas as
decisões serão de cúpula.
Na
Câmara o cálculo é mais difícil de ser feito, por se tratar de uma eleição
proporcional. A nominata dos Estados, no entanto, leva os líderes da campanha
petista a avalizar que a bancada do PT no máximo empata com a atual, e se
crescer dificilmente chegará a 130 deputados. São Paulo, por exemplo, tem 14
deputados federais. E há dúvidas se o partido pode repetir o desempenho de
2010.
As
dificuldades em São Paulo não são pequenas. De saída, o PT não contará na
eleição para federal com nomes bons de votos, em 2010, como João Paulo Cunha,
condenado no processo do mensalão, Jilmar Tatto e José de Filipi Júnior,
secretários da Prefeitura de São Paulo, nem com nomes novos que certamente
seriam bem votados, como Rui Falcão, presidente do PT. Até José Genoino, que
terminou a última eleição como suplente mas sempre carrega uma boa expectativa
de votos.
Algum
dos candidatos em São Paulo pode surpreender, inclusive pelo fato de o PT
considerar que entra na eleição para o governo do Estado com uma candidatura
competitiva, a do ex-ministro Alexandre Padilha. Mas qualquer projeção, à esta
altura, é chute. Até porque há outras variáveis.
O
palhaço Tiririca, nas eleições de 2010, segundo o cálculo do PT tirou pelo
menos dois deputados do partido. Ele repetirá a caudalosa votação de 2010?
Ninguém sabe. Tem ainda o mensalão e a administração de Fernando Haddad na
prefeitura de São Paulo, por enquanto, mal avaliada pela opinião pública. A
melhor projeção de crescimento da bancada do PT é Minas Gerais, onde o partido
terá um candidato competitivo a governador: Fernando Pimental, ex-ministro do
Desenvolvimento. Um ou dois deputados a mais.
O
PT começou os preparativos para a eleição de 2014, de fato, pensando em eleger
maioria tanto na Câmara quanto no Senado. O número mágico de 130 deputados
frequentou as conversas de seus dirigentes. Com o tempo, o partido precisou
adequar os planos à realidade da política de alianças, principalmente depois
que a presidente Dilma Rousseff levou um tombo nas pesquisas de junho de 2013.
No
início, prioridade era a indicação de candidatos ao Senado nas chapas
estaduais. Hoje, o planejamento do PT é vencer a eleição em um ou dois Estados
no chamado Triângulo das Bermudas, onde se localizam os maiores colégios
eleitorais da República - São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O PT é
competitivo também na eleição do Paraná. Em seu longo inverno na oposição,
esses (à exceção do Rio) foram os Estados que garantiram até agora a
sobrevivência do PSDB.
Uma
nova "onda vermelha" como a de 2002, evidentemente, será saudada
efusivamente pelos dirigentes petistas. Mas nem na cúpula do partido nem no
embrião de comitê de campanha de Dilma a previsão hoje é de hegemonia no
Congresso ou de um partido com o tamanho e as ramificações do PRI, que reinou
por mais de 70 anos na política mexicana. Isso, é claro, para não falar do
bolivarismo venezuelano, que é o pano de fundo real das avaliações sobre a
suposta hegemonia a ser conquistada pelo PT no Congresso.
Fonte:
Valor Econômico
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