Concentração de renda no Brasil pode estar
subavaliada, diz estudo
por Renata Agostini
Ao contrário do que sinalizam os indicadores
oficiais, a redução da desigualdade pode não ter ocorrido nos últimos anos no
Brasil. E a concentração de renda no país pode ser maior do que se imaginava
até então.
É o que indica o trabalho "O topo da
distribuição de renda no Brasil" dos pesquisadores Marcelo Medeiros, Pedro
Souza e Fabio Avila Castro, da UnB (Universidade de Brasília).
Medeiros e Souza também são pesquisadores do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Segundo o estudo, os 5% mais ricos detinham cerca de
40% da renda total do país em 2006 e passaram a responder por 44% em 2012.
O maior aumento percentual ocorreu de 2006 a 2008 e,
nos anos seguintes, não houve retração na parcela da renda total detida pelo
grupo, definido pelos indivíduos com renda a partir de R$ 57,6 mil por ano em
2012.
Editoria de Arte/Folhapress
O mesmo fenômeno ocorreu no grupo do 1% mais rico
(renda a partir de R$ 552,9 mil por ano) e no segmento mais abastado da população,
do 0,1% mais rico (a partir de R$ 871,7 mil por ano). Nos dois casos, o
percentual da renda total permaneceu estável ao longo dos anos (veja quadro).
O trabalho é resultado da primeira estimativa de
concentração de renda entre os mais ricos a partir da análise das declarações
de Imposto de Renda. Os dados foram processados pela Receita Federal para
preservar o sigilo fiscal, impossibilitando a identificação individual.
Tal abordagem produziu resultados diferentes dos
apresentados na semana passada pelo IBGE, cujas informações são baseadas em
pesquisas domiciliares.
Pelo Censo 2010, os 5% mais ricos respondiam por 40%
da renda total. Pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a
fatia detida pelo grupo vinha caindo desde 2006 e fechou 2012 em 35% –abaixo
dos 44% indicados pelo estudo.
"É provável que a queda da desigualdade nesse
período, identificada nas pesquisas domiciliares, não tenha ocorrido ou tenha
sido muito inferior ao que é comumente medido", diz o estudo, publicado em
14 de agosto.
Os autores notam que as pesquisas domiciliares
"identificam melhoras na base da distribuição, mas a desigualdade total
depende também do que ocorre no topo".
A análise por meio das declarações de IR, usada há
anos no exterior, permite que os dados sejam mais precisos do que os colhidos
nas pesquisas domiciliares já que os entrevistados podem desconsiderar
rendimentos como aplicações financeiras.
Mas há também limitações. Uma minoria da população é
obrigada a fazer declaração de renda e não é possível contabilizar, por
exemplo, a renda de pessoas jurídicas. Segundo os pesquisadores, "é
possível", assim, que as estimativas da desigualdade estejam subestimadas.
Para o trio, diante dos achados da pesquisa, "o
comportamento geral da desigualdade nesse período merce ser avaliado com mais
cautela".
Fonte: Folha Online - 23/09/2014
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