Progressismo ilusório
Em um contexto efetivamente progressista, o
movimento dialético sinaliza para o constante aprimoramento das ideias e das
relações humanas diante de contradições e divergências existentes, reforçando o
que deu certo e revendo o que não foi satisfatório ou aquilo que pode e deve ser
melhorado. Trata-se de dinamismo natural de diferentes aspectos da vida em
sociedade e contribui para o avanço e aplicação do conhecimento acumulado e
inovações.
Nesse sentido, o verdadeiro progressismo abraça e respeita
diferentes ideias e cosmovisões, de maneira a promover um diálogo necessário e
tolerante, para se identificar os pontos antagônicos e semelhantes que
resultariam em uma síntese temporária para servir de referência a novos aperfeiçoamentos
diante dos fatos e da razão.
Uma característica fundamental desse processo é a preservação
do que se mostra válido e útil sem buscar-se o seu desvirtuamento, ou seja, não
se objetiva destruir o que já foi conquistado fruto desse mesmo movimento evolutivo,
mas busca-se novos aprimoramentos diante do aumento do conhecimento sobre a realidade
sem prejuízo à situação geral. Progresso, portanto, não implica destruição ou
substituição integral do passado.
Sob a perspectiva hegeliana, o saudável embate de
ideias fomenta a dialogicidade entre todas as partes, portanto, qualquer um que
se colocar a favor do aprimoramento do conhecimento e das relações humanas, independentemente
de preferências e rótulos políticos, é progressista.
Ardilosamente, entretanto, o termo foi capturado por
estrategistas para designar, exclusivamente, determinado segmento político-ideológico
e estigmatizar todos os adversários como contrários ao progresso. Dessa
maneira, procurou-se ressignificar o termo progressista ao vinculá-lo a uma
agenda ideológica que separa o mundo, sob uma ótica maniqueísta, entre bons e
maus, oprimidos e opressores, humanistas e misantropos, caridosos e egoístas.
Assim, ao descaracterizar o seu significado original
e subverter a abrangência de seu sentido, tenta-se monopolizar as virtudes e
demonizar ideias antagônicas, contrariando a essência do processo dialético.
Igualmente à subversão semântica, termos
tradicionalmente presentes e relevantes na história política ocidental, como
liberal e conservador, passaram a ser maliciosamente utilizados pelos novos “progressistas”
como sinônimos de ganância, atraso e imobilismo. Com esses novos significados, justificar-se-iam
ações violentas e regimes totalitários para livrar a sociedade da presença desses
seres moralmente desprezíveis. Essa atitude expressa a contradição daqueles que
se afirmam democráticos e tolerantes, mas não suportam o diferente.
Os fatos, entretanto, desmentem as narrativas
criadas para iludir e vilipendiar a população em geral sobre o que realmente
favorece as relações humanas e o progresso econômico. Países compatíveis com essa
ressignificação não costumam apresentar os resultados prometidos. Que o digam
os regimes “progressistas” de Cuba, Coreia do Norte e Venezuela.
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