quarta-feira, 16 de julho de 2014
Posicionamento dos candidatos sobre temas "polêmicos"
Fonte: OESP
http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,tema-polemico-resposta-conservadora-imp-,1529326
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Felipão, o professor de gestão de Dilma
Felipão,
o professor de gestão de Dilma
José Nêumanne*
Dilma
Rousseff disse, em 1.º de julho de 2013, que seu governo tinha o "padrão Felipão",
em resposta a uma pergunta sobre se seus ministros tinham "padrão Fifa".
Referia-se ao ex-técnico da seleção brasileira Luiz Felipe Scolari após reunião
ministerial depois da vitória sobre a Espanha por 3 a 0 no Maracanã, onde ela
seria vaiada várias vezes domingo, na final da Copa, antes e ao entregar a taça
ao capitão alemão, Philipp Lahm. A comparação havia sido feita na temporada de protestos
nas ruas em que o povo exigiu "padrão Fifa" para a gestão pública federal,
nada exemplar. Apesar de ter escolhido o treinador como modelo, ela não foi
entregar a Copa das Confederações ao time que ele treinou. Um ano e 13 dias depois,
tendo o mesmo time sofrido hecatombes inéditas nos jogos finais da "Copa das
Copas", ela o relegou ao ostracismo para se refugiar no verso de um samba
de Paulo Vanzolini ("levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima")
e na criatividade ("a derrota é a mãe de todas as vitórias").
Dilma
não atuou na seleção nem a treinou. Não é também dirigente da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF). Mas não resiste a recorrer ao dito esporte bretão
para parecer simpática. Nascida em Minas, comemorou a conquista da Libertadores
da América pelo Atlético Mineiro em 2013 em redes sociais.
"Congratulo
(sic) com toda a torcida do Atlético pela conquista do título. Eu sou torcedora
do Atlético e, quando criança, ia com meu pai a muitos jogos do Galo no Mineirão",
postou. Não faltou quem nos mesmos veículos lembrasse que 1) como nasceu em
1947, tinha 18 anos e, portanto, não era criança quando o estádio foi inaugurado;
e 2) que o pai morrera em 1962, três anos antes de sua inauguração.
Consta
que Clio, a deusa da história, é irônica. Pelo visto, os deuses do futebol também.
Em 8 de julho o estádio foi palco da derrota mais humilhante que o Brasil
sofreu na história, ao perder de 7 a 1 na semifinal da Copa. Dela o técnico saiu
como padrão de incompetência, e não de excelência.
Nenhum
torcedor dotado do mínimo de bom senso teria apostado pesado no time de Scolari
na Copa: ganhou da Croácia com a ajuda do juiz, empatou com o México contando
com muita sorte e ao vencer Camarões passou para as oitavas de final contra o
Chile, e não contra a Holanda, por absurdos erros do árbitro, que anulou dois
gols legítimos dos mexicanos no jogo de estreia contra os africanos. A trave
nos últimos segundos da prorrogação e no último pênalti carimbou o passaporte
para as quartas de final contra a Colômbia, que nunca foi páreo para a canarinha
nos melhores momentos dela e nos piores desta. O Brasil ficou entre os quatro
melhores com a ajuda da sorte e de apito amigo. Mas na véspera da semifinal
contra a temida Alemanha a presidente resolveu apostar todas as fichas de chefe
de governo e de Estado e de candidata à reeleição no "padrão Felipão"
de excelente gestão. A página oficial da Presidência da República na internet,
usada na campanha eleitoral com uma sem-cerimônia só comparável à do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) ao desconhecer o fato, divulgou sua
"conversa" com internautas sobre a Copa. Chamou os adversários de
"urubus", condenou o "pessimismo indevido" de um sujeito
oculto chamado imprensa, vulgo "mídia golpista", e adotou como
mascote de palanque o craque Neymar, cuja dor, ao ser atingido por um jogador
do time que fora menos violento do que o Brasil no jogo, segundo ela,
"feriu o coração de todos os brasileiros". Para completar, sem se dignar
a explicar o significado do gesto nem da expressão, copiou do astro do Barcelona
o "é tóis", paródia criada por ele para o "é nóis" dos
corintianos, com a letra T formada pelos braços e pelo cotovelo. E enquanto a
torcida lhe fazia eco gritando o nome do ídolo ferido, os alemães impingiram à
seleção mais campeã das Copas a pior goleada em semifinais do torneio.
Felipão,
fiel a seu padrão de embromation, mal consumado o desastre elogiou o próprio
trabalho, lembrando que seu "grupo" - sua "família", ou
seja, as vítimas de suas doses patéticas de autoajuda - foi o primeiro a chegar
a uma semifinal desde a Copa em que ele mesmo treinou o time campeão, em 2002,
há 12 anos. O auxiliar técnico Carlos Alberto Parreira comprometeu o
respeitável currículo de campeão mundial de 1994 lendo na entrevista a carta de
uma fã que elogiou a preparação do time de um esporte cujos fundamentos ela
própria dizia desconhecer.
Antes
de o "padrão Felipão" ser submetido a outro vexame na disputa pelo
terceiro lugar contra a Holanda na arena Mané Garrincha, com o nome de um gênio
do tempo em que nosso futebol tinha cara e vergonha, os bombeiros do Planalto correram
para salvar a chefe do incêndio. Descalçaram-lhe as chuteiras e ela pôs de novo
o capacete de chefe de obras, para jogar espuma sobre a tentativa canhestra de
barganhar o sucesso da seleção por votos na eleição. Apelaram até para o óbvio:
"Futebol e política não se misturam". Fez-se isso com desleixo idêntico
ao de estropiarem a frase de Nelson Rodrigues "a pátria em chuteiras"
por outra, que só adquiriu nexo após o vexame: "a pátria de
chuteiras". Dilma e seu professor (assim os pupilos chamam seus técnicos)
usaram pátria, hino e bandeira para chutar a realidade para escanteio.
Dilma
ainda contribuiu para o besteirol de político ignorante em esporte ao atribuir o
chamado mineiratsen à exportação dos melhores jogadores nacionais para o exterior.
O uso da palavra exportação, cabível para médicos cubanos, mas não para nossos
craques, omite as evidências de que a seleção atuou em nível similar ao dos
campeonatos locais por absoluta incapacidade de dirigentes que se recusam a
aprender como se joga nos mercados que hoje vencem. E de governantes que perdoam
as dívidas monstruosas acumuladas por estes bancando papagaios de pirata para
ganhar votos, perdendo o pudor e as Copas.
* Jornalista,
poeta e escritor
Fonte:
OESP
sábado, 12 de julho de 2014
Cotas na educação: a falsa ideia de inclusão
“Cota
não resolve problema da educação. Ela cria ilusão”
Entrevista com Eunice Durham*
A
estudiosa afirma que, apesar da propaganda acerca da reserva de vagas, a
esmagadora maioria dos jovens seguirá sem lugar na universidade pública
Em agosto de 2012, a presidente Dilma
Rousseff assinou a chamada lei das cotas, que reserva 50% das vagas de
universidades federais a estudantes oriundos de escolas públicas de ensino
médio. No final daquele ano, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, lançou um
programa de inclusão social para as três universidades públicas paulistas, USP,
Unicamp e Unesp – apontadas nos rankings internacionais como centros de excelência
em pesquisa no Brasil. "Embora a proposta pareça um pouco melhor do que a
lei federal, está longe de ser a solução", diz a antropóloga Eunice
Durham.
Ex-secretária de política educacional do
Ministério da Educação, membro do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da
USP e estudiosa do ensino superior, Eunice acusa a nova proposta de carregar o
mesmo discurso e enganos revelados em 2002, quando foi adotada pela primeira
vez no país o mecanismo de reserva de vagas (por raça, então), na UFRJ. "Tanto
as cotas raciais como as cotas sociais são remendos demagógicos", diz.
"Existe uma grande desigualdade educacional entre pobres e ricos, negros e
brancos. Mas a questão é que isso está sendo combatido no lugar errado. Querem
consertar as desigualdades do Brasil na porta da universidade, sendo que o
problema se origina na educação básica."
Para quem acha que a posição é ideológica, a
professora oferece números. "Mesmo com toda essa propaganda de que a
universidade agora está de portas abertas para os alunos da rede pública, 95%
da população jovem vai seguir fora da universidade pública." Mais efetivo
e justo, defende a antropóloga, seria a criação e manutenção, pelas
universidades públicas, de cursos pré-vestibulares que preparassem os
estudantes da rede pública para o ingresso no vestibular. "Desde que a
universidade chegou ao Brasil, as famílias ricas recorrem a esse tipo de aulas
adicionais para garantir que seus filhos tenham o conhecimento necessário para
passar no vestibular. Por que não oferecer a mesma oportunidade para os
pobres?", indaga a estudiosa. Confira a seguir trechos da entrevista que
ela concedeu ao site de VEJA.
Como docente da USP e membro da comunidade
acadêmica, como a senhora recebeu a notícia de que a universidade deve aderir
ao programa de cotas do estado? Embora pareça um pouco melhor do que a lei
federal, a proposta do governo estadual está longe de ser a solução. A ideia
pode até ser aproveitada, mas precisa ser melhor analisada. Não podemos
implementar um plano assim, sem testar outras alternativas.
Quais os problemas das políticas de cotas?
Tanto as cotas raciais como as cotas sociais são remendos demagógicos. Entendo
que os problemas que elas visam combater são reais. De fato, existe uma grande
desigualdade educacional entre pobres e ricos, negros e brancos. Mas a questão
é que isso está sendo combatido no lugar errado. Querem consertar as
desigualdades do Brasil na porta da universidade, sendo que o problema se
origina na educação básica. Não é o vestibular que discrimina. O vestibular é
talvez o mecanismo mais justo de seleção. Só passa quem tem capacidade de
passar, não há beneficiados. O filho do senador e o filho da doméstica fazem
exatamente a mesma prova. Agora, se os que passam são majoritariamente
provenientes da parte mais rica de população é por culpa do sistema público,
que é de péssima qualidade. Não é o vestibular que é elitista – é o sistema
básico que é desigual.
Hoje, cerca de 80% dos alunos da educação
básica estão matriculados na rede pública. Não é natural desejar que
universidades federais e estaduais atendam também a essa população? A questão
primordial é que as cotas não dão conta de incluir toda essa gente. Posso citar
alguns números: no estado de São Paulo, menos de 30% dos jovens estão
matriculados no ensino superior – há, portanto, pelo menos 70% de excluídos.
Dos 30% incluídos, as universidades públicas atendem apenas 15% do total de
matriculados, isto é, 4,5% dos jovens – menos de 5%. As cotas não mudam esse
cenário porque não criam vagas, elas apenas fazem a redistribuição. Querem
criar um programa para incluir mais negros nesse porcentual de 4,5%, mas isso
em nada vai alterar o nível crucial de exclusão que temos. Eu sou contra cota
racial: ela penaliza outra parte da população que também precisa de estímulos:
os brancos pobres.
As cotas são uma falsa ideia de inclusão, então?
Exatamente. Mesmo com toda essa propaganda de que a universidade agora está de
portas abertas para os alunos da rede pública, 95% da população jovem vai
seguir fora da universidade pública. Por isso as cotas são demagógicas. Elas
não lidam com o problema, elas criam uma ilusão.
E qual é o verdadeiro problema? No Brasil,
existe uma cultura de que ensino superior é sinônimo de universidade. Criou-se
esse mito de que todo mundo precisa ser doutor e que curso técnico
profissionalizante é algo menor, degradante. O país precisa oferecer cursos
diferenciados para populações diferenciadas. Tem gente quem quer aprender sobre
as coisas e tem gente que quer aprender a fazer coisas. Temos que oferecer
escola para todo mundo, ou você acha que todo mundo precisa estudar física
quântica na USP? O Brasil tem que decidir se quer colocar todo mundo na
universidade ou se quer criar um ensino superior que ofereça condições para dar
à maioria da população a condição para continuar os estudos depois do ensino
médio, aprender uma profissão, se inserir no mercado de trabalho e exercer uma
cidadania responsável. Mas você vê alguém discutindo isso? Eu não vejo. Só vejo
um monte de gente querendo sair bem na foto dizendo que vai colocar mais meia
dúzia de estudantes nas universidades federais e estaduais. E achando que com
isso vai resolver o problema da educação no Brasil.
Equacionar esses problemas levaria anos. O
que fazer pela população pobre, majoritária nas escolas públicas, que está no
ensino médio e precisa ser incluída no ensino superior? A solução mais
imediatista que vejo é a criação, por parte das universidades públicas, de
cursos pré-vestibulares de qualidade para alunos de baixa renda empenhados em
ingressar no ensino superior. Alunos das próprias instituições poderiam atuar
junto a professores como tutores e, estudantes que almejam ser professores, por
exemplo, poderiam fazer estágio nesses cursos. Desde que a universidade chegou
ao Brasil, as famílias ricas recorrem a aulas adicionais para garantir que seus
filhos tenham o conhecimento necessário para passar no vestibular. Por que não
oferecer a mesma oportunidade para os pobres? Esse pré-vestibular permitiria
checar quais são as reais dificuldades dos alunos e os métodos mais eficazes
para saná-las, pensando em depois replicá-los para a rede pública de educação
básica.
O programa do governo estadual prevê que os
alunos realizem um curso prévio, de dois anos, antes de ingressar nas
universidades, uma espécie de 'college' que garantiria um diploma de nível
superior. Isso não seria suficiente? O programa prevê apenas que os que forem
selecionados passem pelo curso. Não adianta nada privilegiar meia dúzia de
pobres. É preciso oferecer oportunidade de crescimento a muito mais jovens.
Pelo sistema que eu proponho, mesmo os jovens que não ingressarão na
universidade pública terão a oportunidade de suprir as deficiências que
acumularam ao longo da vida escolar. E estarão assim mais preparados para o
mercado de trabalho.
Mas a senhora considera que os 'colleges'
poderiam ser uma alternativa às universidades no futuro? Eu sou a favor da
criação de ‘colleges’. Seria uma proposta revolucionária para o ensino superior
brasileiro, mas não pode ser um 'college' emendado a um projeto de cotas para a
universidade. Nos Estados Unidos, eles funcionam bem e atendem a mais da metade
da população. Mas, no Brasil, o projeto ainda está muito cru. É preciso
discuti-lo, saber como seria implantado, sua vigência e avaliação. Do jeito que
foi apresentado, me parece apenas a resposta a uma pressão demagógica.
Indicadores internacionais mostram que as
universidades públicas paulistas são a elite do ensino superior brasileiro,
instituições dedicadas ao ensino e à pesquisa. As cotas podem afetar a
qualidade dessas universidades? Eu acredito que sim. Existem algumas pesquisas
que apontam o contrário. Elas, em geral, dizem que alunos cotistas têm
desempenho inclusive superior aos não cotistas. Isso tem a ver com resiliência,
a capacidade do estudante de se adaptar e vencer os obstáculos quando lhe é
dada oportunidade. Mas no momento que essas pesquisas foram realizadas, as
cotas tinham outra dimensão, incluíam um percentual muito menor de alunos.
Agora estamos falando que metade de uma universidade será formada por alunos
oriundos de uma escola de má qualidade. Não há como prever o futuro, mas
acredito que a qualidade de uma instituição não depende apenas de bons
professores, mas também do ingresso de bons alunos.
*
Antropóloga. Fundadora e coordenadora do NUPES - Núcleo de Pesquisas sobre
Ensino Superior da USP. Pesquisadora e membro do Conselho do NUPPS - Núcleo de
Pesquisa de Políticas Públicas da USP. Integrou o Conselho Nacional de
Educação, Câmara de Ensino Superior - 1997 - 2001. Foi presidente da Fundação
CAPES e Secretária Nacional de Educação Superior do Ministério de Educação-
1992. Ex-Secretária Nacional de Política Educacional do Ministério de Educação
- 1995 - 1997. Membro do Conselho Estadual de Educação (2008 - 2012). Autora de
diversos artigos e livros de Antropologia e sobre Ensino Superior
- Entrevista realizada pela Revista Veja em dez/2012
Fonte:
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/cota-nao-resolve-problema-da-educacao-ela-cria-ilusao
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Eunice Durhan
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Grupo Pão de Açúcar emprega e orienta menores ex-infratores
Supermercado emprega
menores ex-infratores em sigilo
Luísa Melo - EXAME.com
- 30/06/2014
O Grupo Pão de Açúcar (GPA) está
empregando e orientando menores infratores sem contar para ninguém quem eles
são - nem mesmo para os seus próprios funcionários. A iniciativa acontece há uma
década, muito discretamente e este ano, o programa Gente de Futuro ganha uma
nova abordagem: além de formar esses jovens para o mercado de trabalho, a
empresa dará suporte também às suas famílias.
Desde 2004, a rede faz uma parceria com a
Fundação Casa para recrutar e contratar pessoas que cumprem, ou já cumpriram medidas
socioeducativas, para atuarem nos supermercados Pão de Açúcar e Extra e na sua
sede administrativa, em São Paulo.
Mas foi em 2009 que a prática tomou
forma de projeto. "Não se trata de cotas legais a serem cumpridas, como o
acontece no Menor Aprendiz. É social mesmo", diz Elisabete Fonseca,
gerente de RH do grupo.
Requisitos
Para participar, os jovens com idade
entre 17 e 21 anos precisam ser indicados pela instituição. Depois, eles passam
por um processo seletivo elaborado pela empresa. O projeto tem duração de 12
meses e, a cada ano, são abertas de 20 a 30 vagas. Para 2014, foram 70
candidatos pré-selecionados para 25 postos de trabalho abertos. A seleção ainda
está em curso e 10 deles já foram preenchidos.
A escolha, que deve terminar em julho,
passa pela análise de uma consultoria e por uma entrevista com um gestor e leva
em conta a vontade e o perfil do jovem. É depois de identificar o potencial dos
candidatos que a varejista busca as vagas em lojas próximas à região onde eles
moram - num processo inverso ao natural.
Preconceito
Depois de selecionados, os jovens são
efetivados como qualquer outro funcionário do GPA. O programa é sigiloso e só
os gestores sabem quem são as pessoas que participam dele. Para o restante da
equipe, não há distinção para evitar qualquer possível preconceito.
As
vagas
A maioria deles é contratada para
atuar nas áreas de operação dos supermercados da rede e alguns (cerca de 20%)
são destinados à sede administrativa da empresa. "Muitos começam aprendendo
um ofício como o de padeiro, ou açougueiro, e realmente constroem uma carreira
nessas profissões", conta Elisabete.
Treinamento
O único tratamento diferenciado que os
integrantes do Gente de Futuro recebem é ter de participar de reuniões
quinzenais que trazem treinamentos e palestras, organizados pela consultoria
parceira. Os encontros duram quatro horas e neles são tratados temas como o
autoconhecimento, o diálogo, a relação com a família e o papel do jovem
profissional na sociedade. "São pessoas muito fortes, mas também muito
machucadas e que, por isso, às vezes criam mecanismos de defesa",
justifica Elisabete sobre a necessidade desse tipo de orientação.
Gerenciamento
Os chefes que irão comandar
funcionários do Gente de Futuro também são preparados especialmente para
recebê-los. Durante um dia, eles são treinados pela consultoria para
"aprender a administrar as falhas dos jovens de maneira construtiva",
segundo explica Elisabete. No decorrer do ano, os líderes também participam de
pelo menos dois encontros com a equipe de RH da companhia e a consultoria para
discutir o andamento do programa e discutir as dificuldades e oportunidades dos
empregados que fazem parte dele.
Contratação
Passados os 12 meses, o funcionário do
Gente de Futuro que estiver se dando bem no trabalho continua na companhia. Na
média, 50% deles permanecem no emprego depois desse período. Elisabete conta
que não há muitos registros de que o GPA precisou desligar os jovens. "Só
acontece em casos extremos. Mas alguns realmente desistem porque retornam à
criminalidade", afirma, sem falar em números.
Entre aqueles que não vão embora, uma
média de 12% são promovidos. "Quando eles ficam, o índice de engajamento é
muito grande, porque nós os ajudamos a reconstruir a sua história", diz a
gerente.
Hoje, 10 funcionários que vieram do
projeto ainda estão na companhia. Deles, cinco já tem entre 5 a 9 anos de casa,
sendo que um deles ocupa um cargo de média liderança. "Tem também o caso
de uma pessoa que nos deixou para ser sommelier
em uma grande adega", conta Elisabete.
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Análise:
A beleza da Revolução de 1932
Antonio
Penteado Mendonça*
A vantagem de comentar um fato mais de
80 anos depois de ele ter acontecido é que temos acesso a informações mais
amplas, abrangendo todos os lados, o que é completamente diferente de estar no
olho do furacão, no calor da hora, tomando decisões que podem ter consequências
opostas às esperadas.
Com a Revolução de 1932 não é
diferente. Uma coisa era estar lá, no momento em que a população do Estado de
São Paulo se amotinava, atiçada por ameaças que lhe pareciam reais, enfrentando
as dificuldades de relacionamento com o governo federal, a falta de certeza em
relação a Minas Gerais e Rio Grande do Sul, a falta de armamentos modernos, a
atitude do general Bertoldo Klinger e os compromissos que iniciariam o
movimento armado para depor o presidente Getúlio Vargas.
Outra, muito mais cômoda, é 82 anos
depois analisar as razões que impediram São Paulo de se aproximar da vitória,
ainda que num primeiro momento tendo chances concretas de depor o ditador.
A Revolução de 1930 costuma ser muito
mal explicada nas salas de aula brasileiras. Ainda que tenha sido um movimento
com consequências dramáticas para a história nacional, ela é vendida como a
mobilização do País para derrubar as elites paulistas e mineiras, que dominavam
o governo federal, e para introduzir mudanças na forma da administração do
País. Não é verdade.
A começar pelo fato de que Getúlio
Vargas estava longe de ser o comandante corajoso e disposto a afrontar todos os
riscos para tomar o poder - o que o teria levado a enfrentar as dificuldades e
abrir caminho a baioneta, do Rio Grande ao Rio de Janeiro. A Revolução de 1930
chega até nós como uma revanche contra paulistas e mineiros, o que tem sido
sistematicamente desmentido por estudos modernos a respeito da história do
Brasil naquele período.
Ninguém discute que, se as tropas da
Força Pública Paulista quisessem impedir, a caravana transportando Getúlio
Vargas não teria cruzado o Estado de São Paulo. Elas eram mais bem equipadas
que as demais forças brasileiras, incluído o Exército. Se Getúlio atravessou o
Estado e, mais do que isso, foi recebido por uma multidão que o ovacionou ao
longo do trajeto, foi porque os paulistas também desejavam mudanças na forma da
administração da Nação.
Em vez de respeitar o apoio paulista e
permitir que a população fosse governada por homens da terra, Getúlio Vargas,
assim que se viu vitorioso, entregou São Paulo aos “tenentes”, permitindo que a
Unidade mais desenvolvida da Federação servisse de campo de provas para
experiências político-ideológicas de um grupo de pessoas que desejavam um País
bastante diferente da realidade já alcançada pelo Estado.
A Revolução de 1932 foi a consequência
lógica do embate entre as duas visões completamente antagônicas de modo de vida
e sociedade. Ela teve uma liderança civil, composta pela união quase impensável
entre o Partido Republicano Paulista e o Partido Democrático, mas o que a fez
irreversível foi a ameaça contra os avanços sociais e econômicos do Estado, tão
forte que levou a população a se mobilizar em defesa de seus valores. Daí em
diante, a luta tornou-se inevitável.
Não cabe aqui analisar a série de
equívocos praticados pelos paulistas ao longo do percurso até a deposição das
armas, no início de outubro de 1932. Mas é importante salientar alguns fatos
que mostram a verdadeira beleza do movimento, no qual perto de mil pessoas
deram suas vidas - voluntários e soldados sem qualquer treinamento, lutando em
uma guerra mal comandada, mal planejada, com ações da mais sórdida traição,
praticadas por comandantes despreparados, covardes, descomprometidos com a
causa de São Paulo ou de pleno acordo com o pensamento do governo federal.
Para uma melhor compreensão do quadro,
basta ler a série de livros publicados por ex-combatentes, narrando as ações no
seu setor durante a luta. Para não alongar, vale citar Palmares pelo Avesso, de
Paulo Duarte, e Batalhão 14 de Julho, de Augusto de Souza Queiroz.
Em 1932 mais de 70% da população
brasileira era analfabeta. Se nos dias de hoje, com índices melhores do que
esse, com certeza apenas uma parcela reduzida sabe o que é “Constituição”,
imagine naqueles dias.
Dizer que o paulista largou tudo para
se alistar como voluntário para lutar pela “Constitucionalização do País” é ir
além da real capacidade intelectual do cidadão médio do Estado de São Paulo à
época.
Humilhado pelo governo federal que
tratava o Estado como “terra conquistada”, o paulista desejava recuperar seu
orgulho e sua autonomia, para manter o ritmo de desenvolvimento e a qualidade
de vida, alcançada pelas mudanças econômicas que modernizavam a sociedade, como
consequência da soma da vontade de vencer dos imigrantes com a força
empreendedora da população do Estado.
Para ele a “Constituição”, pregada
pela propaganda em 1932, era isso. Poder prosseguir evoluindo, criando
riquezas, melhorando as condições de vida e bem-estar social, de cabeça erguida
e sem dever nada a ninguém.
Por isso valia a pena morrer. E o
cidadão comum não hesitou. Foi ser soldado, sem treinamento, mal equipado e mal
comandado. O que estava em jogo era o orgulho do seu modo de vida. Se ele se
chamava “Constituição”, muito bem, valia a pena morrer por ela. Operários,
comerciários, comerciantes, bancários, banqueiros, industriais, fazendeiros,
sitiantes, trabalhadores rurais, profissionais liberais, estudantes, mulheres,
meninos, brancos, índios, negros, mulatos, mamelucos, caiçaras, caipiras, gente
da cidade, todos se alistaram, voluntários, dividindo o frio das trincheiras, o
chão das fábricas, as enfermarias dos hospitais de sangue, irmanados na certeza
de que o que haviam conseguido com seu trabalho era bom e era deles e, por
isso, ninguém tinha o direito de interferir no progresso de São Paulo e na
certeza de um futuro melhor.
Futuro que se consolidou em 1934, não
com a Constituição, mas com a criação da Universidade de São Paulo.
Reportagem publicada originalmente na edição impressa do
Estadão, dia 9 de julho de 2014
* Antonio Penteado Mendonça é presidente da Academia
Paulista de Letras (APL)
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MMDC,
Revolução Constitucionalista,
Revolução de 32
O legado da revolução de 32
O legado deixado pela Revolução de 32
Edison Veiga
A criação da Universidade de São Paulo (USP), a opção pela
industrialização, o aprendizado da mobilização popular e até a emancipação
feminina. Esses foram os maiores legados indiretos citados por historiadores
sobre o movimento constitucionalista de 1932, cujo aniversário do primeiro dos
87 dias de combate celebra-se hoje, feriado de 9 de Julho, mais importante data
cívica paulista.
O Estado foi derrotado nas trincheiras – com
634 constitucionalistas mortos, conforme atesta o historiador Marco Antônio Villa,
em seu livro 1932: Imagens de uma Revolução -, mas a democracia venceu.
“Entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 1932”, anunciou o
presidente Getúlio Vargas no dia 16 de agosto, ao nomear interventor o civil e
paulista Armando de Salles Oliveira, depois eleito governador pela Assembleia.
Julio
de Mesquita.
As intervenções na política paulista, aliás, motivaram o conflito. O principal
líder civil do movimento foi o jornalista Julio de Mesquita Filho (1892-1969),
então diretor do jornal O Estado de S. Paulo e principal articulador da Frente
Única Paulista. Essa liderança ficou clara em 25 de janeiro de 1932 – cinco
meses antes da eclosão do conflito. Na ocasião, mais de 100 mil pessoas
marcharam da Praça da Sé à sede do Estado, então na Rua Boa Vista, para ouvir a
saudação de Mesquita Filho, que discursou. “Anulada a autonomia de São Paulo, o
Brasil se transformou num vasto deserto de homens e de ideias”, disse, da
sacada da redação.
Foi essa pressão paulista que deixou
pavimentado o caminho para a Constituição de 1934, como pondera o jornalista e
escritor Lira Neto, autor da trilogia Getúlio. Mas os estudiosos vão além
disso, ao apontar o legado do movimento. “Não fosse a Revolução, a Universidade
de São Paulo (USP) não teria sido criada”, diz o sociólogo e escritor José de
Souza Martins. Quando Salles Oliveira assumiu o governo paulista, ele convidou
Julio de Mesquita Filho para coordenar a criação da universidade – inaugurada
em 1934. “Foi uma reação de São Paulo, derrotado nas armas, investir na
educação e na cultura. É a maneira de ‘derrotar o inimigo’ pelo saber.”
Outra consequência foi a opção pela
industrialização, começando por São Paulo. “Vargas não venceu sozinho. Na
verdade, ele venceu perdendo”, diz Martins. “Na Revolução de 1932, ele derrotou
gente como (engenheiro, político e industrial paulista) Roberto Simonsen. Mas,
em acordo não escrito com os derrotados, Simonsen se transformou no principal
assessor informal do governo federal para a industrialização.”
O escritor Lira Neto acredita que o movimento
serviu também para que o povo aprendesse a se unir por uma causa. “Sem entrar
no mérito da questão em si, acredito que a mobilização popular foi um grande
legado”, comenta. “Pois mesmo o movimento tendo partido da elite, ele se espraiou
para o restante da sociedade. Isso contagiou a população como um todo. Todo
mundo se uniu em torno da mesma bandeira, a paulista.”
Estudioso do movimento revolucionário de
1932, o empresário Raul Corrêa da Silva concorda. “Como o Brasil não teve uma
experiência de guerra em sua história, tivemos proclamações da Independência e
da República sem derramamento de sangue, a Revolução de 1932 acabou se tornando
um grande marco para mostrar que com o povo não se brinca.”
Mulher. O estudioso lembra a mudança de
postura da mulher paulista no período, em que a sociedade não costumava ver com
bons olhos quando senhoras deixavam os afazeres domésticos para se embrenhar em
algum trabalho. “A mulher foi constitucionalista. Se antes ela só ficava em
casa, durante a Revolução foi fazer uniformes, foi para as fábricas, foi
produzir material para as batalhas. Houve uma mudança de postura”, defende ele.
“Mas o grande legado foi a democracia. E a lição: se for necessário que São
Paulo vá às armas de novo, São Paulo irá”, afirma. “Há uma frase da época que
diz: ‘São Paulo é a favor do Brasil quando precisa e contra o Brasil se for
preciso’.”
Reportagem publicada originalmente na edição
impressa do Estadão, dia 9 de julho de 2014
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terça-feira, 8 de julho de 2014
Sobre o Golpe Petista em andamento
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segunda-feira, 7 de julho de 2014
Horizontes muito nebulosos...
Boletim do BC traz nova queda nas estimativas para o
crescimento da economia em 2014
Os analistas do mercado financeiro baixaram
novamente, nesta semana, sua estimativa de crescimento da economia brasileira
neste ano. Segundo o boletim Focus, do Banco Central, a estimativa dos mais de
100 analistas para o Produto Interno Brunto (PIB) recuou de 1,10%, estimados na
semana passada, para 1,07%. Foi a sexta semana consecutiva de queda neste
indicador. Para 2015, a previsão de alta do PIB ficou estável em 1,5%. Em
relação à inflação, a aposta dos analistas é que o IPCA, o índice oficial,
encerre o ano de 2014 na casa dos 6,46%, praticamente no teto da meta
estipulada pelo governo. Ainda segundo o boletim Focus, a previsão para o
desempenho da indústria também recuou, desta vez para contração de 0,67%,
frente à expectativa de queda de 0,14%, divulgada na semana passada. Já a taxa
de juros deve se manter em 11% ao ano, mesma expectativa apontada nos últimos
cinco relatórios.
Fonte: Álvaro Dias
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