Sobre
a violência privada nas ruas do Rio
Por Bernardo Santoro em 05/02/2014
Fonte: http://www.institutoliberal.org.br/blog/sobre-violencia-privada-nas-ruas-rio/
Tivemos vários notícias, ao
longo dessa semana, sobre jovens organizados buscando fazer “justiça” com
ataques a praticantes de crimes ou minorias raciais e sociais. Como sempre,
vemos a esquerda rasa defendendo bandidos sem nenhum pudor, e vemos a direita
defendendo justiceiros sem maiores reflexões. Vamos tentar aqui fazer uma
análise do tema.
Um dos principais objetivos
do sistema jurídico é a promoção da segurança. E essa ideia de segurança não é
só contra a violência física não, é uma ideia de segurança em sentido lato, incluída
a ideia de que a Lei deve ser justa, isonômica e eficaz.
Mas a Lei, e isso deve ser
deixado claro, nunca trouxe uma exigência de exclusividade de promoção da
segurança pelo Estado. É dever do cidadão se defender de maneira privada, e
aqui cabe um destaque, com proporcionalidade.
Apenas à guisa de exemplo,
cidadãos comuns podem, no Brasil, praticar legitima defesa em causa própria e
perante terceiros. Cidadãos comuns tem até mesmo direito a dar voz de prisão se
testemunharem um crime.
Essa necessidade do cidadãos
terem o poder de praticar tais atos vem da mesma lógica pela qual o mercado
costuma ser superior ao Estado: assim como as informações das necessidades
sociais são dispersas, o que faz com que agentes econômicos descentralizados do
mercado (empreendedores) sejam mais eficientes na prestação de bens e serviços
que agentes econômicos centralizadores (burocratas), também a ocorrência de
atos criminosos se dá de forma dispersa, o que faz com que agentes protetores
descentralizados sejam mais eficientes na prestação de segurança que agentes
protetores centralizados.
E não estou aqui dizendo que
a Polícia centralizada não é importante, estou dizendo apenas que ela não é
suficiente, dada a sua própria lógica organizacional.
O problema é que, assim como
na economia se exige que os empreendedores tenham algum nível de treinamento no
que fazem para que sejam eficientes, também na promoção descentralizada de
segurança seria necessário algum nível de treinamento. No entanto, é política
de Estado hoje que o treinamento de situações de combate se dê de maneira quase
exclusiva para agentes públicos, e o cidadão comum, que poderia ter acesso a
porte de arma, treinamento de uso e ensinamento de ética (focando na ideia de
que o uso tem de ser parcimonioso e proporcional), acaba não tendo essa opção,
e frente a inaptidão do sistema central de proteção policial e da escalada da
violência, termina por exagerar na reação e usar de meios desproporcionais de
proteção (como foi o bizarro caso de se prender um jovem assaltante pelo
pescoço e pelado, inaceitável em qualquer ambiente de Estado de Direito).
O resultado desse arranjo é
uma polícia excessivamente exigida (o que gera estresse e violência
desproporcional), uma população destreinada e acuada e uma bandidagem que é ao
mesmo tempo livre para praticar crimes sem maiores incômodos, mas que, em casos
isolados em que são pegos, são tratados de forma desumana, seja via
institucional ou popular.
Precisamos refletir sobre
uma nova política criminal, que extingua os “crimes sem vítima” e o excesso de
recursos processuais, que estimule a segurança descentralizada, que reforce a
polícia centralizada e garanta direitos humanos a criminosos, por piores que
eles sejam. Infelizmente, os bitolados de todos os lados do espectro político
dificultam ao máximo a elaboração de tais políticas públicas.
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