Nova oposição, velhos
ardis
Marco Milani*
(Texto publicado no Jornal Correio Popular - Campinas - 24/05/16 - p. A2)
Como já era esperado, desde os seus primeiros
minutos o governo Temer começou a receber os petardos ideológicos da rancorosa
artilharia vermelha. A munição é bem conhecida: críticas ardilosas objetivando estereotipar
o inimigo como uma chaga social.
Acostumados a proclamar exaltados discursos
em que se autodeclaram detentores de todas as virtudes ante a falência moral
dos adversários, a nova oposição agirá como sempre agiu. Os alvos devem ser
rotulados como fascistas, machistas, racistas, homofóbicos, golpistas,
xenófobos e qualquer outro adjetivo que os caracterizem como seres execráveis
que não podem viver em sociedade, muito menos governá-la.
Tenderão a usar seletivamente e com muito
cuidado a palavra “corrupto”, uma vez que ainda está na memória da população a
condenação de petistas envolvidos no caso do mensalão e investigados pela
Operação Lava Jato.
Paralelamente, atos espalhafatosos promovidos
pela presidente afastada ou por militantes para denunciar um suposto golpe de
estado ocorrido dentro da lei, contribuem ainda mais para invalidar os
argumentos da nova oposição, pois tenta-se desacreditar as instituições do
Estado de Direito e são, justamente, essas instituições que devem ser respeitadas
em uma democracia.
Em nota emitida recentemente pelo diretório
do PT, faz-se uma autocrítica por não se ter conseguido aparelhar as Forças
Armadas, o Ministério Público e a Polícia Federal de maneira a impedir o
afastamento de Dilma. Ora, essa nota é um exemplo nefasto de manifestação totalitária
e evidencia o objetivo revolucionário de inspiração gramsciana. Felizmente, para
a democracia, ocorreu a troca de governo a tempo de impedir que o projeto de
poder petista estivesse concluído.
Michel Temer tem pela frente grandes desafios
em praticamente todas as áreas, mas são os ajustes fiscais que deverão ser
priorizados, uma vez que é o ponto central para a recuperação econômica. Porém, que ninguém espere cortes significativos dos
gastos públicos e desvinculação de receitas em um primeiro momento.
É um processo lento, mas que a nova oposição
não tardará em cobrar a saída imediata da crise provocada pela própria gestão
Dilma. Como a recuperação econômica não ocorrerá no curto prazo diante da
dimensão do déficit fiscal herdado e do volume de desempregados existentes,
então os oportunistas acusarão o presidente interino de incompetente.
Temer, por sua vez, não pode agir com
tibieza. O recente recuo da decisão de transformar o Ministério da Cultura em
Secretaria de Estado pode indicar algumas fragilidades. Entretanto, ao contrário de Dilma com relação aos envolvidos em denúncias graves, fez bem em afastar o quanto antes Romero Jucá de seu governo. Em uma época de crise,
deve-se transmitir segurança e agir com consistência para a consecução dos
objetivos definidos. Ele não terá muito espaço para manobras conciliatórias de
interesses antagônicos.
Uma vez que se sinalize ao mercado
que haverá estabilidade e forte determinação para equilibrar as finanças
públicas, então será possível vislumbrar perspectivas mais favoráveis e atrair
novos investimentos ao país.
A maioria dos brasileiros
está unida e esperançosa nesse sentido. Os velhos ardis da nova oposição continuarão
a ser utilizados, mas não terão eficácia se as ações necessárias ao
reerguimento socioeconômico forem desenvolvidas.
* Economista.
Pós-doutor pela Universidade de Salamanca (Espanha). Professor da UNICAMP.
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