O grande temor da oposição
Editorial do jornal O Estado
de S.Paulo – 06/03/17 – p. A3
Os apoiadores de Dilma Rousseff almejavam que a força da
Constituição não fosse suficiente para sustentar Temer no cargo presidencial e
que o discurso repetitivo do golpe maculasse a legitimidade do governo
O grande temor da oposição
vai-se tornando realidade: a plena consolidação do governo do presidente Michel
Temer. Os apoiadores de Dilma Rousseff almejavam que a força da Constituição
não fosse suficiente para sustentar Temer no cargo presidencial e que o discurso
repetitivo do golpe maculasse a legitimidade do governo. Nada disso ocorreu.
Da
mesma forma como havia ocorrido com Fernando Collor, o impeachment de Dilma
Rousseff deixou claro que existe lei no País e que ela vale para todos, também
para os que estão no cume da hierarquia do poder público.
A
consolidação do governo de Michel Temer vai, no entanto, além da questão
meramente institucional. Ela é decorrência direta de um governo que, se não
isento de erros, até o momento vem mostrando disposição de acertar.
Logicamente, há ainda muito a ser corrigido, começando por retirar do governo
pessoas que devem antes prestar esclarecimentos à população e, em alguns casos,
à Justiça.
Mas
isso não obscurece o fato de que o presidente Michel Temer, como há muito tempo
não se via no Palácio do Planalto, está disposto a colocar o Brasil nos
trilhos. Sua opção por uma equipe econômica de alta qualidade técnica, sem
apegos político-partidários, começa a dar resultados. Ainda há uma longa
distância para devolver ao País o dinamismo que ele precisa ter, mas é inegável
o empenho para fortalecer os fundamentos macroeconômicos, em especial o
equilíbrio das contas públicas. Nesse campo, a aprovação da Emenda
Constitucional 95, estabelecendo um teto para os gastos públicos, foi uma
vitória da racionalidade e da responsabilidade frente a um populismo que
perdurou por longos anos, nas administrações de Lula – especialmente em seu
segundo mandato – e de Dilma Rousseff.
Também
é verdade que o presidente Michel Temer soube vislumbrar, ainda no exercício
provisório da Presidência, que o ajuste fiscal, por si só, não seria suficiente
para a retomada do crescimento econômico. Talvez aqui esteja a principal razão
da consolidação do seu governo frente às frustradas tentativas da oposição de
minguar sua legitimidade – a disposição de Temer de levar adiante reformas
legislativas que não são fáceis de serem implementadas e, ao mesmo tempo, são
tão necessárias.
Se
as reformas previdenciária, trabalhista e tributária representam o grande desafio
do governo Temer, já que uma eventual rejeição pelo Congresso põe em risco as
conquistas até aqui alcançadas, a disposição de levar adiante essas alterações
legislativas é, por sua vez, o grande mérito do governo. Seria, portanto, um
equívoco pensar que transigências do Palácio do Planalto na tramitação das
reformas facilitariam a trajetória de Temer na Presidência. Concessões nesse
campo seriam tão somente derrotas.
Deve-se
reconhecer que os acertos do governo de Michel Temer ainda não se refletiram em
popularidade. As pesquisas de opinião mostram uma avaliação que, se não chega a
ser péssima, está longe de trazer tranquilidade a qualquer governante. De toda
forma, a capacidade do governo para aprovar as reformas não depende, nesse
momento, de sua popularidade. Manter-se firme na disposição de trabalhar pelo
bem do País, sem dispor do conforto de um apoio massivo da opinião pública, é o
atual desafio do presidente Temer.
A
tarefa de reconstrução do País mal começou. Os desafios são enormes. Basta ver
as dificuldades que o governo tem pela frente para aprovar uma tímida, porém
imprescindível, reforma da Previdência. Agora, é preciso continuar no mesmo
rumo, trabalhando com afinco pelas reformas, e corrigir os equívocos. Não é
segredo, por exemplo, que há colaboradores de Temer que, mais do que ajudar,
trazem sérios problemas ao Palácio do Planalto. Urge trocá-los.
É
justamente essa atuação segura de Temer de que tanto o País necessita e que, ao
mesmo tempo, faz a oposição ficar tão alarmada. O PT e seus aliados torciam por
uma administração débil e, a cada dia que passa, vão percebendo que o
impeachment não trouxe um golpe. Trouxe um governo.
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