Cuba tenta atrair investimentos capitalistas para ressucitar o "projeto socialista".
Resta saber quem confiará nesse discurso de natureza contraditória, pois sem liberdade econômica e respeito aos contratos não há prosperidade sustentável...
Confira, a seguir, a reportagem sobre o evento
Estreante
em cúpula, Cuba faz ofensiva a empresários
João Fellet - BBC Brasil
Estreante na Cúpula das Américas, Cuba está
aproveitando a sétima edição do evento, que ocorre a partir desta sexta-feira
(10) na Cidade do Panamá, para tentar atrair investimentos de grandes empresas
e promover as oportunidades econômicas que se abrem com sua reaproximação com
os Estados Unidos.
Chefiada pelo ministro cubano do Comércio Exterior e
Investimento Estrangeiro, Rodrigo Malmierca, a ofensiva tem como palco a cúpula
de empresários que antecede o encontro entre chefes de Estado, no sábado.
Em discurso a presidentes de empresas no hotel Riu
Plaza Panamá na última quinta-feira, Malmiera disse que Cuba vive uma
"nova fase" no cenário econômico mundial.
"Nesta nova etapa, ampliamos nossa visão sobre
o papel do investimento estrangeiro, reconhecendo-o como um elemento ativo e
fundamental para o crescimento de determinados setores e atividades
econômicas", afirmou o ministro.
Segundo ele, Cuba precisa de US$ 2,5 bilhões (R$ 7,7
bilhões) de investimentos estrangeiros para estimular um crescimento "que
resulte em desenvolvimento, prosperidade e sustentabilidade para o nosso
projeto socialista".
Para atrair esses recursos, ele diz que o Parlamento
cubano aprovou recentemente um novo marco regulatório "que oferece
garantias e incentivos aos investidores estrangeiros, estabelece regras claras
e maior transparência".
O ministro afirmou ainda que delegações de
empresários norte-americanos que visitaram Cuba recentemente constataram as
possibilidades criadas pela reaproximação com os Estados Unidos.
Turismo
Malmiera falou à frente de uma projeção da praça da
Catedral, uma das principais atrações turísticas de Havana. Ele apresentou o
turismo como um dos setores mais promissores da economia do país e defendeu que
os Estados Unidos ponham fim a "proibições absurdas", como a
limitação a viagens de norte-americanos a Cuba.
O governo cubano estima que, com o fim das
restrições, mais de 1 milhão de norte-americanos passem a visitar a ilha
caribenha anualmente.
Durante a fala do ministro, o salão tinha a maioria
de suas centenas de cadeiras ocupadas.
Terminado o discurso, ele recebeu aplausos discretos
e, diferentemente de outras autoridades que haviam discursado antes, deixou o
palco sem responder a perguntas.
A presença do ministro frustrou alguns empresários
presentes. Até a véspera do evento, especulava-se que o presidente Raúl Castro
pudesse falar em seu lugar.
Mesmo assim, a mensagem ressoou bem entre o público.
Para José Antonio Llorente, sócio-fundador da Llorente & Cuenca,-
consultoria de comunicação presente em 11 países e que tem entre seus clientes
Repsol e Toyota, o discurso foi "muito construtivo".
"Não foi uma fala beligerante, como estávamos
acostumados. Ele não veio aqui vender a revolução", diz Llorente.
Segundo ele, alguns de seus clientes estão muito
interessados em fazer negócios em Cuba.
"Poucos mercados no mundo são tão fechados como
Cuba, e quando uma companhia já está presente no mundo todo, essa é uma das
melhores possibilidades para crescer".
Resta saber, diz ele, se "os fatos darão
continuidade às palavras", ou seja, se Cuba de fato facilitará a vida dos
investidores.
Carlos Cerdas, presidente da construtora
costa-riquenha Meco, disse ter interesse em investir em Cuba (sua empresa já
atua na Colômbia e em boa parte da América Central), mas afirma que analisará
as novas condições oferecidas.
Ele se diz cauteloso com as regras fiscais, laborais
e para introdução de máquinas em Cuba.
Presidente do Ceal (Business Council of Latin
America, ou Conselho de Negócios da América Latina, em português), Ingo Plöger
diz que há dois setores que oferecem oportunidades mais imediatas a
investidores estrangeiros: turismo e a indústria de alimentos (Cuba importa boa
parte de sua comida).
Outra aposta cubana que pode se mostrar vantajosa a
empresários, segundo ele, é o complexo industrial do porto de Mariel. A reforma
do porto, financiada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social), foi executada pela empreiteira brasileira Odebrecht.
O Brasil, no entanto, tem tido participação discreta
na cúpula dos empresários. Poucas companhias nacionais estavam presentes
durante a fala do ministro, e apenas duas foram convidadas a integrar mesas de
debates ao longo do evento: a Odebrecht e a empresa de tecnologia Stefanini.
Oportunidades de negócios
Na manhã de quinta-feira, a delegação cubana
espalhou pelos corredores do hotel uma série de folhetos e catálogos listando
oportunidades de negócio em Cuba.
Em reunião privada após o discurso, Malmierca
entregou os catálogos a empresários norte-americanos e a representantes da
Câmara de Comércio dos Estados Unidos.
Participantes do encontro disseram que ele serviu
para que cubanos e norte-americanos trocassem informações sobre o estado das
relações entre os países, impulsionadas pelo anúncio da retomada dos laços
diplomáticos entre Havana e Washington em dezembro.
Apesar da reaproximação, o principal obstáculo entre
os dois países continua em vigor, o embargo econômico norte-americano à ilha.
O presidente dos EUA, Barack Obama, já defendeu o
fim do bloqueio, mas a medida depende do Congresso, hoje dominado pela
oposição.
Em seu discurso aos empresários, Malmierca cobrou os
legisladores norte-americanos a derrubar o bloqueio e exortou Obama a usar sua
autoridade presidencial para "modificar outros aspectos do embargo que não
requerem aprovação do Congresso".
Os temas deverão voltar a ser tratados entre cubanos
e norte-americanos até o fim da cúpula. Na noite de quinta-feira, o secretário
de Estado norte-americano, John Kerry, se encontrou com o ministro das Relações
Exteriores cubano, Bruno Rodriguez, na reunião de mais alto nível entre
representantes dos dois países em mais de meio século.
Para este sábado, está previsto um encontro entre os
líderes de Cuba e EUA --Raúl Castro e Barack Obama-- durante um intervalo das
negociações entre os presidentes dos países que participam da cúpula.
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