Mais de 500 foram presos nos protestos da Venezuela,
denuncia ONG
Segundo levantamento
do Foro Penal Venezuelano, 401 foram detidos sem uma acusação formal
por Luiz Raatz,
enviado especial - O Estado de S. Paulo
CARACAS - Após quase
20 dias de protestos da oposição e de estudantes contra o governo do presidente
venezuelano, Nicolás Maduro, pelo menos 539 pessoas foram presas pelas forças
de segurança, 401 delas sem acusação formal. O levantamento foi divulgado neste
domingo, 23, pelo Foro Penal Venezuelano, ONG de direitos humanos crítica ao
chavismo que presta assistência jurídica aos manifestantes venezuelanos. Além
disso, a entidade contabiliza nove mortos - sete vítimas de violência policial
e dois de acidentes decorrentes de barricadas feitas por manifestantes - e 19
jornalistas detidos, além de casos de tortura e extorsão por parte das
autoridades. Não há registros de desaparecidos.
"Nós só pedimos
que os responsáveis por esses abusos sejam punidos. O governo venezuelano deve
identificar os chefes das unidades militares responsáveis pelos abusos",
disse o diretor do Foro Penal Venezuelano, Alfredo Romero. "O Estado é cúmplice
desse crime de lesa-humanidade."
A ONG apresentou em
entrevista coletiva uma série de fotos e laudos médicos de abusos cometidos
contra manifestantes. O caso mais chocante é o do estudante Juan Manuel
Carrasco, que teria sido violado por um fuzil. A cópia do laudo usado no
processo diz que a vítima apresentava um quadro hemorragia intestinal severa,
dores abdominais e lacerações internas.
O governo venezuelano
nega as acusações de abusos. "Aqui na Venezuela não se tortura. Para haver
tortura é preciso dar a ordem e eu não dei essa ordem", disse Maduro em
discurso na sexta-feira. "Esse é um governo que respeita os direitos
humanos", declarou a Procuradora-Geral da República, Luisa Ortega.
Mais cedo, a Divisão
Antihomicídios da Polícia Científica de Caracas identificou cinco membros do
Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) suspeitos de envolvimento na morte
do estudante Bassil da Costa, nos protestos de 12 de fevereiro e de ferir mais
dois manifestantes. Ele foi morto depois de participar de uma manifestação
contra o governo. Os agentes foram identificados como José Miguel Domínguez
Ramírez, José Giovanni Valladares López, Edgar José Lara Gómez, Andry Joswua
Jaspe López e Jonathan José Rodríguez Duarte. Os suspeitos foram identificados
com a ajuda de vídeos e fotos feitos por jornalistas e manifestantes. Depois da
morte de Da Costa, Maduro ordenou trocar a cúpula do Sebin.
A entidade jurídica,
no entanto, afirmou que o governo chavista vale-se da tática de prender os
estudantes sem acusação como forma de intimidação, para tentar coibi-los a
protestar outras vezes. "Muitas vezes exigem dinheiro para libertá-los ou
os agridem na prisão", disse o advogado Gonzalo Himiob. "Houve um
caso de um estudante que se apresentou com hematomas ao juiz depois de ter dado
entrada na cadeia com saúde. Foi liberado."
Repressão. Nos
últimos dias, ao menos duas manifestações foram reprimidas com violência pela
Guarda Nacional Bolivariana no bairro de Altamira, na zona leste de Caracas. Na
última delas, no sábado, a reportagem flagrou quatro prisões feitas por homens
da Polícia Nacional Bolivariana na Avenida Francisco de Miranda. Os estudantes
foram algemados e levados de moto pelos guardas. Também na manifestação da
noite de sábado, na qual quatro estações do metrô foram fechadas, a prefeitura
de Chacao atendeu 25 feridos pelas bombas de gás lacrimogêneo e balas de
borracha.
No ato de
quarta-feira, estudantes e jornalistas foram cercados em edifícios residenciais
de Altamira, enquanto a GNB atirava bombas de gás contra eles. No fim da noite,
motorizados armados percorriam em alta velocidade a Avenida Francisco de
Miranda atirando para o alto. "Quando os motorizados vêm em bando você
sabe que é melhor correr", disse a estudante de comunicação social
Aranxtsa Pomonty ao Estado. Ela contou que teve de se esconder por horas em um
prédio para não ser presa.
No sábado, voltou à
praça para protestar. Depois de dois dias relativamente calmos, a GNB voltou a
reprimir os atos da oposição com mais violência. Mais cedo, uma marcha
convocada pela Mesa de Unidade Democrática (MUD) tinha reunido dezenas de
milhares de pessoas em Caracas. Os guardas avançaram contra as barricadas com
tiros de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Parte dos estudantes, que
fugiram pela Avenida Francisco de Miranda, tentou conter o avanço da polícia
com barricadas de lixo queimado. Foi quando passaram os motorizados atirando
para cima. O resto dos manifestantes correu na direção do centro. Alguns foram
presos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário