'Ipea perdeu
credibilidade', diz professor
Para especialistas,
Ipea demorou para detectar e divulgar o erro dos dados, embora a ação tenha
mostrado integridade por parte dos pesquisadores
Reportagem de Mônica Reolom - O Estado de S. Paulo
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,ipea-perdeu-credibilidade-diz-professor,1149568,0.htm
SÃO PAULO - Especialistas afirmam
que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demorou ao detectar e
divulgar o erro dos dados, embora a ação tenha mostrado integridade por parte
dos pesquisadores. No entanto, também reservam críticas à metodologia.
O professor Marcos Fernandes, do
curso de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), disse que o
Ipea é uma instituição renomada, mas que está perdendo credibilidade. "É
uma fato grave que deveria ser um pouco mais investigado e estudado." Ele
criticou a metodologia adotada na pesquisa. "As perguntas têm de ser muito
bem feitas, senão, você enviesa a resposta."
Para o professor, o resultado já
havia ficado comprometido antes de a inversão dos números vir à tona. "O
problema desse trabalho é que ele parece mais guiado por ideologia do que pela
ciência. E é muito perigoso quando um instituto de pesquisa permite ser mais
guiados por interesses políticos e ideológicos do que pela pura pesquisa para
identificar características básicas de como a sociedade brasileira se organiza,
de como os brasileiros pensam, sobre suas crenças, e assim por diante",
explicou o professor.
Fernandes destacou a repercussão
que o dado incorreto causou. O resultado de que 65% acreditam que mulheres com
roupas curtas merecem ser atacadas, para o economista, "gerou crenças no
âmbito da ciência, da política e da psicologia social, além de debates e
programas de televisão, tendo uma visão enviesada do brasileiro e da
brasileira".
A professora de Matemática e
Estatística da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Cileda de
Queiroz e Silva Coutinho considerou, antes de tudo, que o instituto teve
"decência e honradez" ao reconhecer o erro.
"Toda análise de dados pode
ter problemas. O cadastramento de variáveis é feito por humanos, que estão
sujeito a erros. Foi importante que o Ipea recuasse, ao contrário do que muita
gente faz", afirmou a professora, que citou pesquisas eleitorais como
exemplo de grande incidência de erros.
Por outro lado, segundo Cileda,
não é justificável a falta de checagem nem a demora em divulgar a incorreção.
"Antes de publicar, tem de fazer uma verificação e, para evitar erros,
você faz mais de um tratamento com os dados. O instituto falhou em não fazer
todas as checagens."
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