Comentários sobre o livro “Por Que as Nações Fracassam:
as Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza”, de Daron Acemoglu e James
Robinson
por Marco Milani
A obra de Acemoglu e Robinson é um produto de
quinze anos de pesquisas, com uma proposta inovadora para a compreensão dos contrastes existentes entre nações ricas e pobres. Servindo-se de abrangentes
referências históricas, os autores apontam que são as características
extrativistas ou inclusivas das instituições econômicas e políticas que
determinam o desenvolvimento das nações.
Por instituições econômicas inclusivas,
entende-se aquelas que favorecem a disseminação da riqueza na sociedade,
permitindo que diferentes grupos tenham a liberdade de produzir e se beneficiar
do resultado do próprio trabalho. Nesse sentido, a garantia de cumprimento de
contratos e a propriedade privada são condições essenciais para se incentivar a
inovação e o progresso dos agentes. Comerciantes independentes e desenvolvedores
de novas tecnologias com acesso ao mercado exemplificam as oportunidades inclusivas.
Por outro lado, as instituições econômicas extrativistas objetivam a
exploração das condições existentes para o benefício exclusivo de um ou limitados
grupos dominantes, geralmente beneficiados pelo poder central. Organizações
monopolistas que possuem os fatores produtivos são,
por exemplo, extrativistas.
As características das instituições
econômicas, entretanto, estão diretamente relacionadas à natureza das
instituições políticas, que igualmente podem ser classificadas como inclusivas
ou extrativistas. Sob essa condição, o surgimento e consolidação de organizações
econômicas inclusivas baseia-se na existência de instituições políticas também inclusivas.
Seguindo a mesma linha explicativa, Acemoglu e Robinson classificam as instituições
políticas inclusivas como sendo aquelas capazes de garantir a ação legítima do
poder governante sobre toda a sociedade, mas estruturadas de maneira a haver pluralidade
representativa de diferentes segmentos sociais. O Parlamento inglês do
século XIX, por exemplo, já permitia que demandas de diferentes cidadãos pudessem
ser consideradas, não somente de um grupo em particular. A Rússia, Coreia do
Norte e Cuba, nos dias de hoje, são exemplos de países com instituições
políticas extrativistas, cujo poder decisório é concentrado em uma elite
política em detrimento da diversidade dos segmentos sociais e que constrangem a
livre manifestação de grupos antagônicos.
Neste livro, os autores contra-argumentam
hipóteses explicativas sobre as diferenças no desenvolvimento dos países, como
aquelas que atribuem o fenômeno aos aspectos culturais, climáticos e
geográficos, demonstrando que regiões fronteiriças, com a mesma cultura, clima
e geografia podem ter os processos de desenvolvimento diferenciados pela formação histórica de suas instituições. Dentre
muitos outros exemplos, os autores citam o caso de Nogales, na divisa do México
e Estados Unidos.
Acemoglu e Robinson constroem suas proposições
servindo-se dos conceitos schumpeterianos de inovação e destruição criativa,
além da dualidade econômica desenvolvida por Arthur Lewis.
Certamente, é uma leitura
obrigatória para todos aqueles que desejarem discutir, seriamente, os
contrastes políticos, sociais e econômicos enfrentados hoje, distanciando-se do
viés ideológico encontrado em autores que apenas adotam a anacrônica dicotomia ricos
contra pobres ou opressores conta oprimidos para planejar “revoluções” sociais.
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