(Texto publicado no jornal Correio Popular - Campinas, 2/10/15, p. A2)
Oswaldo Cruz e o mercado
Marco
Milani*
No
início do século passado, o médico sanitarista Oswaldo Cruz promoveu uma
campanha de caça aos ratos objetivando a erradicação da peste bubônica na
cidade do Rio de Janeiro. Os cidadãos que capturassem e entregassem os animais
seriam recompensados financeiramente. Não tardou para que alguns identificassem
uma nova oportunidade de negócios e passassem a criar ratos para vendê-los ao
Governo. A criação foi considerada ilegal e seus responsáveis foram presos.
A
intenção de Oswaldo Cruz era a de dizimar os ratos por motivos de saúde
pública, porém, ao remunerar a caçada, incentivos não previstos agiram no
sentido contrário e estimularam a procriação dos roedores.
Uma
grande lição econômica exemplificada nesse episódio no Rio de Janeiro é que não
se pode prever e determinar o comportamento do ser humano, o qual é criativo e tem
interesses variados. Apesar de quase evidente, esse aspecto da
imprevisibilidade é recorrentemente ignorado por governantes com viés
intervencionista, os quais sucumbem à tentação de interferir artificialmente no
funcionamento do chamado “mercado”.
Ora,
mercado é justamente o ambiente no qual os indivíduos manifestam voluntariamente
seus interesses e expectativas para a oferecimento e aquisição de produtos. É
no mercado que os agentes econômicos, que em última instância são os
indivíduos, interagem. Quanto mais o Governo intervir e regular o seu
funcionamento, maiores as possibilidades de interações ineficientes e
ineficazes, impactando negativamente toda a economia.
Lamentavelmente,
o descaso com os fundamentos econômicos baseados na livre iniciativa e nas
condições para o aumento de produtividade e competividade, além da crença distorcida
de que o Governo deveria determinar quais setores e grupos de pessoas seriam
privilegiados para estimular o desenvolvimento econômico, contribuíram para a
situação em que nos encontramos hoje.
Após
mais de uma década de equivocadas políticas econômicas que corroeram a base de
desenvolvimento deste País, os pífios resultados colhidos não surpreendem. Sob
a orientação ideológica que prezou mais o discurso ilusório do que os fatos, o
Brasil perdeu o bonde da história e agora enfrenta sérias dificuldades para
adotar medidas emergenciais para a recuperação econômica.
As
vantagens artificiais oferecidas pelo Governo a alguns empresários, em
detrimento dos demais, foram feitas com a esperança de que determinados setores
liderassem o processo desenvolvimentista. Os fatos desmascararam essa pretensão
irreal. Igualmente, financiamentos subsidiados a governos estrangeiros com a
justificativa de que isso favoreceria empresas brasileiras é outra tentativa de
subverter a lógica do mercado. Deve ser a competitividade a guiar a escolha de
contratos e não interesses questionáveis.
Que
os formuladores de políticas se lembrem que os agentes econômicos reagem a
incentivos e oportunidades e que o livre mercado tem muito mais a contribuir
para o desenvolvimento econômico do que governantes intervencionistas conseguem
prever.
O
Brasil precisa de um Estado menor, menos inchado e com governantes que defendam
a livre iniciativa com base na inovação e competitividade.
* Economista.
Pós-doutor pela Universidade de Salamanca (Espanha). Professor da Unicamp.
Nenhum comentário:
Postar um comentário