Teorias
da conspiração
Editorial – Jornal O Estado
de S.Paulo - 17/02/15
Mais
do que nunca, a direção do Partido dos Trabalhadores (PT), acuada por
sucessivos escândalos de corrupção, resolveu que o ataque é a melhor defesa
mesmo que isso signifique distribuir caneladas toscas. O partido decidiu
atribuir suas agruras, agora oficialmente, a uma trama liderada por seus
adversários da "direita". A teoria da conspiração consta da última
resolução publicada pelo Diretório Nacional do PT.
Confundindose
com o próprio Estado, o PT considera que todas as acusações contra o partido
visam, na verdade, a desestabilizar o País e os petistas então convocam a
militância a "defender a democracia e as conquistas do povo". Para
isso, conforme se lê na mesma frase da resolução, é preciso "denunciar as
tentativas de desqualificar a atividade política e de criminalizar o PT".
Não
é a primeira vez que o partido se diz vítima de uma campanha que, segundo seu
discurso, tem como verdadeiro alvo a classe política em geral. Nem parece o
mesmo partido cujo principal líder, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva,
já se referiu ao Congresso, nos idos de 1993, como o abrigo de "300
picaretas". Mas aqueles eram tempos em que o PT era oposição
orgulhosamente raivosa e sem nenhuma dificuldade para boicotar as verdadeiras
conquistas dos brasileiros, como o controle da inflação proporcionado pelo
Plano Real.
Agora,
após 12 anos na Presidência, o PT parece considerar que nenhuma forma de
oposição é aceitável e que qualquer movimento que lhe soe como ameaça à sua
permanência no poder só pode ser qualificado como "golpista". A
resolução, não por coincidência, usa esse termo e, ato contínuo, propõe um
movimento que forme "em torno da reforma política democrática uma vontade
majoritária na sociedade".
Que
a reforma política é necessária, não há dúvida. Quando proposta pelo PT, no
entanto, a tal "reforma" deve ser entendida como uma manobra para
facilitar a perpetuação do partido no poder contra as "elites que não
conseguem vencer e nem convencer pelas ideias", conforme diz a resolução.
O
cardápio da reforma petista é conhecido. Em primeiro lugar, o partido quer o
fim das doações de empresas para campanhas eleitorais.
A
proposta, em si, é correta, mas, na boca dos dirigentes petistas, ela se presta
à mistificação segundo a qual foi esse tipo de financiamento que resultou nos
escândalos do mensalão e do petrolão. Nessa lógica de botequim, os políticos
(especialmente os do PT) seriam vítimas de um sistema que os corrompe. É uma
forma de dizer que o malandro não delinquiu porque é desonesto, mas porque a isso
foi levado pelas circunstâncias.
Embora
desdenhe do mundo político, a resolução petista "conclama a
militância" a articular "partidos, organizações e entidades"
para criar "uma força política capaz de ampliar nossa governabilidade para
além do Parlamento". Ou seja, como está enfrentando enormes dificuldades
no Congresso, o PT quer apelar às ruas para garantir a
"governabilidade" eufemismo para o completo controle petista sobre o
processo político e social.
Para
conseguir esse objetivo, nada melhor do que inventar um complô da oposição
contra a principal estatal e maior empresa do País. A resolução do PT denuncia
"as tentativas daqueles que investem contra a Petrobrás" e diz que as
seguidas acusações de corrupção envolvendo o partido são fruto da
"instrumentalização" das investigações, feitas "de forma
fraudulenta", com "objetivos partidários". As denúncias, afirmam
os petistas, "pretendem, na verdade, revogar o regime de partilha no
présal, destruir a política de conteúdo nacional e, inclusive, privatizar a
empresa". Botar em pratos limpos a roubalheira que dilapidou a Petrobrás
equivale, portanto, a um crime de lesapátria.
Como
se vê, é difícil de escolher, na resolução do PT, que parte simboliza melhor as
imposturas do partido. Talvez a melhor passagem seja a que diz que o PT
"reafirma a disposição firme e inabalável de apoiar o combate à
corrupção" e que "qualquer filiado que tiver, de forma comprovada,
participado de corrupção deve ser expulso". Os mensaleiros, ovacionados
como "guerreiros do povo brasileiro" pela militância petista, que o
digam.
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