Porto de Mariel é
cubano*
Marco Milani
Diante das notícias sinalizando a aproximação diplomática
dos EUA com Cuba, algumas vozes brasileiras são ouvidas enaltecendo a
iniciativa de se financiar a construção do Porto de Mariel. Para elas, o Brasil
será beneficiado por ter transferido recursos para o porto cubano. Será mesmo?
Primeiramente, deve-se destacar que o Brasil não terá
qualquer participação na administração portuária, a qual ficará a cargo da
empresa PSA de Cingapura.
Com relação aos potenciais negócios com a ilha, não se pode
esperar relações comerciais mais vantajosas ao Brasil do que se teria com
qualquer outro parceiro da América Latina. Ao contrário, considerando a
afinidade ideológica de nossos atuais governantes com o socialismo cubano, é de
se esperar que o beneficiado seja a própria Cuba diante de concessões a serem
feitas pelo Brasil.
Geograficamente, nenhum exportador brasileiro escoará
produtos por Mariel. Ele terá que usar um dos sucateados portos existentes em
território nacional e não reduzirá em nada o seu custo logístico.
Juridicamente, a falta de transparência dos contratos
secretos firmados entre Brasil e Cuba têm sido objeto de grande desconfiança. A
população brasileira não conhece as cláusulas contratuais envolvendo Mariel e
tal fato permite inúmeras especulações, inclusive sobre o risco de não se
receber os valores transferidos.
Assim, com exceção daqueles que estão ávidos por achar
alguma notícia que possa justificar o financiamento bilionário do BNDES à Cuba,
não devemos nos deixar levar por empolgados e superficiais discursos de que o
Brasil acertou ao transferir escassos recursos públicos à ilha caribenha, pois
os nossos portos estão carentes por investimentos e permanecem encarecendo e
reduzindo a competitividade de nossos próprios produtos.
* Texto
publicado no jornal Correio Popular (Campinas/SP), edição impressa, 22/12/14, p. A2.
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