A oposição parece
acordar
08 de fevereiro de 2014
Fonte: O Estado de S.Paulo. p.A3
Antes tarde do que nunca, a
oposição dá sinais de que começa a despertar da profunda letargia em que esteve
mergulhada nos últimos anos, desde que o PT assumiu o poder. Exímio manipulador
das massas com a sedução de seu populismo despudorado, durante os oito anos de
mandato presidencial Lula conquistou índices estratosféricos de aprovação
popular e, vendendo a falácia de uma "herança maldita", deu um nó na
oposição. Esta não teve competência, nem disposição, para impedir a reeleição
de 2006, apesar da eclosão, em 2005, do escândalo do mensalão. Daí para a
frente o lulopetismo se firmou no poder. Deu-se ao requinte de impor um poste
para sua sucessão. A patranha de que sua candidata era uma gerente competente,
somada a seu prestígio, foi bastante para eleger Dilma, mas não para esconder,
depois, o fracasso administrativo que é este governo.
O Brasil de hoje não é o mesmo de
três anos atrás. Dilma Rousseff não tem nem de longe o carisma de seu
antecessor - embora desfrute de grande popularidade - e enfrenta enormes
dificuldades para administrar o insaciável apetite do PT pelo poder e a
ganância por vantagens de uma base aliada tão ampla quanto infiel. O que existe
hoje é um desgoverno escandalosamente alicerçado sobre o fisiologismo, a
preocupação eleitoreira com as aparências e, de quebra, um anacrônico
dogmatismo ideológico. Aí estão, para comprová-lo, os indicadores econômicos
persistentemente insatisfatórios; a incapacidade de cumprir orçamentos e prazos
até nos projetos prioritários do PAC; a ameaça de um vexame internacional que
tem deixado a Fifa de cabelos em pé com as obras para a Copa do Mundo; e,
sobretudo, a crescente insatisfação difusa dos brasileiros com "tudo isso
que está aí" transbordando para as ruas desde junho do ano passado.
Isso tudo até a oposição já está
conseguindo enxergar.
O teor das declarações feitas nas
últimas semanas pelos principais pré-candidatos a enfrentar Dilma Rousseff nas
urnas de outubro parece indicar que as lideranças oposicionistas finalmente estão
dispostas a deixar seu berço esplêndido e assumir postura mais contundente
diante do desgoverno que aí está, deixando de se comportar "quase como se
pedissem desculpas ao País por se opor a Lula e ao PT", como observou Dora
Kramer em sua coluna (5/2).
Aécio Neves, pré-candidato do
PSDB: "Sob o pretexto das festas de fim de ano, a presidente volta à TV
para fazer autoelogio e campanha eleitoral (...). Apenas como exemplo, na ilha
da fantasia a que a presidente nos levou mais uma vez, a qualidade do ensino
tem melhorado e a criação de creches é comemorada. Enquanto isso, no Brasil
real, os resultados dos testes internacionais demonstram o contrário". E
ainda, já em janeiro: "Em relação aos leilões do Galeão e do Aeroporto
Tancredo Neves, em Confins (MG), a grande constatação é de que, quando o PT
acompanha a agenda proposta pelo PSDB, o PT acerta. O lamentável é que essas
concessões venham com dez anos de atraso".
Ainda em novembro, preenchendo
uma lacuna que chamara a atenção já no pleito presidencial de 2002, o senador
mineiro havia deixado claro que Lula também está na mira da oposição tucana:
"O presidente Lula tem que parar de brigar com a história. Se não houvesse
o governo do Fernando Henrique, com a estabilidade econômica, com a modernização
da economia, não teria havido sequer o governo do presidente Lula".
Por sua vez, Eduardo Campos,
governador de Pernambuco, ex-ministro de Lula, pré-candidato do PSB, também foi
incisivo ao apresentar o seu programa de governo: "O País saiu dos trilhos
(...) esse pacto social novo que está no seio da sociedade brasileira não
tolera mais esse velho pacto político que mofou e que não vai dar nada de novo
e de bom ao povo brasileiro. Não há nesse país, em nenhum recanto onde possamos
andar, ninguém que ache que mais quatro anos do que está aí vai fazer bem ao
povo brasileiro". E ainda: "Não há política social que faça efeito
sem desenvolvimento. É o que estamos vendo agora: crescimento do analfabetismo,
emprego perdendo qualidade, País perdendo competitividade. Vamos legar o quê
para as futuras gerações?".
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