quarta-feira, 14 de agosto de 2024

O oportunismo político-ideológico explorando a tragédia aérea da VoePass

 


O oportunismo político-ideológico explorando a tragédia aérea da VoePass

 

Marco Milani

 

A atribuição de causas a eventos trágicos, como acidentes aéreos, muitas vezes é marcada por análises que refletem percepções ideológicas, em detrimento de uma avaliação objetiva das circunstâncias envolvidas. Recentemente, o acidente ocorrido com a companhia aérea VoePass foi alvo de uma narrativa oportunista que o relaciona à ganância que supostamente seria inerente ao sistema capitalista, argumentando-se que a busca incessante por lucro teria comprometido a segurança dos passageiros. Embora essa perspectiva possa encontrar algum respaldo em casos em que práticas empresariais irresponsáveis contribuam para falhas operacionais, é imperativo reconhecer que a ganância, enquanto expressão de uma postura moral, não é exclusiva de um sistema específico, mas sim uma característica humana que transcende fronteiras políticas, sociais e econômicas.

Uma análise histórica e comparativa dos acidentes aéreos em diferentes contextos reforça essa tese. No período da Guerra Fria e nos anos que se seguiram, países com regimes socialistas ou comunistas também testemunharam acidentes trágicos envolvendo suas companhias aéreas, cujas causas podem ser atribuídas, em parte, à ganância ou à falta de priorização da segurança. Exemplos emblemáticos incluem acidentes com a Aeroflot, a principal companhia aérea da União Soviética, como o Voo Aeroflot 217 em 1972 e o Voo Aeroflot 3352 em 1984. Esses eventos, que resultaram em centenas de mortes, ocorreram em um ambiente onde o lucro, no sentido capitalista do termo, não era o principal motor das operações. No entanto, as falhas administrativas, técnicas e, em alguns casos, a negligência das autoridades, demonstram que posturas inadequadas como a falta de responsabilidade podem manifestar-se de diversas formas, independentemente do sistema econômico vigente.

Outro exemplo relevante é o acidente envolvendo o Voo Cubana de Aviación 9646 em 1989, em que a companhia aérea estatal cubana sofreu uma catástrofe após a decolagem, resultando na morte de todos os passageiros e tripulantes, além de vítimas em solo. Novamente, embora o contexto econômico fosse socialista, a tragédia foi associada a falhas técnicas graves e à manutenção inadequada, refletindo uma preocupação insuficiente com a segurança em prol de outros objetivos, que, ainda que não ligados diretamente ao lucro, configuram uma forma de descuido que pode ser associada à ganância institucional.

Assim, supor que determinado sistema econômico, por si só, seja o culpado por tragédias como a da VoePass é uma simplificação oportunista que ignora a complexidade das questões envolvidas e a universalidade das falhas morais que podem existir em qualquer contexto humano. A verdadeira solução para evitar tais tragédias não reside na mudança de um sistema econômico para outro, uma vez que há inúmeros cenários com maior ou menor intervenção estatal no mercado e na vida das pessoas, mas no fortalecimento de valores éticos e na implementação de políticas e práticas que garantam a segurança e o bem-estar como prioridades efetivas. Somente por meio do aprimoramento moral do indivíduo pautado pela liberdade e valorização da vida humana acima de outros interesses, será possível mitigar a influência da ganância em qualquer contexto econômico ou político.


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