Barbosa defende STF e diz que Lula
tem dificuldade para entender o Judiciário
Para o presidente do Tribunal as
declarações levam desesperança para o cidadão comum, que clama por justiça
contra casos de corrupção
Carolina Brígido
BRASÍLIA - O presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF) e relator do processo do mensalão, ministro Joaquim
Barbosa, ficou indignado com as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva sobre o julgamento do processo. Barbosa divulgou nota nesta
segunda-feira dizendo que os comentários de Lula revelam a dificuldade dele em
compreender o papel do Judiciário em uma democracia. O ministro defendeu a atuação
do tribunal ao longo do julgamento, pois, segundo ele, houve larga oportunidade
de atuação da defesa e da acusação.
“O juízo de valor emitido pelo
ex-Chefe de Estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e simplesmente
sua dificuldade em compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário
independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome”, diz o texto.
Barbosa também afirmou que as
declarações de Lula levam desesperança para o cidadão comum, que clama por
justiça contra casos de corrupção. O ministro lamentou que as críticas tenham
sido feitas no exterior, e não no Brasil.
“Lamento profundamente que um
ex-presidente da República tenha escolhido um órgão da imprensa estrangeira
para questionar a lisura do trabalho realizado pelos membros da mais alta Corte
da Justiça do País. A desqualificação do Supremo Tribunal Federal, pilar
essencial da democracia brasileira, é um fato grave que merece o mais veemente
repúdio. Essa iniciativa emite um sinal de desesperança para o cidadão comum,
já indignado com a corrupção e a impunidade, e acuado pela violência. Os
cidadãos brasileiros clamam por justiça”, escreveu o ministro.
Na nota, Barbosa ressalta que o
processo foi conduzido de forma transparente, e que réus e o Ministério Público
puderam ter acesso simultaneamente aos autos de qualquer parte do país, porque
os documentos foram digitalizados e estavam disponíveis em rede. “Os advogados
dos réus acompanharam, desde o primeiro dia, todos os passos do andamento do
processo e puderam requerer todas as diligências e provas indispensáveis ao
exercício do direito de defesa”, anotou o presidente do STF.
O ministro acrescentou ainda que
a defesa e a acusação tiveram mais de quatro anos para levar ao STF as provas
de seu respectivo interesse. Barbosa informou que mais de 600 testemunhas foram
ouvidas e foram produzidas perícias por órgãos e entidades “situadas na esfera
de mando e influência do presidente da República”, como Banco Central, Banco do
Brasil e Polícia Federal. Ainda segundo a nota, outros órgãos produziram provas
técnicas, como a Câmara dos Deputados e o Tribunal de Contas da União (TCU).
Lula afirmou, em entrevista
divulgada neste domingo pela TV portuguesa RTP, que os ministros do Supremo tomaram
mais uma decisão política do que jurídica ao condenar 25 réus do processo do
mensalão.
“Tem uma coisa que as pessoas
precisam compreender: o povo é mais esperto do que algumas pessoas imaginam. O
mensalão, o tempo vai se encarregar de provar, que o mensalão, você teve
praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica” disse o
ex-presidente em um trecho da entrevista de quase 40 minutos.
URL: http://glo.bo/1h8hgJx
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